O maior temor de quem acabou de se recuperar de uma contaminação pelo vírus da dengue é contrair a doença novamente. A causa principal do medo é a intensidade dos sintomas, que duram em média sete dias, mas devastam o organismo do paciente. Enquanto lutam contra o mal, os infectados têm de lidar com as dores que atingem todo o corpo, uma febre que só cessa com medicação e com total prostração, que leva à perda de apetite e à vontade de não deixar a cama. Há casos em que, mesmo depois de o vírus ser combatido por meio de tratamento médico e repouso, o desânimo permanece por alguns dias.
“Até hoje não estou totalmente recuperada”, reclama Cláudia Jeber Handan, de 64 anos, moradora do Sion, Região Centro-Sul de BH. Ela contraiu a doença no início de março e teve de ficar internada por 10 dias. A intensidade dos sintomas fez com que os médicos desconfiassem de outras doenças. “Nos primeiros dias, desmaiei duas vezes. Tive muita dor de cabeça, a ponto de querer sair gritando”, lembra a dona de casa. Diante das reclamações, que incluíam dores nas pernas, falta de apetite, enjoo e boca seca, os especialistas solicitaram uma série de testes laboratoriais. Foram feitas tomografias, exames de urina e de sangue, até que se chegou ao diagnóstico: dengue. A falta de apetite a impedia de comer, o que só piorava o desânimo. “Até tentava fazer alguma coisa em casa, mas só pensava em deitar.”
DESCASO
Para o engenheiro aposentado Jésus Fernandes de Miranda, de 78, o pior efeito da doença contraída no mês passado foi o desânimo. Acostumado a caminhar todos os dias por pelo menos uma hora, ele percebeu que algo estava errado ao se sentir indisposto. “Sou uma pessoa ativa, mas perdi o ânimo para sair. Quando tentei fazer caminhada, comecei a suar muito e vi que não estava bem”, relembra. A prostração veio acompanhada de febre e dores no globo ocular, nas articulações e no corpo. “A doença mexeu com meu ritmo de vida”, reclama Jésus, que critica a falta de atenção ao paciente nos centros de saúde. “Fui ao Hospital Odilon Behrens e não deram atenção aos sintomas que relatei. Depois de conferirem meus sinais vitais, medirem pressão e ver que eu não tinha febre disseram que eu estava bem e não precisava de atendimento médico. Nem passei da triagem. No entanto, os exames que fiz em um laboratório particular confirmaram a dengue”, relata.
Os sintomas que tanto debilitam as vítimas da dengue clássica são resultado de um processo infeccioso, conforme explica a infectologista da Faculdade de Medicina da UFMG, Marise Fonseca. Segundo ela, quando o mosquito injeta o vírus no indivíduo por meio da picada, começa imediatamente uma resposta do sistema imune. A febre, as dores e todas as complicações da doença ocorrem devido a uma reação muito intensa do organismo, que sofre uma inflamação generalizada. “É um quadro agudo e rápido, que dura em média uma semana, mas os efeitos podem ser percebidos durante até 30 dias, já que todo o corpo sofre”, esclarece.
Foco de mosquito, piscina será aterrada
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) decidiu que a piscina localizada na antiga sede da Associação Mineira de Paraplégicos (AMP) será aterrada para evitar acúmulo de água. O imóvel, que fica na Avenida do Contorno, no Bairro Santa Efigênia, Região este da capital, é alvo de reclamações de moradores há pelo menos dois anos. Eles temem que o reservatório de água instalado no quintal se transforme em mais um criatório do mosquito Aedes aegypti na cidade, que até a semana passada já registrava pelo menos 5.760 doentes e dois mortos em decorrência da dengue, segundo o último balanço da Secretaria Municipal de Saúde. Ainda não há previsão para que a piscina seja coberta por terra.
A piscina fica em um terreno da prefeitura. Ele havia sido cedido pela administração municipal para a AMP na década de 1980, mas em 6 de março um decreto publicado no Diário Oficial do Município (DOM) rompeu o contrato de concessão de uso. De acordo com a Regional Leste da PBH, o endereço vem sendo alvo de denúncias por focos de dengue há bastante tempo e já foi notificado e multado. Em uma ocasião, a Vigilância Sanitária entrou na casa com apoio da Polícia Militar para garantir o tratamento dos focos.
Segundo a assessoria de imprensa da PBH, no dia seguinte à revogação da concessão, uma equipe de controle de endemias foi até o local para jogar larvicida em todos os locais que pudessem acumular água dentro do imóvel. Durante o trabalho, teria sido jogado produto suficiente para combater as larvas do mosquito por dois meses. A PBH informou ainda que outra equipe foi à casa ontem para fazer a limpeza da piscina e retirou toda a água acumulada. No entanto, a piscina não foi coberta para evitar que a água da chuva fique represada até que o local seja aterrado.
Reunião
Hoje, o governador Antonio Anastasia participará, às 10h, de reunião do Comitê Gestor Estadual de Políticas de Enfrentamento à Dengue, no Palácio Tiradentes, na Cidade Administrativa.