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Estado de Minas

História de fortuna enterrada debaixo de árvore assusta moradores de Pitangui

Tema é recorrente de conversas sobre os tempos da escravidão


postado em 30/09/2012 07:24

Gameleira centenária está localizada em terras adquiridas por Totonho César (foto: Paulo Henrique lobato/EM/D. A. PRESS )
Gameleira centenária está localizada em terras adquiridas por Totonho César (foto: Paulo Henrique lobato/EM/D. A. PRESS )
Pitangui – A família de Antônio César Lopes, o Totonho, de 56 anos, comprou parte das terras que pertenceram a parentes do bandeirante Borba Gato (1649-1718) em 1950. Já naquela época, a imensa gameleira no alto de um dos morros era assunto corriqueiro entre moradores da cidade histórica de Pitangui, no Centro-Oeste de Minas, cujos limites incluem a roça adquirida pelo avô do pequeno agricultor e criador de gado leiteiro. “Dizem que um escravo, de nome Casimiro, roubou certa quantidade de ouro de seu senhor e o enterrou debaixo da árvore. O pote recheado com o metal continua lá, mas quem se atreve a retirá-lo é agredido pelo espírito do negro.”

Lenda ou não, a verdade é que caçadores do tesouro aparecem, de vez em quando, nas terras de Totonho. Vão com enxadas, pás e outras ferramentas. “Porém, não conseguem sequer manuseá-las, porque algo de estranho sempre ocorre. Teve gente que ficou com febre e houve quem sentiu dores fortes nas costas, como se tivesse sido chicoteado. Falam que são chibatadas dadas pela alma do Casimiro. Aliás, a alma de quem enterra ouro não vai embora: fica na terra, presa ao metal”, disse o agricultor enquanto tentava localizar a direção do Bairro Penha, onde está o Morro do Batatal, marco zero de Pitangui.

O nome do morro é uma alusão às pepitas de ouro, com tamanho e formato semelhantes a batatas, encontradas no local por bandeirantes paulistas. Derrotados na Guerra dos Emboabas (1707-1709), muitos desbravadores de São Paulo, entre eles Borba Gato, se refugiaram no Centro-Oeste de Minas, fundando povoados. “Casimiro foi escravo de um bandeirante”, completou o encarregado de almoxarifado José Maria da Fonseca, de 48 e de apelido Costinha.

Desde pequeno, Costinha escuta os casos do pote de ouro. “Há quem tenha ouvido berros de bode vindos da árvore e, verdade seja dita, não havia nenhum animal lá. Eu mesmo não acredito que tenha ouro enterrado no morro. Mas não sou doido para tirar a prova. Os mais antigos contam de pessoas que apanharam do espírito do escravo. ‘Cê’ acha que eu vou conferir... Ha, ha, ha. Num vou não”. O que ninguém sabe dizer, porém, é como foi a morte de Casimiro – se é que ele existiu.

Por outro lado, muitos moradores garantem que, por aquelas bandas, ainda há lavras de ouro escondidas do conhecimento do homem. Pitangui, conhecida como a Sétima Vila do Ouro, fundada em 1715, foi um dos lugarejos que mais abasteceram a coroa portuguesa, na época do Brasil colônia, com o valioso metal. Pelo vilarejo, passava a estrada real de Goiás, que ligava a região da então Vila de Sabarabuçu, hoje Sabará, ao estado vizinho. Quase três séculos depois, imensos buracos, semelhantes a cisternas e que serviam para ajudar na ventilação das minas, são encontradas em montanhas do município.

Quem não conhece bem a região e se arrisca no turismo ecológico pode se acidentar. Ou então se deparar com a gameleira de Casimiro, que fica a poucos metros de uma das margens da estrada de terra que liga Pitangui a Papagaios. Há quem sustente que a imensa gameleira era referência para viajantes, servindo de ponto de encontro de tropeiros. A poucos metros dela, há uma pequena trilha de pedras.

“É só o sujeito não tentar retirar o ouro que nada ocorrerá com ele”, garante Totonho. Já Libério de Souza, de 63 e que também foi criado naquelas terras, classifica os relatos envolvendo o escravo como um blefe do passado. “Não passa de uma lenda”, disse para, segundos depois de um silêncio, ponderar: “Se bem que eu nunca paguei para ver”.


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