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Estado de Minas

Galeria que leva água de córregos para leito concretado do Arrudas exige manutenção constante


postado em 01/04/2012 07:51 / atualizado em 01/04/2012 07:59

A passagem apertada exige uma ginástica. Para se equilibrar na escuridão, só tateando as paredes ou se arrastando inclinado para não perder a lanterna. Mesmo completamente vedado, usando macacões plásticos emendados em botas – as pantaneiras –, é possível sentir a correnteza e o frio da água contaminada pelo esgoto correndo na altura dos calcanhares. A respiração abafada é interrompida por contrações bruscas do estômago toda vez que o cheiro ruim vence os filtros da máscara. O aperto nessas condições extremas ocorre cerca de três metros sob a Rua Pernambuco, na Savassi, numa das galerias fluviais mais antigas de Belo Horizonte, dos anos 1930.

Essas são algumas das sensações enfrentadas por quem se aventura a acompanhar profissionais que trabalham na manutenção dos 150 quilômetros de galerias fluviais de Belo Horizonte. Por um dia, a reportagem do EM esteve ao lado de uma equipe da empresa Recuperação, contratada pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para vistoriar e diagnosticar a situação desses dutos subterrâneos. Mesmo com toda indumentária protetora e os equipamentos de medição em mãos, esses trabalhadores conhecem bem os locais e se movem com agilidade pelos túneis. Diariamente, eles enfrentam o desafio de escapar de doenças como a febre amarela, o tétano e as hepatites tipo A e B – contra as quais são vacinados – toda vez que submergem na escuridão de tampões metálicos nos passeios, sobre os quais a população pisa sem se dar conta de um mundo obscuro, infestado por um ecossistema de arrepiar.

Cuidados Além das doenças provocadas por micro-organismos, no breu circulam hordas de baratas. Os insetos são emboscados por escorpiões, que se escondem em frestas entre pedras e ferragens. Mais raro, de acordo com a equipe, é encontrar ratos e ratazanas, comuns no Centro. Eles se lembram de já ter encontrado um cadáver, que foi recolhido pela polícia. “É um trabalho muito arriscado, que exige preparo e metodologia. Não descemos com menos de três pessoas. Se alguém se machuca ou tem problemas, sobra um para pedir ajuda e outro para ficar com ele”, conta o diretor da empresa, Evandro Cássio de Souza, que disse já ter percorrido toda a rede da cidade cinco vezes. Pessoas morando no subterrâneo ele diz nunca ter visto, mas do leito de concreto do Arrudas não é difícil observar mochilas e trapos enrolados escondidos pela população de rua que perambula pela Avenida dos Andradas perto dos hospitais.

Passagens antigas Galerias apertadas como a da Rua Pernambuco, que abriga o Córrego do Zoológico, vindo do Mangabeiras (Região Centro-Sul), são passagens mais antigas e abrigam o esgoto dispensado pela população. As paredes de pedra argamassada e o teto em forma de abóbada, com séries de tijolos, são de uma engenharia comum no início do século passado, quando a cidade estava ainda se estruturando. “Algumas vezes o piso é cimentado para dar mais velocidade de escoamento. As séries de tijolos em arco podem parecer frágeis, mas na verdade são constituídas por três ou mais camadas”, conta Souza.

A primeira coisa que os vistoriadores dos subterrâneos fazem antes de entrar nos postos de visita, que é como chamam as aberturas no passeio, é descer uma corda com um medidor de gases. Conferem níveis de oxigênio, gás carbônico, monóxido de carbono e gás sulfídrico. A engenheira responsável pela segurança do grupo, Virgínia Maria Gonzaga, alerta sobre o perigo de respirar esses gases. “Alguns deles são venenosos e podem intoxicar a equipe num ambiente perigoso. Até o nível baixo de oxigênio é perigoso, pois pode provocar desmaios. A alta quantidade do oxigênio causa euforia: leva a cometer erros e impede o desempenho do trabalho”, conta.

Mais modernas, revestidas completamente por concreto armado, a maioria das galerias da rede fluvial de BH também precisa de manutenção constante. Um dos motivos é a injeção de esgoto clandestino, que provoca estragos na estrutura de concreto e corrói até as barras de aço. Os vergalhões também acabam arrancados pela força da correnteza na época das chuvas. O Córrego da Serra, que desce do Parque das Mangabeiras e deságua no Ribeirão Arrudas, na altura do Bulevar Shopping, enfrenta o problema de despejo de móveis, eletrodomésticos e animais mortos.

“Parte desse lixo se prende nas curvas das sessões abaixo das ruas da cidade, bloqueando o caminho da água, que acaba aflorando na superfície, arrastando carros e invadindo moradias e comércios”, afirma Souza. (MP)
 
Galeria sob a Avenida dos Andradas onde deságua no Ribeirão Arrudas o Córrego da Serra
 


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