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Estado de Minas

Celular é distração perigosa para pedestres no trânsito

Morte de pedestre atropelado em avenida falando ao celular reacende alerta para abuso cometido também por motoristas. Estado de Minas fez vários flagrantes em apenas uma hora


postado em 14/06/2012 06:00 / atualizado em 14/06/2012 07:29

"Vou registrar uma empresa e tenho o dia todo para isso. Não estou com pressa, mas é a força do hábito de fazer tudo correndo. Se a gente for olhar os perigos, nem sai de casa", Estêvão Melquias, de 30 anos, eletricista (foto: JAIR AMARAL/EM/D. A PRESS)

O atropelamento de um pedestre por um ônibus enquanto falava ao celular na Avenida Getúlio Vargas, na noite de segunda-feira, não é um caso isolado e expõe um problema crescente:  a falta de atenção no trânsito, inclusive de motoristas. Dirigir usando o telefone está no topo do ranking das multas aplicadas pelo Batalhão de Trânsito (BPTran). Foram 26.236 autuações até maio. Os pedestres, no entanto, pegam carona na desatenção, distraindo-se com mensagens de texto, internet no smartphone, aparelhos eletrônicos e fones de ouvido no momento de atravessar ruas e avenidas.

A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia divulgou pesquisa recente sobre riscos da distração no trânsito. Em 66% dos casos, o pedestre respondeu que usava celular, estatística que só perde para atravessar com sinal fechado e fora da faixa. Essa atitude se equivale, com base nas respostas de cariocas e paulistas entrevistados no trabalho, ao fato de não olhar para os dois lados antes de atravessar.

Ontem, durante uma hora, reportagem do Estado de Minas flagrou 20 pessoas atravessando ruas ou avenidas de olho no aparelho, muitas fora da faixa e com o sinal aberto para veículos. Segundo o diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Dirceu Rodrigues Alves Júnior, o pedestre que manuseia o telefone, atende uma chamada ou se diverte com equipamentos eletrônicos que tocam músicas perde capacidades importantes de avaliação e resposta.

“O indivíduo tem dificuldade de atenção e lentidão no raciocínio e também não consegue ter uma resposta motora rápida e adequada à situação de risco, se perde no espaço, deixa de ouvir a buzina, a frenagem. Com isso, corre o risco de ser atropelado, de esbarrar em alguém, de tropeçar ou cair em buraco”, alerta o especialista.

Estudo da Universidade de Stony Brook, de Nova York (EUA), diz que 60% das pessoas não conseguem andar em linha reta quando usam o celular na rua. “Distraído, ele fica ainda mais suscetível ao acidente. O pedestre anda muito desorientado, afoito, atravessa fora da pista e ainda teclando no celular ou navegando na internet. Na verdade, a tecnologia atrapalha nesse sentido e deve ser evitada na rua ou no trânsito, por quem está de carro. Nem mesmo o GPS deve ser consultado, a não ser que o motorista estacione e desligue o carro. Perdido nesse universo, entretido com a tecnologia ou a música, ele não se concentra. Mas o pedestre é quem mais deve se proteger, porque é a maior vítima do trânsito, seguido pelo motociclista e só depois o motorista”, completa Dirceu.

Atento aos motoristas que dirigem usando o celular, o comandante do Batalhão de Trânsito, tenente-coronel Renato Lemos, percebe que cada vez mais os pedestres também se arriscam falando ao celular, principalmente na região da Praça Sete, no Centro de BH. Situações assim, em algumas cidades americanas, resultam em punição e pagamento de multa, para evitar acidentes com pedestres. “Tem muita gente atravessando a Avenida Afonso Pena falando ao celular. A gente percebe que a pessoa está sem atenção, mas só podemos multar o motorista. Toda hora a gente faz autuação de veículos em movimento com a pessoa falando ao celular”, diz o militar. No ano passado, a unidade multou 48.480 motoristas.

Na noite de segunda-feira, Milton Rodrigo do Prado, de 27 anos, morreu atropelado quando atravessava a Avenida Getúlio Vargas na esquina com a Rua Maranhão, no Bairro Fuincionários. Testemunhas confirmaram que ele falava ao celular e que olhou apenas para um dos lados da via. No ano passado, o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) atendeu 2.641 vítimas de atropelamento. Este ano, foram 1.174, 117 só em junho. Em Minas, são 24,7 milhões de aparelhos, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), uma média de 1,2 aparelho por habitante.

De acordo com o tenente- coronel Lemos, pedestres e motoristas envolvidos em acidentes não admitem que falavam ao celular. “Escondem esse dado e não conseguimos constar na ocorrência. Se negam a falar por entender que vão perder direito, ser prejudicados, e usam isso como defesa”, explica. “No trânsito ou na rua, o uso do aparelho causa perda de concentração e falta de atenção. Muitas vezes, o pedestre usa celular e não percebe que a via é de mão única , mão dupla, ou se o semáforo está aberto para ele. Perde totalmente a visão periférica, pois está concentrado naquela conversa. Às vezes, até discutindo com a esposa e namorada, e perde a noção do perigo, ao invés de parar, conversar e resolver tudo”.


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