(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Aumento de sequestro relâmpago expõe o desespero das vítimas em BH

Vítimas relembram momentos em que foram atacadas por bandidos em plena luz do dia e as marcas deixadas pela violência. Crime está mais frequente em BH, onde foram registrados oito casos em julho e agosto


postado em 10/09/2012 06:48 / atualizado em 10/09/2012 07:01

(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
 

Há exatos 18 dias, o estudante de economia L., de 21 anos, encostou no meio-fio o Kia Sorento, avaliado em R$ 90 mil, em uma rua do Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Eram 12h40. Sem tempo para almoçar, havia acabado de tomar um lanche rápido e seguia para um trabalho em grupo na casa de amigos. Parou para mexer no celular. Bastaram cinco minutos para ser abordado por dois jovens armados. “Perdeu, doidão! Perdeu!”, gritou o líder, anunciando o assalto, ainda do lado de fora do carro, apontando a arma pelo vidro semiaberto. A rua estava movimentada, mas ninguém percebeu a ação dos bandidos, que empurraram L. para o banco do lado direito e começaram a rodar pela cidade, enquanto extorquiam cartões de crédito e senhas do estudante. “Não reaja. Só queremos seu dinheiro!”, avisaram.

Naquele momento, L. não conseguia pensar em nada. Nem sequer imaginou que era apenas uma das três vítimas em menos de 24 horas no Belvedere. Entre julho e agosto, contam-se oito casos na capital mineira conforme levantamento feito pelo Estado de Minas, o equivalente a dois terços do total de casos registrados nos seis primeiros meses deste ano de acordo com estatísticas oficiais da Polícia Militar. Foram pelo menos cinco casos nos últimos 20 dias na capital. Em 2009, o crime foi tipificado como hediondo, com punição de até 30 anos de prisão se for seguido de morte.

Como o próprio nome diz, a ação do sequestro relâmpago é rápida e costuma causar mais traumas nas vítimas do que propriamente perdas financeiras. E pouco importa ser a primeira ou a última pessoa da cidade a estar na mira de ladrões armados, privada da própria liberdade. “Toda vez que eu saio na porta de casa, meu coração dispara”, confessa a estudante de design gráfico L.M.C., de 21. Em 31 de agosto, ela se preparava para voltar a pé da faculdade, às 16h, quando a colega de sala C., de 22, ofereceu uma carona até o Bairro Sion em seu carro, um Hyundai ix-35, que custa R$ 90 mil, em média. Nem deu tempo de se despedirem. Dois assaltantes entraram no carro, mandando ficarem quietas. “Antes eu tinha medo de sair sozinha à noite, pois minha rua é meio deserta. Mas o nosso sequestro foi à luz do dia. Não sei mais o que fazer”, desabafa L.M.C.

As amigas rodaram três horas em poder dos assaltantes. No meio do caminho, entregaram o cartão de débito de C. a um terceiro assaltante, encarregado de sacar R$ 900 em caixas eletrônicos de diversas agências de Contagem. L.M.C. estava sem cartão, mas soube manter a conversa com os sequestradores. “A gente entrou no clima deles. Eles disseram que, quando estão a fim de trabalhar, fazem de cinco a seis sequestros no dia. Contaram que iriam comprar pizza e uísque com nosso dinheiro e iriam aproveitar o feriado para ir a Fernando de Noronha. Um deles pediu para minha amiga ler uma página do livro que estava na mochila. Era o Grande sertão: veredas. Ela avisou que poderia ler, mas que eles não iriam entender nada. Nesta hora, rolou uma tensão. Ele gritou: ‘Cê tá me tirando?’ Mas ela conseguiu argumentar que nem ela entendia direito a linguagem de Guimarães Rosa.”

Medo
O “Não sei de onde a gente tirou tanta tranquilidade. Acho que era a adrenalina a mil. A ficha só está caindo agora”, diz L.M.C., que sentiu um arrepio de medo quando os assaltantes elogiaram a beleza física delas, para em seguida completar que seu negócio era só dinheiro. Também avisaram que o carro não interessava. Largaram as duas na Avenida Tereza Cristina e abandonaram o veículo a 800 metros dali.
L., o estudante de economia sequestrado no Belvedere, teve o carro guiado por um jovem de 17 anos, sem habilitação e que dirigiu a até 190 Km/h. Os assaltantes também seguiram para Contagem e, na Praça da Cemig, entregaram cartões de débito e crédito, iPhone, lap-top e a mochila do rapaz a um terceiro membro da quadrilha. Nas duas horas e meia seguintes a dupla usou o celular para dar instruções de compra ao comparsa. O cartão de crédito bancou R$ 2 mil em roupas de grife. Já o cartão de débito serviu para que fizessem um saque de R$ 1,3 mil. “Fiz tudo o que eles pediram. Meu pai sempre me orientou a manter a calma e não tentar reagir”, afirma.

O pânico de L. ainda não havia terminado. Quando os bandidos se preparavam para libertar o refém em uma estrada de terra, deram de cara com uma viatura da polícia, que já estava à procura da quadrilha, que, horas antes, havia sequestrado a BMW branca de um embaixador. Houve troca de tiros e uma das balas estourou o farol direito do carro. Os assaltantes insistiram na fuga, mas acabaram detidos quando o pneu do carro furou. “Penso que eles são jovens como eu, mas que desejam algo que eu tenho e que eles não têm. Mas não tenho dó deles, tenho dó da família deles”, disse, contando que, ao lavrar o flagrante na delegacia, a irmã de um dos assaltantes aproximou-se para pedir desculpas.

Perfil
Segundo o delegado Leonardo Vieira Dias, chefe do 1º Departamento de Polícia Civil, responsável pelas investigações na capital, quem comete sequestro relâmpago no Brasil depois da mudança da lei, sabendo que está sujeito a uma pena maior que a de quem comete assassinato, é bandido sem experiência. “Não é o bandido que pensa em se arrumar na vida. É aquele que quer completar uma ausência momentânea, quer ostentar uma roupa, um tênis de marca”, conta.
A melhor maneira de prever um tipo de crime que não marca hora, lugar, nem tipo de carro é ficar alerta. “O jeito é ter atenção constante para evitar surpresa porque o bandido, mesmo estando de posse de uma arma, vai fazer o possível para tentar achar quem está mais vulnerável. A atitude varia de pessoa para pessoa, mas o melhor é não correr risco”, avisa ele, que, ao ver uma pessoa com atitude suspeita na rua, prefere dar a volta no quarteirão.

12
ocorrências foram notificadas pela Polícia Militar nos seis primeiros meses de 2012

5
casos de sequestro relâmpago foram registrados em BH nos últimos 20 dias, conforme levantamento feito pelo EM

30
anos de prisão é a pena prevista se o crime for seguido de morte desde que foi tipificado como hediondo, em 2009


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)