Que lugares favoritos do escritor Fernando Sabino estão preservados em Belo Horizonte, onde ele nasceu em 1923 e morou até 1944? Para lembrar o 90º aniversário do escritor mineiro, o Estado de Minas fez um roteiro afetivo por alguns locais citados por ele e constatou que uns desapareceram e outros mantêm o encanto da época em que Sabino era jovem. A base para esse itinerário saudosista é a crônica "BH – ontem, hoje e sempre", do escritor, publicada em 24 de dezembro de 2001 no caderno de Cultura do EM. Foi acrescentada uma incursão ao Viaduto Santa Tereza, uma homenagem ao trecho de O encontro marcado, seu livro mais importante, no qual os personagens Eduardo Marciano, Hugo e Mauro, embriagados, sobem nos arcos do elevado famoso.
Na crônica, Sabino começa dizendo: "Precisava fazer com urgência uma cirurgia plástica na minha saudade". E, se referindo ao cirurgião mineiro Ivo Pitanguy, conta que o amigo em breve iria dividir com ele uma conversa nostálgica. Seguindo a ordem cronológica do texto, a primeira parada da reportagem é na Praça da Liberdade, citada por Sabino como lugar para footing e namoros. Para quem não sabe, no footing, comum até o fim dos anos 1960, os rapazes ficavam parados numa praça ou numa avenida, enquanto as moças, tímidas e normalmente em grupos de três ou quatro, passeavam lentamente, trocando olhares significativos. Muitos namoros e casamentos resultaram dessa prática.
Hoje, ninguém mais faz footing, muito menos os namorados Thiago Gonçalves, de 17 anos, e Camila Marques, de 16, sentados em um banco bem perto do coreto. Mas, numa coincidência que desafia o tempo, Thiago conta que eles se conheceram na Praça da Liberdade, como Sabino conheceu algumas namoradas. Só que o encontro do casal ocorreu em um flash mob da campanha dos Abraços Grátis, convocada pelas redes sociais, na qual desconhecidos se encontram num local público para trocar abraços. O namoro começou logo depois, há dois meses. Thiago e Camila, simpáticos, dizem que namorar na praça se tornou um hábito para eles, que vão lá sempre que possível. "Aqui é muito bonito, tranquilo", afirma Thiago. A fala e as cenas carinhosas do casal fazem jus ao que o escritor escreveu na crônica ao falar sobre a praça: "O coreto em frente ao lago, os jardins ainda mais belos... Reconheço até mesmo o desvão entre roseiras em flor, onde ousei colher o primeiro beijo de uma namoradinha".
MINAS TÊNIS Mais à frente, outra lembrança de Sabino preservada. Na Rua da Bahia, a sede social do Minas Tênis Clube, pelo qual o escritor disputou competições de natação, se mantém como foi construída entre as décadas de 1930 e 1940. Já o parque aquático foi modernizado e ampliado. O complexo, uma grande arena multiuso, é totalmente diferente do terreno arborizado da época de atleta do escritor.
Na Avenida João Pinheiro, 450, o imóvel tombado da Escola Estadual Affonso Penna preserva todas as características da década de 1930, quando Sabino foi matriculado no primário pelos pais. No portão gradeado, o nome da escola é a prova inconteste de que quase nada mudou: Grupo Affonso Penna, mantendo-se a grafia do português da época. É o próprio escritor quem confirma que sua escola primária mantém até a cor original: "O mesmo prédio cor-de-rosa ao redor do pátio – nós, os meninos, brincando na hora do recreio", recorda, com poesia, em sua crônica.