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Estado de Minas

Com reforma, Praça da Savassi muda até de nome

Reforma trouxe prejuízo para mais gente além dos comerciantes: o historiador e senador que dá nome ao local perdeu parte do sobrenome nos novos totens de identificação


postado em 31/03/2012 06:00 / atualizado em 31/03/2012 07:29

Antes de ser da Savassi, a praça nobre de Belo Horizonte ora passando por uma recauchutagem sempre foi e sempre será Diogo de Vasconcelos. Poderia ser Diogo de Vasconcellos, sem nenhum prejuízo para o homenageado, um personagem da história de Minas Gerais, que nasceu em Mariana, em 1843, e morreu na capital, em 1927. Mas nos imensos postes de aço escovado, chamados de totens, instalados pela prefeitura na praça em renascimento grafou-se Diogo Vasconcelos, sem o "de".

O equívoco desagradou ao advogado José Carlos de Melo Ribeiro, 68 anos, que conversava com o amigo Joaquim Osório, de 80, na tarde quente e de trânsito confuso, na confluência da Avenida Getúlio Vargas com Avenida Cristóvão Colombo. "Mate o homem, mas não mude o nome", disse. "Se estamos homenageando alguém, temos que respeitar a correta grafia do nome". Joaquim concorda com o amigo e aproveita a oportunidade para reclamar do tráfego intenso na Rua Grão Mogol.

A grafia errada do nome do marianense, um dos incentivadores da criação do Arquivo Público Mineiro, ficou à mostra depois que os operários retiraram a película que encobria as denominações da praça, das ruas Pernambuco e Paraíba e das avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas. As pessoas parecem indiferentes à novidade, mas numa tarde tumultuada e apressada de sexta-feira não há tempo para meras apreciações. E há até quem aponte motivo maior de indignação.

"Olhe para aqueles quarteirões fechados. Parecem cemitérios", diz o arquiteto Airton Nunes, de 58 anos, sentado em uma mesa de bar no novo calçadão da Rua Paraíba. Ele aponta os canteiros quadrados de mármore, ainda sem plantas na Pernambuco, e os bancos do mesmo material, alguns já ensebados pelas roupas encardidas de moradores de rua. De longe, o conjunto lembra, ligeiramente, uma fileira de lápides. "Diante desse mau gosto demasiado, um 'de' a mais ou de menos não significa nada."

A Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana informou, por meio da assessoria de comunicação da prefeitura, que vai fazer um estudo e, se comprovar erro, fará a troca. A busca da resposta será uma briga boa. De um lado, a prefeitura com o Diogo Vasconcelos; do outro, o Dicionário Biográfico de Minas - que cita, entre outras fontes, documentos do Legislativo mineiro, pois o cidadão foi deputado -. um artigo publicado na Revista do Arquivo Público Mineiro e até a Wilkipédia.

O artigo, publicado na revista em 1902, grafa Diogo Luís de Almeida Pereira de Vasconcellos, respeitando grafia original do século 19, forma também adotada na Wilkipédia. Já o dicionário, obra de 1994, adota Vasconcelos em vez de Vasconcellos. Mas em nenhuma das publicações ou na enciclopédia eletrônica o nome do homem perdeu o "de". Até a cidade que o homenageia, na Zona da Mata, Diogo de Vasconcelos, respeita a partícula.

Cada um dos 12 totens da praça tem 15 metros de altura. Os nomes foram escritos numa chapa de cerca de três metros de largura por oitenta centímetros de largura. Duas deles ostentam o Diogo Vasconcelos. Se a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) for orientada pela Regulação Urbana a fazer a correção, terá que retirar as chapas. "Não será difícil nem caro", diz Eduardo Beggiato, da B&L Beggiato Leal Arquitetura, empresa autora do projeto.

Quem foi

Diogo Luís de Almeida Pereira de Vasconcellos era filho de tradicional família mineira. No Império, foi senador e primeiro-ministro. Estudou no seminário de Mariana, no Mosteiro de São Bento (Rio de Janeiro) e na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.

Depois da Proclamação da República, filiou-se ao Partido Conservador, presidiu a Câmara de Municipal de Vereadores de Mariana, elegeu-se deputado e senador. Era um católico fervoroso, seguindo linha religiosa da família. Escreveu vários livros, entre os quais História antiga de Minas Gerais e História média de Minas Gerais.


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