As escolas municipais de Contagem, na Grande BH, estão entregues à própria sorte. Somente no fim de semana, quatro unidades foram arrombadas, uma delas teve a biblioteca incendiada e tentaram colocar fogo em outra. Em março, a prefeitura não renovou o contrato com uma empresa de vigilância e câmeras e alarmes foram recolhidos de 81 escolas de ensino fundamental, 27 centros municipais de educação infantil (Cemeis) e de 11 educartes, espaços para a prática de esportes. Desse total, apenas três têm vigias noturnos e nos fins de semana.
Ontem, a Escola Municipal Professor Ricardo Braz Gomes Barreto, no Bairro Perobas, a mais prejudicada no fim de semana, passou a contar com dois guardas municipais à noite e nos fins de semana. A Escola Municipal Walter Lopes, no Bairro Alvorada, e os Cemeis dos bairros Campo Alto e Perobas também foram atacados. As aulas foram suspensas até amanhã nas unidades invadidas.
Ontem, o dia foi de limpeza. A Escola Professor Ricardo Braz Gomes Barreto convocou professores e outros funcionários para um mutirão. Uma empreiteira foi acionada para retirar o que sobrou de livros e móveis. Mais de 5 mil obras viraram cinzas.
A diretora da Escola Ricardo Braz Gomes Barreto, Soraya Aparecida Ferreira Silva, disse que vai relacionar o acervo destruído na biblioteca e fazer uma campanha para adquirir outros exemplares. “Temos a hora da leitura, e todo os livros separados para os trabalhos da Semana da Consciência Negra foram destruídos”, lamentou a diretora. Os ladrões levaram também R$ 500 que estavam trancados no armário dela, uma máquina fotográfica digital e um projetor de imagens. O computador da biblioteca também foi queimado, o freezer da cozinha foi arrombado e levaram alimentos. “Fora isso, a dor, o sentimento, o choro”, lamentou a diretora, emocionada.
A professora Sayonara Lacorte, de 39, não conseguiu conter as lágrimas. “A sensação é de indignação e dor. A gente pertence a este espaço e se sente violada. Se pelo menos tivessem roubado os livros, seria menos doloroso do que queimá-los”, lamentou.
Segundo a subsede do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Contagem (Sind-UTE), os arrombamentos de escolas em Contagem praticamente dobraram em relação ao ano passado. “A média é de quatro escolas invadidas por mês, fora os casos de violência física e verbal nas unidades de ensino, que aumentaram demais”, disse a diretora Patrícia Pereira. “São duas razões para esses problemas. O primeiro foi a retirada do monitoramento eletrônico. A outra razão é que Contagem não tem um plano de combate e prevenção da violência nas escolas. Os trabalhadores e estudantes estão entregues à própria sorte”, denuncia Patrícia.
Invasões
O Cemei Perobas também foi invadido no fim de semana. Ele já foi arrombada oito vezes, segundo a diretora, Renata Castro, e desde fevereiro o espaço vinha sendo reformado. As aulas haviam sido tranferidas para o prédio da escola vizinha. O Cemei Perobas foi reinaugurado sexta-feira e ontem seria o primeiro dia de aula das crianças no espaço novo. “Colocaram duas mesas, uma sobre a outra, quebraram o vidro e entraram pelo basculante do banheiro”, lamentou a diretora. Ao todo, entraram em sete salas. Revoltados, a diretora, professores e funcionários do Cemei Perobas farão protesto às 9h de hoje na Câmara Municipal de Contagem, pedindo mais segurança para o local de trabalho.
Na Escola Municipal Walter Lopes, no Bairro Alvorada, vândalos colocaram fogo em um mural na parede e em um banheiro, mas o fogo não se alastrou. Eles arrombaram a lanchonete e levaram alimentos. A vice-diretora Sandra Nara Faria Andrade Garzon reclama que a frente da escola não tem muro, apenas telas de arame, que estão danificadas. “Este foi o terceiro arrombamento este ano: janeiro, junho e agora. No fim do ano passado, foram dois, em novembro e dezembro”, reclama a diretora, Denise Silva. No Cemei do Bairro Campo Alto, portas de aço foram arrombadas. O lugar já foi invadido várias vezes e a diretoria não quis falar sobre o assunto.
VIGILÂNCIA
A secretária municipal de Educação de Contagem, Ana Prestes, disse que em março não foi renovado o contrato com uma empresa de vigilância eletrônica para aquisição de equipamentos mais modernos. “Estamos terminando a licitação. Será um investimento de R$ 7 milhões e várias etapas da licitação já foram cumpridas”, explicou. Segundo ela, até o início de dezembro os equipamentos começam a ser instalados.
Ana Prestes disse que a vigilância física é apenas durante o dia. “Não temos vigias noturnos. Só em áreas mais complicadas das escolas colocamos uma dupla de vigias 24 horas por dia. Não temos como colocar vigilantes em todas as escolas, por questão orçamentária”, disse a secretária, que aposta no novo sistema eletrônico e no apoio da Guarda Municipal para inibir ataques. “Apenas quatro escolas têm vigilância noturna”, disse Ana Prestes. Sobre a Escola Walter Lopes, ela salientou que há projeto de construção de um muro, mas depende de licitação por parte da Secretaria Municipal de Obras.
COMO AJUDAR
A Escola Municipal Professor Ricardo Braz Gomes Barreto, no Bairro Perobas, que teve a biblioteca incendiada por vândalos, está fazendo uma campanha para repor os exemplares destruídos. A escola depende dos livros principalmente para a educação infantil. Doações podem ser feitas pelo telefone (31) 3911-9466. Falar com Alessandra.