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Estado de Minas

Depois do vandalismo na Avenida Antônio Carlos, o difícil recomeço

Ainda desolados diante do cenário de vandalismo, comerciantes da Avenida Antônio Carlos tentam reconstruir lojas depredadas e saqueadas e se preparam para pedir reparação de danos


postado em 04/07/2013 06:00 / atualizado em 04/07/2013 07:18

Para avisar fregueses, concessionária esticou faixa sobre barreiras de proteção de zinco armadas em avenida(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press )
Para avisar fregueses, concessionária esticou faixa sobre barreiras de proteção de zinco armadas em avenida (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press )

As faixas ao alto precisam avisar o expediente em reconstrução: “Estamos funcionando normalmente”, anunciam as letras garrafais em ao menos três concessionárias da Avenida Antônio Carlos, sentido Região da Pampulha. Um trecho da via, cenário de vandalismo sem precedente no traçado, ainda exibe marcas de 26 de junho. Uma semana depois de o Brasil assistir a cenas de destruição e morte nas proximidades da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do estádio Mineirão, retalhos de pavor ainda ardem na lembrança de moradores e trabalhadores dos quarteirões mais atingidos pela ação de bandidos.

André Costa Serafim, de 34 anos, e outros seis seguranças contratados para trabalhar no dia do jogo entre Brasil e Uruguai pela Copa das Confederações, viveram horas de desespero em uma concessionária de automóveis. Com o estabelecimento cercado por vândalos munidos de pedras, pedaços de paus e ferros, eles encararam os pontos críticos do local com mangueiras de água e extintores de incêndio. “Tivemos muito medo de eles invadirem. A gente se defendeu como pôde. Eles vieram com galão de gasolina para atear fogo… não fosse a água que conseguimos jogar…”, relembra.

SILÊNCIO O porteiro conta que três telhas de zinco de cinco metros foram arrancadas da barreira de proteção frontal armada em defesa da loja. Da avenida, veem-se as marcas do ataque. Placas inteiras amassadas de uma extremidade à outra na horizontal. O comerciante Luiz Carlos Barreto, de 62, quer saber: “Quem vai pagar o prejuízo?”. Vendedor de equipamentos de segurança para vários empresários da região, ele se mostra revoltado com o vandalismo na avenida. “Isso é responsabilidade do Estado. Foi o poder público que não cumpriu as suas obrigações mínimas com a segurança”, critica.

Perto da Avenida Abrahão Caram, na empresa mais depredada e saqueada, com carros e caminhões incendiados, um novo tapume reforçado de aço e madeira delimita a área a ser reconstruída pelos próximos três meses. No  local, funcionários trabalham em silêncio. Segundo um terceirizado, de folga na fatídica quarta-feira, o dia seguinte foi de desolação total. “Muito triste. Os funcionários chorando… ninguém queria acreditar no que tinha acontecido. Já tinham atacado o prédio antes… Quando era só pedra… Mas isso, colocar fogo e roubar tudo?”, indigna-se.

TAPUMES No entorno do ponto mais crítico dos confrontos entre manifestantes e policiais – onde caiu de viaduto o jovem Douglas Henrique de Oliveira, de 21, que morreu em hospital –, um comerciante teme aparecer. Contabiliza R$ 10 mil em prejuízos. Entretanto, considera-se “privilegiado, comparado com um conhecido, que teve R$ 7 milhões destruídos”. Mais adiante, lojas seguidas se mostram canteiros de obras, com tapumes improvisados e escritórios em lenta recuperação. Mãe e filho, que moram de frente para a avenida, revelam a vontade de deixar a região.

A comerciante Oraldina Vieira de Faria, de 75, fala de medo que nunca havia sentido: “Tudo que você pensar que a gente passou de medo, você multiplica, meu filho”. “A gente via pela televisão, em pânico, o que estava acontecendo na nossa janela. Foi muito tenso. A gente ligava para a polícia e ela não vinha”, relata Robson de Souza, de 52, filho de Oraldina. O comerciante temeu pela integridade da família, que estava protegida apenas por um, a poucos metros dos saques e dos incêndios.

 

Força-tarefa para pagar contas


Mesmo com as motos destruídas, Magna Coelho conseguiu reabrir a loja em que trabalha(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press )
Mesmo com as motos destruídas, Magna Coelho conseguiu reabrir a loja em que trabalha (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press )
Foi ao vivo, pela televisão, que a administradora Magna Moraes Coelho, de 50, viu a loja em que trabalha invadida e saqueada em frente à UFMG: “Quando vi uma moto sendo retirada da concessionária e levada para a Avenida Antônio Carlos, fui correndo para a loja”. Ela foi impedida pelo Corpo de Bombeiros de entrar no estabelecimento e teve de esperar na calçada. Contas feitas, o prejuízo aproximado é de R$ 700 mil. No subsolo, restos do que a TV mostrou: quatro motos queimadas. Outras duas tiveram perda total, além de vidros e portas quebradas e dezenas de acessórios e equipamentos de escritório roubados.

“Não ficamos um só dia de portas fechadas”, orgulha-se Magna. Choque passado, os 25 funcionários da casa juntaram forças para reerguer o estabelecimento. Magna aponta os computadores pessoais em uso na loja. Vidros e estoques substituídos, limpeza de chamar a atenção e movimento normal para a média de sete unidades vendidas por dia. “Deixaram o setor privado à própria sorte”, critica.

O Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv/MG) reclama de pedido de policiamento reforçado para o dia 26 de junho e não atendido. Em carta endereçada à Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), nove endereços vulneráveis  são lembrados, por terem sido depredados anteriormente no caminho do Mineirão. A entidade já se movimenta para ação de reparação de danos contra o estado de Minas Gerais.


ENQUANTO ISSO...
...CENTRO AINDA NO IMPROVISO

Com temor de novas quebradeiras, lojas do Centro de Belo Horizonte, algumas atingidas por vândalos ainda no dia 22, após o jogo entre México e Japão pela Copa das Confederações, mantêm placas de compensados de madeira no lugar dos vidros quebrados, para evitar mais prejuízos. A proteção está inclusive numa movimentada agência bancária na esquina da Rua Rio de Janeiro com Afonso Pena. Um lojista da região, que prefere não se identificar, explicou que vai manter a proteção improvisada até que a situação fique totalmente tranquila, quando pretende fazer a reforma.


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