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Estado de Minas

Maioria de mortes no trânsito na capital é de acidentes com motos

Entre julho e setembro de 2011, 60% dos mortos em acidentes de trânsito em Belo Horizonte pilotavam uma motocicleta. Em média, são 27 batidas por dia na capital envolvendo o veículo


postado em 25/07/2012 06:00 / atualizado em 25/07/2012 06:41

Espremidos entre os carros, onde aceleram para chegar mais rápido enquanto os demais veículos estão presos no tráfego, os motociclistas são o segmento de condutores que mais se envolve em acidentes graves, de acordo com o Projeto Vida no Trânsito. Entre os jovens (18 a 29 anos), por exemplo, 60% dos mortos entre julho e setembro do ano passado dirigiam uma moto. O programa da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS) cruzou dados de acidentes e atendimentos dos bancos da BHTrans, Detran-MG e secretarias municipal e estadual de saúde e identificou também que os idosos acabam sendo as principais vítimas dos veículos sobre duas rodas. Dos atropelamentos, um terço é causado pelas motocicletas. As pessoas acima de 59 anos estão entre as maiores vítimas, respondendo por 63% das mortes, sendo que 60% destes acidentes são causados por motos.

A média de Belo Horizonte é de 27 acidentes de motos com vítimas por dia e os principais fatores são a alta velocidade (24,8%) e o comportamento inadequado do jovem motociclista (24,1%). Estatística que o publicitário Luan Viana Fernandes, de 24 anos, sentiu na pele. Luan é motociclista e sofreu um acidente na Avenida Cristiano Machado em 2008. Ele seguia a 80 Km/h e um condutor a sua frente, tão jovem quanto ele, virou inesperadamente no acesso ao viaduto do Bairro Floresta.

“Ele estava mais rápido e precisou deitar a moto para entrar na curva à direita, mas não deu seta e eu acabei passando no meio dele. Meu irmão conseguiu saltar da moto, mas eu fui arremessado. Um descuido de outro condutor me deixou 37 dias internado”, lembra o rapaz, que teve fratura exposta e, já no hospital, trombose, coágulo no pulmão e embolia pulmonar.

Luan voltou a pilotar, mas trocou a moto potente por outra de 50 cilindradas, que trafega a uma média de 60 Km/h. “Quando a moto é rápida e você está atrasado, acaba correndo. Acho que o motociclista que provocou o acidente deveria ter olhado para trás ou dado seta. A pouca idade atrapalha a prudência”, admite.


Além da dor dos feridos e dos familiares dos mortos, os acidentes com motocicletas têm reflexos importantes no trânsito, de acordo com a diretora de Informação e Atendimento da BHTrans, Jussara Bellavinha. “Todas as vezes que uma moto se envolve em acidentes temos repercussões sérias, principalmente nas vias mais movimentadas, como a Cristiano Machado. Como geralmente saem feridos ou morrem, precisam de atendimento do Samu e da Polícia Civil, parando até duas pistas”, afirma. De acordo com ela, em vias como essas os reflexos como lentidão do tráfego chegam a durar 4 horas em média.


Uma arma

Uma sequência de erros que envolveu imprudência, desrespeito à sinalização, avanço de semáforo e problemas do veículo culminaram na morte de três pessoas no tombamento de uma carreta na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no mês passado. Mãe da estudante de medicina Caroline Palmer Irffi, morta naquela noite de 6 de junho, a psicóloga Márcia Palmer Irffi considera o carro uma arma. Ainda muito abalada, ela diz que o ser humano não consegue controlar seus impulsos e que o acidente que deixou três mortos poderia ter sido evitado se o motorista Jadson Santos Alves, de 26, não estivesse correndo. A perícia comprovou que a carreta que transportava uma bobina de aço seguia a mais de 100 Km/h. “A alta velocidade e a imprudência dele provocaram uma tragédia. Talvez eu nunca mais consiga viver em paz, tranquila de novo, porque perder um filho é uma dor sem fim”, desabafa Márcia.


Mesmo sabendo dos riscos, o educador físico André Luís Nunes Braga, de 32, voltou para a casa dirigindo após uma noite de festa, curtição e bebida alcoólica. Mas ele cochilou ao volante e acertou em cheio a traseira de um caminhão de minério na BR-040, no trajeto entre o Condomínio Miguelão, em Nova Lima, e o Bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte. Costelas quebradas, carro destruído, alguns pontos no rosto e um susto que ele nunca mais vai se esquecer.


“Abri o olho e já estava no hospital. Não sei explicar o que aconteceu, não me lembro nem do resgate. A sensação que tenho foi de que dormi ao volante, mas sei que vinha em alta velocidade e estava sem cinto. Hoje, alguns anos depois do acidente, já não bebo mais. E, quando isso ocorre, em situações específicas, nunca estou de carro. Aprendi da pior forma, mas se tivesse machucado alguém ia ser difícil conviver com isso”, conta.

 

Palavra de especialista//Jane Patrícia Haddad
psicanalista e pedagoga

“O jovem é imediatista”

“O jovem percebe o risco, mas para o outro, nunca com ele. Nessa idade, ele busca adrenalina, emoção e a bebida altera seu estado de consciência, aumentando a coragem. Tudo isso transfere para o volante. Os jovens são imediatistas, pensam que o importante é o agora, é beber, se divertir e correr num racha. Pisa fundo por curtição. Mas esse é um processo que vem da infância e o carro é consequência. Normalmente quem age desta forma na juventude cometeu excessos na infância e não teve limites ou consciência. Quanto mais jovem, menos experiência tem. E, aliada à juventude e à pouca maturidade, a bebida, a velocidade e a imprudência tornam essa mistura ainda mais perigosa.”


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