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Estado de Minas A LIGA DAS SUPERMÃES

Multiplicam-se as mães que consolidam associações ou movimentos na internet


postado em 12/05/2013 00:12 / atualizado em 12/05/2013 08:21

Cidinha Campos (no centro, ao alto) e outras heroínas da ADI com seus filhos: em vez de abatimento e queixas, determinação para mudar realidade (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Cidinha Campos (no centro, ao alto) e outras heroínas da ADI com seus filhos: em vez de abatimento e queixas, determinação para mudar realidade (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)


Se falta insulina para um bebê, Cidinha liga para os postos de saúde, hospitais, pede ajuda financeira aos amigos, suplica para quem tem no estoque e consegue. Pronto, salvou uma vida. O lápis e o caderno de Sophia, portadora de deficiência, caem toda hora e Érika, a mãe, faz da reclamação das professoras um projeto para mudar o design das carteiras escolares. As crianças estão trancadas nos apartamentos, brincando sozinhas ou em computadores? Então Flávia e Miriam se unem para levar os pequenos para as pracinhas. Como esses, multiplicam-se exemplos de mães que, inquietas, consolidam associações ou movimentos via internet para mudar, acolher, ajudar. Muitas deixam as carreiras profissionais e se transformam em pessoas jurídicas. Como recompensa, essas supermães ganham inúmeros novos filhos.

Cidinha Campos era dona de uma confecção. Sonhava prosperar e gostava do que fazia. Mas teve de sair do meio de tesouras e retalhos e se viu dentro do ambulatório infantil do Hospital das Clínicas. Perdeu o pai e a irmã e, no ano seguinte, descobriu que a filha, aos 5 anos, tinha diabetes tipo 1. Em vez de lamentar e se abater, ela se transformou em uma mulher incansável. Com os recursos que tinha, buscou informações e formas de amenizar o sofrimento de Duda, que dali em diante teria que tomar uma agulhada para medir a glicose a cada alimento que ingeria. Mas ajudar a filha era pouco para a mãe, afinal, muitas crianças como Duda não dispunham de privilégios como o de poder comprar um chocolate dietético, que custa o triplo do preço de um comum.

Ela levantou a bandeira que agora tem os dizeres I’m diet, empunhada também pelo filho mais velho, João Pedro, de 11 anos, que mesmo não sendo portador de diabetes está em todas as atividades do grupo. À frente de 10 mães, fundou a Associação de Diabetes Infantil (ADI). Unidas, elas querem transformar os serviços de saúde pública em locais que recebam com qualidade crianças que chegarem com a glicose alta e precisando de atendimento de urgência. Quer que as escolas saibam acolher um diabético, que o governo cobre menos impostos nos produtos dietéticos e que todas as crianças possam comer chocolates e biscoitos sem riscos de uma internação imediata.

Se antes as crianças tinham que furar o dedo com uma agulha, Cidinha conseguiu que elas recebessem gratuitamente um aparelho semelhante a uma caneta, chamado lancetador. Com ele, os pequenos não veem a agulha e com isso sofrem menos na hora de medir a glicose. A sede da ADI ocupa uma casa emprestada no Bairro Concórdia e oferece atendimento psicológico e nutricional a mais de 200 crianças. “Eu me intitulei ‘mãe-pâncreas’. O que ele não faz no organismo das crianças (produzir a insulina), nós fazemos aqui na associação. Minha luta é para que as pessoas conheçam as crianças diabéticas, saibam do problema. Já internei muitas, que estavam morrendo à espera de tratamento, no grito”, disse. Agora, Cidinha batalha pela ADI móvel, para fazer o trabalho de conscientização em praças e espaços públicos.

A mesma ideia de ajudar começou a rondar a cabeça da arquiteta Érika Foureaux, quando sua filha Sophia entrou na escola. A garota é portadora de deficiência física, devido a uma paralisia cerebral. Vendo a resistência das instituições de ensino e ouvindo a reclamação de professores para manter o cuidado com a criança, ela decidiu usar seus conhecimentos profissionais e projetar uma carteira escolar que promovesse a inclusão. No móvel desenvolvido cabe a cadeira de rodas, há espaço para que lápis e papel permaneçam perto da criança, lugar de fácil acesso para guardar o material e cores atraentes. Não foi feita só para os portadores de deficiência, mas para todas as crianças. Foi assim que surgiu a Noisinho da Silva, uma organização não governamental dedicada a promover a inclusão por meio do design. “Descobri que os objetos colaboram para segregar as pessoas e tinha o desejo de socializar aquela criança com deficiência.” As carteiras estão prestes a ser usadas nas unidades municipais de Educação Infantil (Umeis) de Belo Horizonte.

ciranda Para que a criança continue a inserção social em casa ou com os amigos, a Noisinho projetou um equipamento chamado Ciranda. Ele possibilita que o portador de deficiência mantenha a coluna ereta e consiga brincar sem estar em posição inferior a outras crianças. Mais de 400 mães já participaram da oficina para produzir a Ciranda para os próprios filhos. Mais do que isso: ao colocar a mão na massa, se conscientizam de que eles não são incapazes.

O nascimento a Apae


A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), uma das organizações mais conhecidas no Brasil, chegou ao país na bagagem de uma mãe. A norte-americana Beatrice Bemis desembarcou por aqui em 1954. Mais do que integrante do corpo diplomático dos Estados Unidos, ela era mãe de uma portadora de síndrome de down e trazia experiência suficiente para incentivar a criação de uma Apae. No ano seguinte, o Rio de Janeiro ganhava a primeira escola para crianças excepcionais brasileira e começava a discussão sobre inclusão das pessoas portadoras de deficiência.


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