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Estado de Minas

Aposentada busca cão desaparecido; procura ganha até campanha na internet

Há 532 dias, aposentada busca o seu cão, que desapareceu em abril de 2012 no Bairro Lagoinha. História de luta rendeu até campanha na internet para encontrar o animal


postado em 07/10/2013 06:00 / atualizado em 07/10/2013 07:18

Jefferson da Fonseca Coutinho

Maria de Lourdes Goulart espera dia após dia por vira-lata, que é surdo(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Maria de Lourdes Goulart espera dia após dia por vira-lata, que é surdo (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
 

Era para ser uma reportagem sobre mais uma homenagem a São Francisco de Assis, o santo da natureza, em manhã de bênçãos, desfile e feira de adoção de animais. Não fosse uma mulher de olhos sem graça, solitária, a percorrer canteiro por canteiro da Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de Belo Horizonte, em busca desesperada por Valério, o cão vira-lata, surdo, desaparecido desde as 8h30 de 22 de abril de 2012. “Para muitos, apenas um cão. Para mim, um filho”, emociona-se Maria de Lourdes Goulart, de 57 anos, ao repetir a frase espalhada pelos quatro cantos da cidade, na busca incessante desde a manhã acinzentada daquele outono.

São 532 dias sem perder a esperança. De feira em feira, de protetor em protetor de todas as organizações não governamentais atentas aos bichos em apuros da cidade, Maria de Lourdes sonha reaver Valério. “Com todas as maldades contra os animais que a gente fica sabendo, não passo um só dia, uma só noite sem pensar que ele pode estar em dificuldades”. O desaparecimento de Valério foi “descuido de minuto”, numa fresta no portão de aço estragado da Rua Machado de Assis, no Bairro Lagoinha, na Região Noroeste.

“Foi domingo. Sei até a hora. No sábado, ele passou o dia ainda mais carinhoso, grudado em mim, como se quisesse se despedir”, suspira. Maria diz ter passado os dias seguintes percorrendo canto por canto da região, batendo de casa em casa. “Disseram-me que ele tinha sido visto na Pedreira Prado Lopes. Passei dias andando de beco em beco. Fiz cartazes e faixas e coloquei na região. Nada”, lamenta.

A aposentada também iniciou uma campanha pela internet, nas redes sociais e blogs de proteção. O e-mail para notícias – valeriodevolta@bol.com – foi replicado no Facebook por amigos e amigos dos amigos que se solidarizaram com a causa de Maria. No rastro de Valério, três novos companheiros resgatados, que passavam por situação de risco: Preto, Tilza e Suzana. Todos sem raça definida (SRD).


A dona de casa diz ser só amor por Valério. “Tem gente que pode não entender. Mas é amor. Como o que temos por nossos filhos. Valério é um filho muito querido, que veio ao mundo numa condição muito especial”, considera. O pequeno vira-lata, branco e peludo, um “falso bordee collie”, com pequenas manchinhas pretas, nasceu em 2008. Filho da velha cadela SRD Teia e do border Collie Pitt. Os olhos tristes, esvaziados de Maria de Lourdes se reacendem para falar do dia em que Valério veio ao mundo.

BEGÔNIAS

“Teia era muito velha. Um dia, ela, sempre muito esfomeada, não apareceu na hora da comida. Fui vê-la e ela estava deitada com um bichinho branco debaixo dela. Pensei: ‘Engraçado… um ratinho e a Teia não reage. Não faz nada…’. Aí, fui ver e era o Valério, miudinho, lindo que só vendo”, sorri. A aposentada diz que nem podia imaginar que a cadela querida, companheira de perder a conta em anos, ainda podia ser mãe. Daí, de acordo com Maria, a deficiência auditiva de Valério.

Em casa, no muro de chapisco, a cor mais clara do cimento indica o lugar do portão por onde fugiu Valério. A dona de casa decidiu acabar com o portão menor, de entrada, para ficar apenas com a garagem, tamanho dissabor com a passagem. “Não vou nem chamar vocês para entrar. Por causa da depressão, não estou dando conta de arrumar a casa”, desculpa-se. Na varandinha em obras, alegres são as begônias coloridas em vida. Do lado de dentro, muito bem guardados, os outros “filhos” de Maria.


Cães viraram modelos e se consagraram na Cãoçada da Fama, na Praça Floriano Peixoto(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Cães viraram modelos e se consagraram na Cãoçada da Fama, na Praça Floriano Peixoto (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Encontro com bênção e desfile


O Primeiro Encontro dos Bichos, promovido pelas ONGs SOS Bichos, Bichos de Companhia e Senhorita Camaleão, em parceria com o Núcleo Fauna de Defesa Animal, reuniu dezenas de ativistas e simpatizantes da causa animal na Praça Floriano Peixoto, no Santa Efigênia, Região Leste de BH. Lídia Abritta, de 65 anos, levou a chitzu Lulu, adotada em 2010, para receber a bênção de frei Antônio Rodrigues, o Frei Toninho, de 66.

“Lulu foi encontrada na rua, às 23h, no Bairro São Lucas. Fiz de tudo para localizar o dono. Coloquei anúncio no comércio da região. Até que um taxista me disse que sabia quem era o dono, mas ele não quis ficar com ela. Acho que porque ela era muito levada”, conta Lídia, feliz com a “melhor amiga” no colo. A professora lamenta que histórias de insensibilidade e abandono se repitam com tanta frequência.

Para Frei Toninho, da Comunidade São Francisco de Assis, do Bairro Coqueiros, na Região Noroeste, o abandono é um dos piores maus-tratos. A grande maioria dos bichinhos resgatados já teve uma casa em outros tempos. De acordo com o franciscano, o homem precisa aprender a tratar os animais. “Só assim vai poder viver em paz e harmonia consigo mesmo e com a natureza”, defende.

TOP MODELS Arena de contrastes, enquanto os vira-latas sofridos Ringo, Pitty, Leôncio, Conselheiro, Brad e Layca, entre outros, desfilam à espera de um lar amigo, sem maus- tratos, entre os canteiros floridos da praça uma família oferece filhotinhos dos mais lindos e bem cuidados das raças lulu da pomerânia e chitzu. Por R$ 500 o mimo. Perto dali, adultos e crianças aplaudem a farra dos bichos no desfile da Cãoçada da Fama.

Adoção responsável

Carla Roberta Magnani, de 46, presidente da SOS Bichos, em campanha pela identificação nas coleiras, comemora o sucesso do encontro, que, além da conscientização de respeito e carinho com os bichos, tem como objetivo chamar a atenção para a importância da adoção responsável. “São muitos os animais que estão precisando de um novo lar. Adotar é trazer a alegria de um amor incondicional para dentro de casa”, ressalta.


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