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Estado de Minas

Falta remédio para xistose nas farmácias

Pacientes não conseguem em farmácias medicamento contra esquistossomose e laboratório alega que a produção foi encerrada. Única saída para doentes é entrar na fila da rede pública


postado em 31/05/2013 00:12 / atualizado em 31/05/2013 08:03

Pacientes diagnosticados com esquistossomose, doença também conhecida como xistose, enfrentam dificuldades para encontrar medicamento nas farmácias. O remédio, de princípio ativo praziquantel, está em falta nas grandes redes de lojas e a Associação das Farmácias e Drogarias de Belo Horizonte reclama que pedidos feitos ao laboratório estão sem retorno há mais de seis meses. Mesmo distribuído na rede pública de saúde, muitas pessoas ainda preferem comprá-lo para iniciar o tratamento imediatamente. Nos postos de saúde, a previsão é de até cinco dias para entrega, mas há casos de demora mais longa. Em Montes Claros, no Norte de Minas, região endêmica, o medicamento também não é encontrado.

A esquistossomose é causada pelo Schistosoma mansoni, parasita que tem o homem como hospedeiro definitivo e caramujos de água doce como hospedeiros intermediários, onde desenvolve seu ciclo evolutivo. Os ovos são liberados na água pelas fezes do homem infectado. Eles liberam larvas que se alojam nos caramujos e continuam o ciclo com novas larvas, que entram no homem pela pele ou mucosas. A fase aguda da doença tem como sintomas coceiras, dermatites, tosse, diarreia, enjoos, vômitos, febre e falta de apetite.

Na fase crônica, segundo o coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Carlos Starling, provoca aumento do fígado e baço e pode atingir o sistema nervoso central. Hemorragias internas causam o sintoma conhecido como barriga-d’água, quando o abdômen fica dilatado. A doença pode evoluir também para óbito. Este ano, 14 pessoas já morreram por esquistossomose em Minas, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. No ano passado foram 75 mortes.

A professora universitária Isaura Caporali, de 55 anos, fazia exames preventivos quando descobriu a esquistossomose. Frequentadora de cachoeiras desde a adolescência, ela não sabe quando teve contato com as larvas, mas o médico indicou tratamento medicamentoso imediato. Isaura correu à farmácia e não encontrou o remédio. Recorreu ao posto de saúde mais perto de casa e foi indicada a procurar o que correspondia ao seu endereço. O remédio estava disponível na rede, mas havia a exigência de um relatório do médico, além de exames e da receita. De posse documentação, Isaura deu entrada no pedido. Quase um mês depois, na semana passada, conseguiu ter acesso aos comprimidos.

Ela ainda saiu do posto com uma preocupação: o médico indicou que ela tomasse seis comprimidos e meio de 600mg cada um, totalizando 3.900mg, correspondentes ao seu peso corporal, mas só conseguiu seis cápsulas e vai tomar uma dosagem menor do que a prevista. “Vou repetir os exames daqui a seis meses. O médico ainda alertou no relatório que a dosagem menor poderia implicar em fracasso terapêutico. Foi um susto quando descobri a doença. Tem uma forma que é mais complicada e ataca o fígado, mas a minha está só no intestino, não é tão complicada. Não consegui entender por que não tem remédio na farmácia, seria muito mais simples”, disse. A Secretaria Municipal de Saúde da capital reconheceu que o atraso ocorreu por um encaminhamento incorreto do pedido médico para o distrito sanitário, mas informou que o medicamento já foi entregue à paciente.

Divulgação

Um empresário de 43 anos, que pediu para não ser identificado, contou que contraiu a doença durante um trabalho no Norte de Minas e, quando soube, teve a mesma reação da professora universitária Isaura Caporali e correu para a farmácia. Pela receita, ele teria de tomar 12 comprimidos de 600mg. Com a resposta da drogaria de que não havia nem previsão para chegada do medicamento, ele iniciou uma verdadeira caçada. Ligou para várias farmácias e esteve em diversas lojas, mas sem sucesso. Pela internet, buscou em redes do Paraná, Espírito Santo e São Paulo. Quando conseguiu uma caixa do Cisticid a R$ 465 em uma distribuidora da capital paulista, o remédio vencia em agosto. Ele preferiu não comprar.

Em contato com outro médico, o empresário soube que poderia conseguir o remédio num posto de saúde gratuitamente. Não houve demora, mas, segundo ele, ouviu uma reclamação de que o número de comprimidos prescritos estava alto demais. “Acho que falta divulgar a informação. Não é todo mundo que vai ao posto de saúde, muita gente vai direto para a farmácia. Ninguém soube me informar que só conseguiria pela rede pública e na procura atrasei em duas semanas o tratamento”, disse.

Antes de descobrir a esquistossomose, o empresário soube da morte da irmã da funcionária de sua casa pela doença e que um colega no trabalho do Norte de Minas ficou internado no Hospital Felício Rocho para tratamento. Foi quando ele decidiu fazer os exames com receio de que também pudesse ter tido contato com o caramujo transmissor.

Os medicamentos para a esquistossomose são o Cisticid, em comprimidos de 500mg, e Cestox, de 150mg, ambos praziquantel e patenteados pela Merck. O laboratório informou que, em abril de 2012, pediu à Anvisa autorização para suspender a fabricação do Cestox, o que ocorreu 180 dias depois mesmo sem resposta do órgão. A Merck não informou o motivo da suspensão. O Cisticid é de uso hospitalar e vendido por distribuidora de São Paulo. O praziquantel distribuído pelo SUS é produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro, em cápsulas de 600mg e 150mg. O órgão garantiu que na rede pública não há escassez. (Com Luiz Ribeiro)

Vacina em fase de testes

A Fiocruz faz pesquisas para desenvolver uma vacina para a esquistossomose. No ano passado, a primeira fase dos testes clínicos foi aprovada e mostrou capacidade de imunização. Baseada no antígeno Sm14, com patente do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), ela ainda mostrou eficácia contra a fasciolose, doença que afeta o gado, e poderá ser usada como base para desenvolver vacinas para outras doenças causadas por helmintos.


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