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Estado de Minas

Ouro Preto ganha basílica após decreto do papa

Por decreto de Bento XVI, Matriz de Nossa Senhora do Pilar é mais um templo em Minas elevado à condição de "território do papa". Festa de reconhecimento acontece no sábado


postado em 28/11/2012 06:00 / atualizado em 28/11/2012 06:43

Com a decisão do papa, Matriz do Pilar se torna a 11ª basílica em Minas, das quais duas estão em BH(foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS )
Com a decisão do papa, Matriz do Pilar se torna a 11ª basílica em Minas, das quais duas estão em BH (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS )

Um fim de semana de festa e valorização do patrimônio cultural e espiritual de Ouro Preto, na Região Central de Minas. No sábado, às 19h, moradores e visitantes vão participar da cerimônia de reconhecimento da Matriz de Nossa Senhora do Pilar como basílica, por decreto do papa Bento XVI. O documento sobre a chamada “dedicação da Basílica de Nossa Senhora do Pilar” será lido, durante missa solene, pelo bispo da arquidiocese de Mariana, dom Geraldo Lyrio da Rocha, que fará também a bênção do novo altar ou mesa das celebrações com os símbolos do sumo pontífice. Já no domingo, às 10h30, será reaberta, depois de 20 anos, a Capela de São José, do século 18, localizada no Centro Histórico da cidade declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

A elevação a basílica significa que, agora, a Matriz do Pilar é considerada “território do papa”, explica o titular da paróquia, padre Marcelo Moreira Santiago. “Ela receberá todas as insígnias ou emblemas papais e se iguala em dignidade às basílicas romanas”, conta o religioso, lembrando que apenas as quatro basílicas de Roma são denominadas “maior”, enquanto as demais, em qualquer parte do mundo, são chamadas de “menor”, embora isso não tenha nada a ver com as dimensões do templo. O título mostra ainda a importância artística, cultural e arquitetônica da construção barroca, cuja paróquia completou 300 anos em agosto. No dia 15, conforme divulgou o Estado de Minas, com exclusividade, o arcebispo de Mariana comunicou aos católicos que fizera o pedido oficial ao papa. A Igreja do Pilar é uma das mais ricas do país, mas, segundo sua administração, é impossível quantificar o tanto de ouro presente nos altares, imaginária e demais elementos artísticos.

O Pilar, como é tratada pelos fiéis, terá na mesa das celebrações os símbolos papais – a mitra com a chave cruzada e umbrela (um tipo de sombrinha), além do estandarte com o sino e armas do Vaticano, da Arquidiocese de Mariana, o brasão do município e o escudo da basílica, em fase final de elaboração. “A nossa igreja é um local especial, um ponto de peregrinação”, ressalta padre Marcelo. Com o Pilar, Minas tem agora 11 basílicas: duas em Belo Horizonte (Nossa Senhora de Lourdes, no bairro homônimo, na Região Centro-Sul, e Santo Cura D’Ars, no Prado, na Região Oeste), Mariana (Nossa Senhora da Assunção ou Catedral da Sé), Congonhas (Senhor Bom Jesus do Matosinhos), Barbacena (São José Operário), Conselheiro Lafaiete (Sagrado Coração de Jesus), Conceição do Rio Verde (Nossa Senhora da Conceição), São João del-Rei (Nossa Senhora do Pilar), Curvelo (São Geraldo) e Boa Esperança (Nossa Senhora das Dores).

“Geralmente, os processos para reconhecimento pelo papa podem demorar de cinco a 10 anos. No caso do Pilar, talvez pela sua relevância, já que é a primeira igreja da eucaristia da América Latina, foi bem rápido”, destaca o diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto, vinculado ao Pilar, Carlos José Aparecido de Oliveira. O dossiê contendo o histórico e todas as informações sobre o Pilar foi encaminhado em 23 de outubro a dom Geraldo Lyrio, que participava, em Roma, do Sínodo dos Bispos. Ele, então, entregou pessoalmente toda a documentação ao papa. Quatro dias depois, para surpresa e alegria dos católicos, o decreto estava assinado por Bento XVI. “Foi tudo muito rápido para nossa surpresa e alegria”, comenta Carlos José.

DEVOÇÃO A celebração é ótima oportunidade para que as pessoas conheçam a história da basílica que se confunde com a Ouro Preto, antiga Vila Rica. Segundo os especialistas, trata-se de um lugar único, com arquitetura belíssima e características muito próprias. A nave tem a forma de um polígono de oito lados, com seis altares, tribunas sobrepostas e uma área específica para o coro. Nos retábulos, estão as imagens de São Miguel e Almas, Santana, Senhor dos Passos, Santo Antônio dos Pardos, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e Nossa Senhora das Dores. O templo é tombado desde 1930 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O projeto e execução do entalhe são de autoria do português Francisco Xavier de Brito, que chegou a Vila Rica em 1741 e trabalhou no Pilar de 1746 a 1750, e, conforme os estudos, teria sido mestre de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730–1814). Outros entalhadores portugueses importantes trabalharam ali, entre eles Manoel de Brito e o mestre de obras Pedro Gomes Chaves. Já as pinturas têm a marca de João de Carvalhares, Bernardo Pires da Silva, João Batista de Figueiredo e Manoel Ribeiro Rosa. Ainda atuaram nesse espaço o entalhador Ventura Alves Carneiro, em 1751, no arco-cruzeiro, e José Coelho de Noronha (1754), autor do resplendor do trono, atualmente no coro.

“Em 1705, nos arraiais que deram origem a Vila Rica, já se falava na devoção a Nossa Senhora do Pilar, que teria chegado à região com os bandeirantes”, conta o historiador Carlos José, explicando que o culto é originário da Espanha (veja o quadro). Fatos importantes tiveram o primitivo templo como palco, entre eles a posse, em 1711, do governador Antônio de Albuquerque, quando os arraiais se transformaram em Vila Rica. Na mesma data, a imagem da padroeira foi entronizada e, no ano seguinte, o bispo do Rio de Janeiro, dom Frei Francisco de São Jerônimo – nessa época, a diocese de Mariana, à qual Ouro Preto está ligada, ainda não tinha sido criada –, nomeou um pároco e autorizou a compra dos vasos sagrados (cálices, âmbulas etc.) e paramentos em quatro cores (vermelho, verde, branco ou amarelo e preto) para celebração dos sacramentos, além da presença de uma pia batismal “decente”.

O tempo passeou, a população cresceu, até que, em 1728, a mesa administrativa das irmandades do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora do Pilar decidiram aumentar a igreja, que não comportava o número de fiéis. Da mesma forma, o terreno se tornava pequeno para construção dos túmulos dos irmãos. As obras de ampliação começaram dois anos depois e ganharam uma inauguração que passou a história como a maior festa dos tempos coloniais. O Triunfo Eucarístico, em 1733, num tom quase operístico, misturou elementos sacros e profanos, num cortejo pelas ruas de Vila Rica. O templo é tombado.

PILARES DA HISTÓRIA

– Até a Independência do Brasil, o pároco da Matriz do Pilar era nomeado pelos reis de Portugal, já que a igreja era o templo oficial do Senado da Câmara. Depois, a nomeação passou a ser do papa.
– No Pilar, sempre prevaleceu a norma do vigário colado, o que quer dizer fixo. Dessa forma, os padres responsáveis pela paróquia só saíam do cargo ao morrer. Hoje, o padre é nomeado pelo bispo de Mariana, embora sem o caráter de “colado”.
– Durante o século 20, a Matriz do Pilar teve dois párocos, nomeados pelo papa: o padre João Castilho Barbosa, que ficou de 1906 a 1963, e o padre José Feliciano da Costa Simões, o padre Simões (1931–2009), que ficou de 1963 a 2009. De 1845 a 1906, o responsável foi o cônego José Joaquim de Sant’Anna, que foi senador do Império e governador da Província de Minas Gerais.
– O culto a Nossa Senhora do Pilar, chamada de “mãe, rainha e padroeira de Ouro Preto”, é originário da Espanha, remontando aos primórdios do cristianismo.
– Segundo a tradição, São Tiago Maior, incumbido de pregar a palavra de Deus em terras ibéricas, fora abençoado pela Virgem Maria, antes de partir. Uma noite, Nossa Senhora apareceu ao apóstolo sobre um pilar de mármore, em meio a um coro de anjos, e lhe indicou o local para construção de uma igreja. No altar, deveria ser colocado o pilar, que hoje ainda se encontra na basílica da cidade espanhola de Saragoza.
– Em alguns dias do inverno, a luz solar que entra pelo óculo (vidraça, na fachada, entre as torres), ilumina diretamente o sacrário, que tem a mesma dimensão e formato dele.

CRONOLOGIA
1705 – Nesse ano, já há registro da devoção a Nossa Senhora do Pilar nos arraiais que deram origem a Vila Rica. Tradição teria chegado com os bandeirantes
1711 –Governador da capitania, Antônio de Albuquerque, toma posse na primitiva Igreja do Pilar. A imagem da padroeira vinda de Portugal é entronizada
1712 –O bispado do Rio de Janeiro nomeia um pároco para a Matriz do Pilar e autoriza a compra dos vasos sagrados (cálices, âmbulas etc.) e paramentos para realização de sacramentos
1728 – Mesa administrativa das irmandades do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora do Pilar decide ampliar a igreja
1730 – Começam as obras de ampliação da igreja, que não comportava mais a população nem tinha local suficiente para enterrar integrantes da irmandades
1733 – Em maio, Igreja do Pilar é inaugurada com o Triunfo Eucarístico, considerada a maior festa realizada no Brasil Colonial
1930 – Igreja do Pilar é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
1963 –Atual imagem da padroeira é nomeada Padroeira Pontifícia, pelo papa João XXIII. Povo se une e manda fazer uma coroa de ouro cravejada de pedras preciosas
1973 – Em 2 de setembro, ladrões levam parte do acervo da igreja, incluindo peças usadas no Triunfo Eucarístico. O crime nunca foi esclarecido
2012 –Em 27 de novembro, papa Bento XVI assina decreto transformando a matriz em basílica

Reabertura da Capela de São José

Moradores e visitantes a conhecem pelo nome de Capela ou Igreja de São José, mas o templo do século 18, vinculado à Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, tem um nome mais extenso: Capela de São José dos Pardos e Bem Casados e Santa Cecília dos Músicos. Localizada no Centro Histórico de Ouro Preto, em área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a capela será reaberta no domingo, às 10h30, com celebração de missa de ação de graças e presença do arcebispo da Arquidiocese de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha. A programação inclui ainda lançamento de manuscritos musicais, pelo maestro Márcio Miranda Fontes, devolução, ao templo, de um livro da Irmandade de Santa Cecília, que se encontra em poder da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e descerramento da placa de inauguração.

Fechada há décadas, a capela passou pelas necessárias reformas nos últimos dois anos. A primeira etapa da obra de restauro foi entregue em março, quando foram concluídos os serviços na parte interna do monumento. A segunda e última etapa incluiu reparos estruturais, com reforma da sacristia e intervenção no adro e entorno. De acordo com a Paróquia do Pilar, os trabalhos custaram R$ 1,5 milhão, com patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), vila Lei Rounet. Do total, US$ 120 mil foram doados pelo World Monuments Fund (WMF) – em português, Fundo Mundial de Monumentos –, entidade que apoia projetos de restauração de monumentos mundiais.

A obra teve a gestão do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto, entidade da Paróquia do Pilar, com apoio da prefeitura local, Ministério da Cultura e Iphan. Além do restauro interno, que demandou muito cuidado, segundo os especialistas, o adro também passou por intervenções para adaptar a área às recomendações do laudo de geologia do professor Romero César Gomes, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), já que se trata de um dos pontos de maior risco geológico da cidade.

O templo, agora, mostra sua riqueza e beleza, pois as pinturas estavam encobertas por camadas de tinta e ofuscadas pela cor cinza. Com a sua igreja dedicada aos ofícios mecânicos, no século 18, a irmandade teve nos seus quadros Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730–1814). Manoel Ribeiro Rosa é o principal pintor cuja obra foi desvendada após a restauração. Dedicada também aos músicos, o templo tem em altar lateral a devoção de Santa Cecília, e nesta irmandade eram incorporados os músicos que atuavam na antiga Vila Rica.

DIA DO BARROCO
Representantes das cidades coloniais mineiras, museus e outras instituições culturais participam hoje, às 10h, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em BH, do lançamento Dia do Barroco Mineiro. A data foi instituída pela Lei 20.470, publicada no Minas Gerais. A lei declara também 2014 como o ano de comemoração do bicentenário de Aleijadinho. O Dia do Barroco será celebrado anualmente em 18 de novembro.


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