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Estado de Minas

Belo Horizonte está presente nos textos do 'menino Fernando Sabino'

Escritor sempre manifestou seu amor por BH, onde nasceu e viveu até os 21 anos


postado em 12/10/2013 06:00 / atualizado em 12/10/2013 07:29

A cidade, com a Afonso Pena arborizada na década de 1940, é lembrada por Sabino no livro O menino no espelho, que conta histórias de sua infância(foto: Arquivo EM/D.A Press/1940)
A cidade, com a Afonso Pena arborizada na década de 1940, é lembrada por Sabino no livro O menino no espelho, que conta histórias de sua infância (foto: Arquivo EM/D.A Press/1940)

O amor de Fernando Sabino (1923-2004) por Belo Horizonte é quase onipresente em suas crônicas, contos e romances. Mestre na arte de prosear com o leitor, como se tudo não passasse de uma conversa coloquial entre amigos, parentes que não se veem há muito tempo ou companheiros de trabalho reunidos numa confraternização, o autor de "O encontro marcado", "O grande mentecapto" e "O menino no espelho" nunca se cansou de declarar seu carinho por Minas e, especialmente, BH.

Sabino morou na cidade até os 21 anos, em 1944, quando se mudou para o Rio de Janeiro. O período coincide com um dos momentos de maior transformação da capital mineira, então jovem cidade inaugurada em 1897. Para estudiosos e historiadores, essa pode ser considerada a época áurea de BH, que deu início a um processo de modernização e crescimento sem perder as características de lugar tranquilo e agradável aos moradores e visitantes.

Fernando Sabino nasceu apenas três anos depois da primeira grande alteração na paisagem da capital, a remodelação da Praça da Liberdade, que ganhou as características que mantém até hoje, e a inauguração da Estação Ferroviária, na Praça Rui Barbosa. Tudo isso foi feito para a recepção dos reis da Bélgica, que visitaram BH em outubro de 1920, em cerimônia pública que se transformou em marco da história da cidade.

O historiador Yuri Mello Mesquita, diretor do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, destaca que a visita do casal real coincide com outras mudanças na capital, como a construção da Praça Sete, como parte das comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922, e que a partir daí a fisionomia de BH se modificou rapidamente.

Pode-se dizer que o escritor e a cidade cresceram em sintonia. Em 1932, por exemplo, quando Fernando Sabino tinha 9 anos e estudava no Grupo Affonso Penna, na Avenida João Pinheiro, a poucos quarteirões dali, na Praça Sete, operários concluíam as obras do Cine Theatro Brasil, construído para ser o maior e mais luxuoso cinema e teatro de BH. Na Avenida Augusto de Lima, a população podia se abastecer com verduras, legumes e outros alimentos vendidos no Mercado Central, inaugurado em 1929.

"É o período de construção dos edifícios mais altos e também de uma grande efervescência cultural, com o surgimento de jornais e de revistas", lembra Yuri Mello, que também destaca a primeira geração de escritores e intelectuais da capital, como Carlos Drummond de Andrade, Abgar Renault, Pedro Nava, Milton Campos, Elmiro Braga e Cyro dos Anjos. O Bar do Ponto e o Trianon, na Rua da Bahia, eram locais de encontro desses autores, que tiveram seus passos seguidos por Sabino quando era aluno da Faculdade de Direito da UFMG, na Praça Afonso Arinos. A fim de manter contato com eles, o jovem acadêmico frequentava os mesmos lugares.

(foto: Divulgação)
(foto: Divulgação)
CINEMAS E ART DéCo Ansiosa por lazer e cultura, a população de BH era ávida consumidora de filmes, fazendo com que o número de salas se ampliasse rapidamente. Entre os novos espaços de exibição estava o Cine Pathé, na Savassi, frequentado por Sabino. A construção de cinemas, teatros e prédios públicos atraiu o interesse do arquiteto italiano Raffaello Berti, um mestre da art-decó, que chegou à capital em 1929. Entre os muitos prédios projetados por ele estão o Cine Metrópole, a sede da prefeitura, o Minas Tênis Clube, na Rua da Bahia (Sabino, nadador, competiu lá) e o Palácio Cristo-Rei.

A cidade ampliava seus domínios além da Avenida do Contorno com a criação de bairros mais afastados da área central, fruto do crescimento populacional. O historiador Yuri Mello Mesquita aponta como uma das causas desse crescimento demográfico o crack da Bolsa de Nova York, em 1929. "Pode parecer curioso, mas a crise de 29 afetou muitos produtores rurais de Minas Gerais, que acabaram deixando o interior e se transferindo para a capital em busca de trabalho".

Veja aqui o roteiro de Fernando Sabino em BH
Veja aqui o roteiro de Fernando Sabino em BH
O número de carros aumentava, mas a Avenida Afonso Pena, totalmente arborizada e com pistas de rolamento mais estreitas que as atuais, suportava bem o fluxo. Os bondes eram a solução do transporte público e fotos da época revelam aglomeração de pessoas nos pontos, principalmente no fim do expediente, uma prévia das grandes filas e problemas que surgiriam a partir dos anos 1970.

Em 1941, quando Fernando Sabino completou 18 anos e Juscelino Kubitschek era prefeito de BH, o escritor e a cidade se preparavam para mudanças radicais em seus destinos. Sabino publicou seu primeiro livro de contos Os grilos não cantam mais. Aluno da Faculdade de Direito da UFMG, ele sentia que era hora de mudar de ares, e três anos depois trocaria BH pelo Rio de Janeiro.

Já a capital, sob a administração JK, passava por um radical processo de transformação, simbolizado pelo complexo arquitetônico da Pampulha, que reuniu os gênios de Oscar Niemeyer, Burle Marx e Candido Portinari. Inaugurados em 1943, a Casa do Baile, o Museu de Arte da Pampulha e a Igreja de São Francisco de Assis contribuíram para tornar BH conhecida internacionalmente.


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