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Estado de Minas

Praga fica sem controle e atinge quase 250 árvores em Belo Horizonte

Mosca-branca-do-fícus que infestou árvores no Centro de BH ameaça agora espécimes em parque da Região Norte. PBH declara emergência por decreto para acelerar procedimentos


postado em 27/03/2013 06:00 / atualizado em 27/03/2013 07:11

Técnicos identificaram 246 exemplares doentes na capital, com 14 indicados a corte, dos quais 125 estão na reserva da Região Norte da cidade(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
Técnicos identificaram 246 exemplares doentes na capital, com 14 indicados a corte, dos quais 125 estão na reserva da Região Norte da cidade (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)

Cinquenta anos depois da derrubada de 350 fícus na Avenida Afonso Pena, os gigantes verdes que remetem à fundação da capital voltam ao centro das atenções. A Prefeitura de Belo Horizonte decretou situação de emergência por causa da infestação das árvores pela mosca-branca-do-fícus (Singhiella sp). Se até então havia conhecimento da praga em três áreas – Avenida Bernardo Monteiro, Avenida Barbacena e adro da Igreja da Boa Viagem –, ontem, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) assumiu que o inseto migrou para outras regiões do município. Técnicos já identificaram 246 exemplares doentes na cidade, sendo 14 com indicação de corte. A maior parte, 125, se concentra no Parque Municipal Lagoa do Nado, na Região Norte da capital.


A estimativa é de que haja em BH cerca de 12 mil exemplares de fícus, espécie marcada pelo grande porte e tombada como patrimônio cultural do município. Ao declarar situação de emergência, por meio do Decreto 15.183, o objetivo da prefeitura é acelerar procedimentos junto aos órgãos federais, além da compra de serviços ou produtos para solucionar o problema. A principal preocupação é conseguir rapidamente a autorização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da aplicação de um inseticida orgânico e um fungo para matar o inseto.

“Sem o decreto, essa aprovação poderia demorar dois anos”, afirma a gerente de Gestão Ambiental da SMMA, Márcia Mourão, que garante que ainda não há autorização para cortar árvores, apesar da indicação. De acordo com o coordenador da Defesa Civil Municipal, coronel Alexandre Lucas, na semana que vem, uma comitiva vai a Brasília entregar o pedido de autorização para o procedimento. Também no início de abril, a prefeitura promete começar a instalar armadilhas contra a mosca, orçadas em R$ 1 mil. As placas adesivas amarelas ajudarão a capturar as moscas. “Estamos trabalhando para controlar a praga, salvar as árvores e proteger as pessoas e os bens”, ressalta Lucas.

Depois de testar o inseticida orgânico óleo de nim em galhos e troncos de alguns exemplares, os técnicos deram início ontem a mais um experimento, com a aplicação do produto em cinco mudas. Outro tanto está recebendo também o fungo entomopatogênico, que funcionará como um agente de controle biológico. Os resultados do experimento, que devem ser concluídos em duas semanas, é que indicarão a linha de atuação a ser adotada. Um dos entraves em relação ao óleo de nim é o fato de a aplicação ser autorizada pela Amvisa apenas em ambientes rurais. “Mas o risco do nim é bastante baixo”, assegura o engenheiro-agrônomo da SMMA Dany Sílvio Amaral, esperançoso pela aprovação do produto em meio urbano.

Primeiro teste  Segundo ele, a demora em encontrar uma solução envolve fatores como dinheiro público e a dificuldade em lidar com a praga, cujo combate é pouco conhecido. “Em São Paulo, não houve essa preocupação com o manejo, e houve opção principalmente pela supressão. Em BH, não. O primeiro teste com o nim mostrou a eficácia, mas temos que estudar mais para comprovar essa eficiência, pois a aplicação do produto envolve despesa”, afirma. A verba para o tratamento dos fícus em BH vem de compensação ambiental de empresa, conforme decisão do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município. A SMMA não divulgou o montante necessário para tratar dos espécimes atingidos pela praga.

O pós-doutor em ecologia Sérvio Pontes Ribeiro, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), acredita que o quadro crítico reflete a falta de cuidado da prefeitura. “Houve uma negligência nos anos anteriores. Não ocorreu uma atitude preventiva em relação às árvores nem mesmo um manejo mais intenso quando se soube da infestação, no ano passado”, afirma o especialista. Apesar de ter solicitado os laudos sobre a situação das árvores, ele ainda não teve acesso aos pareceres, mas garante: “A maioria dessas árvores tem condição de se recuperar. Na Flórida, onde houve o problema, a solução foi um tratamento para revigorar as plantas”, explica.

Integrantes do movimento Fica Fícus, criado em defesa das árvores, esperam que a decretação da situação de emergência sirva para agilizar o tratamento dos fícus. “Achamos que as ações da prefeitura estão demoradas, travadas por uma burocracia muito grande. Se a infestação é tão grave, o tratamento tem que ser rápido”, ressalta uma das fomentadoras do movimento, Patrícia Caristo. O grupo também pede maior transparência nas discussões. “Tememos que esse decreto acabe atemorizando a população e contribua para uma possível supressão das árvore em favor de projetos de alargamento de avenidas e construção de estacionamentos subterrâneos”, diz.


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