Tiago de Holanda
Mais 250 cubanos participantes da segunda etapa do Mais médicos desembarcaram na manhã de ontem no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH. Eles e os 200 que chegaram na quinta-feira participarão do curso de avaliação e acolhimento na unidade do Sesc da Região de Venda Nova, onde estão hospedados. O Ministério da Saúde ainda não definiu os estados onde trabalharão.
Enquanto isso, o Conselho Regional de Medicina de Minas (CRM-MG) concedeu, até sexta-feira, 28 registros provisórios a profissionais com diploma estrangeiro selecionados na primeira etapa do Mais médicos. Um deles é o da médica cubana Lídia Rosa Podadera Valdes, que vai trabalhar em Mário Campos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo a Secretaria de Saúde do município, hoje os funcionários da pasta vão entrar em contato com o CRM para conseguir o número do registro, que ainda não chegou, e é requisito para que ela possa começar a atender na cidade. O Ministério da Saúde protocolou, no total, 42 pedidos de registro para profissionais com formação estrangeira atuarem em Minas na primeira fase do programa federal.
“Nós venimos a trabalhar por melhorias na saúde do povo brasileiro”, afirmou Dámaso Diaz Mató, com discurso bastante repetido pelos caribenhos e, como muitos colegas, misturando palavras em espanhol e português. “Nós compartimos o que temos, não o que nos sobra. Queremos que todos os povos gozem o bem-estar da saúde, não apenas grupos privilegiados”, disse.
Aos 46 anos, graduado há 21, Dámaso contou que já participou de outras duas missões, por dois anos no Haiti e cinco anos e meio na Venezuela. Não acredita que, no Brasil, a língua portuguesa possa atrapalhar seu trabalho. “Eu não falo bem, falo mais portunhol que português. Aprenderemos com o tempo. No Haiti, onde se fala crioulo, o idioma não foi uma barreira”, disse ele, especialista em medicina geral integral.
Dámaso não acredita que os participantes do Mais médicos devessem revalidar o diploma, como reivindicavam entidades médicas brasileiras, como o Conselho Federal de Medicina (CFM). “Somos profissionais experientes. Revalidar não é necessário”, alegou.
O colega José Manuel Perez, de 40, se graduou há seis. “Em primeiro lugar, o que nos traz aqui é a solidariedade. Queremos ajudar o povo brasileiro a melhorar o sistema de saúde”, disse ele, que já participou de uma missão na Venezuela. “Estamos bem preparados. Entendo bem o português, mas tenho dificuldade para falar. Espero que isso não seja um problema em meu trabalho”, acrescentou.
RECEPÇÃO Além de recebidos por funcionários do ministério, os cubanos foram recepcionados por 15 pessoas, que tinham bandeiras de Cuba e outras com o rosto de Che Guevara. O grupo pretendia distribuir 250 pãezinhos de queijo, um para cada médico. Acompanhado da esposa, Marcelo Figueiredo, de 57, usava uma boina verde-oliva com a face de Che, mesma ilustração de uma tatuagem no braço esquerdo. “Acredito que eles estão preparados para atender nossa população”, disse ele, detetive da Polícia Civil.
Bruno Pedralva, de 29, trabalha como médico de saúde da família em um centro de saúde no Barreiro. Ele tocou violão enquanto a turma cantava clássicos do cancioneiro da ilha caribenha, como Guantanamera. “No meu trabalho, noto a falta de médicos. Queremos mostrar que o povo brasileiro apoia a vinda deles”, afirmou ele, que é diretor do Sindicato dos Servidores Públicos de BH (Sindibel).
Seis ônibus levaram os cubanos até o Sesc Venda Nova, onde o curso de acolhimento e avaliação começará amanhã, durará três semanas e se concluirá no dia 25, informa o Ministério da Saúde. Entre os dias 28 deste mês e 1° de novembro, haverá uma semana de acolhimento. A partir de 4 de novembro os caribenhos começarão a se apresentar aos municípios em que trabalharão. Embora eles estejam liberados para passear pela cidade, ficam o tempo todo no Sesc, onde, como qualquer hóspede, podem desfrutar de piscina, duchas e outras opções de lazer.
Enquanto isso...
... AUDIÊNCIA NO SUPREMO
Nos dias 25 e 26 de novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) realizará audiência pública sobre o programa Mais médicos. A audiência foi designada pelo ministro Marco Aurélio, relator das ações diretas de Inconstitucionalidade 5.035 e 5.037, relativas ao assunto. Segundo o ministro, a participação de pessoas com experiência nos temas envolvidos é importante, tendo em vista a relevância da questão. As ações foram apresentadas pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Universitários Regulamentados.
Médicos de MG não devem parar
Apesar de a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) ter escolhido 8 de outubro como o dia nacional da paralisação dos profissionais da categoria em protesto ao programa do governo federal Mais médicos, não haverá interrupção das atividades da classe em Minas Gerais. A informação é do sindicato dos médicos do estado, que garantiu, por meio de sua assessoria de imprensa, que não há tempo hábil para mobilizar hospitais e unidades de saúde, o que poderia prejudicar bastante a população. O sindicato afirmou que vai participar do protesto, porém, de outra forma. As ações desenvolvidas serão definidas em uma reunião da diretoria que ocorre hoje.