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Estado de Minas

Crianças dão lições de cidadania em casa e na escola

No Convento São Francisco, freiras recebem o carinho e a alegria da meninada disposta a dar bons exemplos


postado em 04/05/2012 06:00 / atualizado em 04/05/2012 07:33

Além de apresentações de dança e música, irmãs ganham o carinho e a atenção dos alunos do segundo período do Colégio Franciscano Sagrada Família(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Além de apresentações de dança e música, irmãs ganham o carinho e a atenção dos alunos do segundo período do Colégio Franciscano Sagrada Família (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)

“Paz e bem”, sorri Fernanda Chaves, de 5 anos. Tão pequena e tão educada, chama a atenção. Não é a única na sala festiva e colorida. Fernanda tem 21 colegas da mesma idade que repetem em coro a saudação de São Francisco de Assis. Juntos ou separados, eles praticam a bondade que sopram entre os dentes bambos, de leite. No campo das boas ações, já são sujeitos de atitude: produzem e reciclam brinquedos para outras crianças; coletam doações para recém-nascidos; ajudam os pais nas tarefas de casa e visitam idosos regularmente. Desde o início do ano, orientada pela professora Annelise Rodrigues, de 39, a turma do segundo período do Colégio Franciscano Sagrada Família, no Bairro Caiçara, na Região Noroeste de Belo Horizonte, dá exemplo de cidadania e respeito ao próximo. Exemplo tamanho que chega a encantar quem dedicou à vida às alegrias do outro. “É a coisa mais linda que já vi na vida”, emociona-se Irmã Suzana, de 90, do Convento São Francisco.

O pequeno Gabriel de Oliveira, satisfeitíssimo consigo mesmo, levanta a mão e pede a vez para falar: “Hoje lavei quatro paredes com a minha mãe. Foi difícil, mas minha mãe ficou muito feliz. Tem mais uma grandona pra lavar”. Arthur Chaves, olhos brilhantes e postura de gente grande, também tem o que dizer. Conta que, em casa, já consegue cuidar sozinho dos jabutis Sombrinha e Floquinho. João Vítor exibe o cartão feito no molde de sua mão, desenhado com flores na ponta dos dedos, pronto para tocar o coração de alguém. Marcela Fidelis, a doçura em forma de gente miúda, tem uma pergunta: “Você já sorriu hoje?”. Como não, Marcela? “Eu tô sorrindo toda hora”, responde um mocinho do fundo, em tom de brincadeira. Rafael Andrade revela que arruma a cama e faz o dever de casa sozinho.

Giovana Lott, ajuda a cuidar do irmãozinho, ainda bebê, e diz que gosta de cantar para as irmãs idosas, abrigadas no convento. Maria Luiza quer ser ainda mais solidária: “Vou pedir para a minha mãe pegar as minhas roupas de quando eu era neném. A gente vai doar para os pobres”, afirma. As crianças, atentas umas às outras, querem participar da conversa. Thiago Tavares, sem perder a meninice de sua estatura, faz carinha séria e diz que a maior lição que tem aprendido com a professora Annelise é “respeitar as pessoas e obedecer”. Fernanda Chaves, a mocinha doce do “paz e bem”, demonstra cuidado com as ações mínimas que fazem muita diferença: “A gente não deve jogar lixo no chão nem chutar as pessoas”, ensina.

No meio da conversa, pausa para a cantoria em coro, puxada por Fernanda: “É sinal de educação/ Fazer sua obrigação/ Para ter o seu direito de pequeno cidadão”. A letra é do cantor, compositor, escritor e poeta Arnaldo Antunes, é a inspiração da educadora Annelise, que, dentro de seu projeto pedagógico, tem trabalhado três canções do CD Pequeno cidadão, lançado em 2009. Na porta de entrada, pequena biografia do multiartista. Nas paredes da sala de aula, as letras escritas no papel para ninguém fazer feio na hora de cantar ou transformar em atitude. A hora mais esperada: a visita ao Convento São Francisco, vizinho na avenida. Todos de mãos dadas para a cruzada do bem e vencer o portão.

RESPEITO, GRAÇA, PAZ E BEM Nos jardins internos do número 547 da Avenida Carlos Luz, três rosas cor-de-rosa se destacam. Os pequenos se espalham, respeitosamente pelo espaço de paz e bem. A irmã de hábito e bengala avança rumo ao pátio em flor. Irma Suzana de São Miguel, de 90, sorri. “Boa tarde! Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!”, ela diz. “Para sempre seja louvado”, responde o coro infantil. “O retrato com vocês vai enfeitar o meu álbum”, completa a irmã. Os meninos fazem festa com todo o respeito que dão conta. Os mais serelepes brincam além da conta e são chamados à atenção. Fernanda e Gabriela Gonçalves ensaiam número de dança em pas de deux animado para as freiras.

Enquanto o “show” da dupla não fica pronto para ser mostrado, alguns garotos “presenteiam” Irma Nair, de 85, com sementes colhidas no quintal. Fazem galhardia com tudo o que acham belo encontrado no gramado. Querem agradar e marcar presença na visita. Nascida em Bom Jesus do Amparo, Região Central de Minas Gerais, Irma Nair diz ficar sempre contente com a visita da garotada. “É com muita alegria que recebo o carinho das crianças”, diz a boa senhora dos cabelos de algodão. Pouco a pouco a plateia de irmãs vai se formando para o duo improvisado pelas duas “estrelas bailarinas”.

Irmã Salete Lazzarotti, de 82, acompanha e auxilia Annelise e seus 22 pupilos durante a visita. Orgulhosa do trabalho exemplar de doação e transformação, a religiosa conta quase 60 anos de devoção. Observa com carinho o pátio tomado pelos jovens alunos. “Trabalhos assim, de conscientização, são importantes. Quanto antes as crianças tomam conhecimento do que deve e o que não deve ser feito, melhor é para todos”, considera. Hora da performance. Naquela estatura da boa vontade, duas gerações tão distantes – os pequenos da boa ação e as gigantes da fé –, reunidas, nem era preciso ser bonita a apresentação. Perfeito, ali, é o exemplo, palmas de muitas mãos.


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