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Estado de Minas

Pedestres falam sem parar ao telefone e se tornam alvos fáceis de atropelamentos

Estatísticas não revelam em que circunstâncias pedestres são atropelados, se usam celular ou fone de ouvido, mas especialistas fazem ligação entre aparelhos e acidentes


postado em 14/06/2012 07:01 / atualizado em 14/06/2012 07:06

"Eu estava ouvindo uma gravação da operadora de celular, pois pretendo mudar de plano. Olhei para os dois lados, mas não vi o carro chegando", Arley Jefferson Xavier, de 27 anos, almoxarife (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

O Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), maior unidade de atendimento de urgência de Minas, recebe em média oito vítimas de atropelamento por dia. De janeiro a maio, foram 1.174 pessoas feridas que deram entrada no hospital e muitas não sobreviveram. No ano passado, foram 2.641. Embora não constem nas estatísticas as causas dos atropelamentos, especialistas em trânsito garantem que a realidade seria menos trágica se motoristas e pedestres soubessem a hora certa de falar ao celular.

Para o consultor em transporte e trânsito Ozias Baptista Neto, os boletins de ocorrência também não informam se a vítima estava falando ao celular. “Não consta se a vítima estava distraída, olhando para cima, se atravessou a rua lendo jornal. Não tem como dizer se aumentou o número de atropelamentos por causa do celular. O boletim somente fala que a pessoa atravessou a rua e foi atropelada”, informou.

Segundo Ozias, artigos técnicos publicados em outros países falam que o uso de fone de ouvido causam atropelamentos no mundo inteiro. “A pessoa põe o iPod, o MP-4 e o MP-3 e, com isso, não escuta buzina ou o motor do carro se aproximando. Ela se abstrai do mundo onde está, vai andando ao ritmo da música e normalmente esquece o que está fazendo. De repente, ela vira e atravessa uma rua sem prestar atenção”, disse Ozias.

Com o celular a distração é a mesma, segundo o especialista. “É mais fácil se distrair do que quando falamos pessoalmente. Se você está andando com uma pessoa ao seu lado, está vendo a pessoa, olha para ela eventualmente e também para os lados. Se está com alguém no carro, conversando, a pessoa está ao seu lado e você não fica imaginando a pessoa. No celular, você mergulha na sua mente como se estivesse vendo o rosto da pessoa, focado nela, mesmo sem visualizar. Conversa com uma pessoa na sua cabeça”, disse. Se a pessoa é sua conhecida, a distração é maior ainda, segundo ele. “O rapaz falando com a namorada imagina o rosto dela e chama mais a atenção dele”, afirmou.

Quando o celular do pedestre ou do motorista toca, ele passa por três momentos de distração, segundo Ozias. “Quando escuta o celular tocando ou vibrando, ele começa a desligar a atenção daquilo que está vendo ou fazendo para concentrar no aparelho. No segundo momento, pega o celular, que pode estar no bolso ou na bolsa da mulher. Depois, olha para o celular, toca nele e vai lá onde tem que apertar a tecla ou correr a mão para atender. Então, você já tem três momentos perigosos em termos de perder a atenção: de percepção, ação e de levar o aparelho ao ouvido para começar a falar”, disse.

Além de ser atropelado, o pedestre ainda corre risco de tropeçar, trombar em outra pessoa e ser assaltado. “Nessa hora, a mulher abre a bolsa para pegar o celular e se torna indefesa”, afirma. A pessoa que atravessa a rua falando ao celular também calcula errado a distância do carro que se aproxima, alerta.

A recomendação do especialista é jamais atender o celular quando estiver andando na rua. Se possível, deve procurar um local seguro, como o interior de uma loja, para conversar calmamente. “Seu celular é objeto de cobiça, é interessante para o traficante e para o viciado em drogas. A vítima também pode reagir, correr atrás do ladrão e ser atropelado. O perigo não é só ficar distraído com o trânsito”, afirma.

SEM NOÇÃO DO RISCO


O almoxarife Arley Jefferson Xavier, de 27, mora em Ribeirão das Neves, Grande BH, e trabalha no interior. Ontem, quando estava em Belo Horizonte, por pouco não foi atropelado na Amazonas com Afonso Pena. “Estava ouvindo uma gravação da operadora de celular, pois pretendo mudar de plano. Olhei para os dois lados, mas não vi o carro chegando”, disse.
O empresário Marcílio Franco da Silveira, de 31, também não largou o celular quando atravessava as duas pistas da Afonso Pena em diagonal, fora da faixa de pedestre e em meio aos veículos. “Força do hábito (falar ao celular) e correria. Normalmente, consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo”, justifica o empresário, dizendo que clientes e funcionário telefonam para ele o tempo todo. Meia hora depois, ele foi flagrado novamente atravessando a Avenida Amazonas, ainda falando ao telefone.

O pedreiro Valmir Ribeiro da Silva, de de 32 anos , admite que não consegue ficar sem o celular, mesmo quando está dirigindo. Ontem, foi a pé da Santa Casa, no Bairro Santa Efigênia, à Praça Sete, no Centro, falando o tempo todo ao celular e atravessando ruas e avenidas com trânsito intenso. “Falo mais de 10 minutos. É um hábito, talvez. Clientes ligam o tempo todo e até quando estou trabalhando ou dirigindo fico com o celular ligado, mas nesses casos só com fone de ouvido”, disse.


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