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Estado de Minas

MP dá suporte a dependentes do crack que foram acompanhados pelo Estado de Minas

Depois de série de reportagens, promotor de Defesa da Saúde anuncia que fará contato com personagens acompanhados durante seis meses pela equipe do EM, para oferecer assistência


postado em 15/08/2013 06:00 / atualizado em 15/08/2013 07:02


O Ministério Público de Belo Horizonte começa hoje a contatar os usuários de crack que tiveram suas histórias de luta contra o vício publicadas na série de reportagens do Estado de Minas “O crack como ele é”, encerrada ontem. O promotor de Justiça de Defesa da Saúde de Belo Horizonte, Bruno Alexander Vieira Soares, pretende acompanhar caso a caso as vítimas da dependência química, se possível com a ajuda de familiares. “Posso providenciar o que é mais indicado a cada um, dependendo do laudo da equipe de psicólogos, psiquiatra e assistente social. Ninguém sai daqui sem ajuda”, garante Soares, que já acumula em torno de 1 mil procedimentos envolvendo pacientes com transtorno mental e dependência na capital.

Para os usuários do crack jogados nas ruas, mostrados no primeiro dia da série, descrito como “Trevas”, as medidas podem variar entre internação, atendimento ambulatorial e assinatura de um termo de ajustamento de conduta (TAC) pelo paciente, comprometendo-se a seguir o tratamento. No caso daqueles que estão batalhando nas idas e vindas do processo de recuperação, mostrados nas reportagens do segundo dia da série (“Sombras”), o MP poderá fazer o encaminhamento para terapia com psicólogos e atendimento de psiquiatra, além de oferecer apoio aos familiares em relação ao usuário de crack. “Muitas vezes, a família chega aqui exigindo a internação compulsória do paciente, sendo que ela é a causa de ele buscar o vício”, alerta o representante do MP.

As reações às histórias retratadas pelo EM, após seis meses de acompanhamento dos personagens, não se restringiram a autoridades. “Obrigada pela publicação da série, que me faz entender melhor a doença e me dá mais paciência com meu filho, que está na caminhada”, comenta a funcionária pública F., mãe de um jovem professor de português que caiu na armadilha do crack. Ela pede para preservar a própria identidade e a do filho. “Ele não pode ser identificado, porque o preconceito existe. Meu coração dói muito, tenho medos demais, mas estou aprendendo, como ele, a viver um dia de cada vez”, revela a mãe, angustiada, que firmou este ano um TAC com o filho, intermediado pelo promotor Bruno Soares.

Ela conta que o rapaz tem ido a sessões em centros espíritas, terapia e semanalmente aos Alcoólicos Anônimos (AA), além de tomar medicação controlada e de ter voltado a trabalhar na semana passada. Ele também não fica com dinheiro, nem cartões e o que ganha vai ser usado para pagar as dívidas que fez no período. “Agora, só falta quitar um cartão”, conta a mãe, que tirou férias-prêmio para acompanhar o filho em todos os passos.

Para aqueles que já estão “limpos”, descritos no terceiro dia da série (“Luz”), outra medida possível é a reinserção no mercado de trabalho, uma das maiores barreiras vividas pelos ex-dependentes químicos de crack. “A grande dificuldade é o empregador confiar na pessoa que está em tratamento de dependência química”, afirma o médico psiquiatra e homeopata Aloísio Andrade. “Conviver com esse seguimento social nos leva a perceber nitidamente quão profunda pode ser a degradação do ser humano”, afirma o especialista no atendimento a dependentes. “Quero parabenizá-los pela coragem e ousadia de realizar observação prolongada do cotidiano dos usuários. Fica clara a necessidade de ferramentas sociais de proteção e apoio, que precisam ir além da boa vontade, das boas intenções e dos discursos decorados”, afirma.

O pastor Wellington Vieira, fundador do Centro de Recuperação para Dependentes Químicos (Credeq) e presidente da Federação das Comunidades Terapêuticas Evangélicas do Brasil (Feteb), afirma que, em 23 anos de trabalho na área, foi a primeira vez que viu espaço aberto para mostrar a verdadeira realidade dos dependentes de crack e a transformação que a droga provoca nas famílias. “São dramas que as comunidades terapêuticas vivenciam no dia a dia e dos quais ninguém ficava sabendo. O pior é saber que poderíamos ajudar mais usuários, se houvesse uma lei que regulamentasse o repasse financeiro para as entidades. A gente perde tempo demais com o pires na mão, implorando ajuda dos governos”, desabafa.

Para o agente social Almir Alves dos Santos, de 33 anos, ex-usuário de crack por cinco anos e que está “limpo” há dois anos, sete meses e 23 dias, a série de reportagens mostrou “claramente o que a pedra é capaz de fazer com as pessoas”. “Está faltando investimento dos governos. Todos os dias, encontro pessoas nas ruas pedindo para ser tratadas, mas que não conseguem por falta de vagas ou porque enfrentam dificuldades de apresentar laudo clínico, psiquiátrico e odontológico para conseguir o tratamento gratuito”, denuncia.


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