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Estado de Minas

População de aglomerados chega a quase 600 mil em Minas, metade deles em BH

Minas tem quatro favelas entre as 100 maiores do país. O Jardim Terezópolis/Santo Antônio, em Betim, na Grande BH, é a primeira do estado e a 24ª brasileira, com mais de 20 mil moradores.


22/12/2011 07:24 - atualizado 22/12/2011 08:08

Aline, com a filha recém-nascida e a avó Berenice: gerações fincadas na Cabana do Pai Tomás, maior aglomerado de BH
Aline, com a filha recém-nascida e a avó Berenice: gerações fincadas na Cabana do Pai Tomás, maior aglomerado de BH (foto: Túlio Santos/EM/D.A PRESS)
Imagine que uma cidade do porte de Uberaba, a oitava de Minas em população, fosse toda formada de becos, vilas e ruelas, enfim, um grande aglomerado com cerca de 300 mil habitantes. Pois essa é a realidade de Belo Horizonte, que tem esse contingente vivendo em 87 mil domicílios de 169 vilas, favelas e assentamentos, e está retratada pela primeira vez no estudo “aglomerados subnormais”, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa, baseada nos dados do Censo Demográfico 2010, usa a tecnologia de imagens de satélite para fazer uma radiografia completa dessas comunidades, que somam 598,7 mil moradores no estado – quase a população de Uberlândia – e 11,4 milhões em todo o Brasil. O levantamento inédito também traça o perfil de serviços básicos, como água, esgoto e coleta de lixo, disponíveis nesses locais. Em comparação com último censo, em 2000, o número de pessoas morando em aglomerados subiu 75% no país, 14,9% em Minas e 14,2% em BH.

Minas tem quatro favelas entre as 100 maiores do país. O Jardim Terezópolis/Santo Antônio, em Betim, na Grande BH, é a primeira do estado e a 24ª brasileira, com mais de 20 mil moradores. Em seguida, aparecem a Cabana do Pai Tomás, maior aglomerado da capital e 50º do país, com 17,2 mil habitantes na Região Oeste; o Conjunto Taquaril (14,9 mil) e o Alto Vera Cruz (14 mil), ambos na Região Leste. As oito vilas que formam o Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul da cidade, reúnem 38,2 mil moradores e são consideradas pelo IBGE um complexo. Por esse conceito, não detalhado na pesquisa, a Serra seria a maior favela de Minas e de Belo Horizonte. Na sequência, também na categoria “complexo”, estão o Aglomerado Morro das Pedras e a Barragem Santa Lúcia.

O título de maior favela da capital surpreendeu moradores da Cabana do Pai Tomás, que desde a década de 1960 ocupam terrenos irregulares em área vizinha à Avenida Amazonas, quase na divisa com Contagem. Com quatro gerações “nascidas e criadas” no aglomerado, a história da aposentada Maria Berenice de Andrade, de 64 anos, se confunde com a da comunidade. “Minha mãe foi uma das primeiras moradoras e me lembro de viver em barraco de lona no meio da mata, quando viemos de Pompéu (Região Central de Minas). Depois, teve a invasão de uma fazenda e as famílias cederam terrenos umas para as outras. Criei seis filhos e 15 netos na Cabana e minha primeira bisneta nasceu aqui. Tenho uma relação maravilhosa com o lugar”, diz ela, orgulhosa da pequena Carolaine, com 27 dias de vida, nos braços da mãe Aline, de 20 anos.

Dificuldades

Apesar da afinidade dos moradores com os aglomerados, viver nesses locais ainda é um desafio. Há dificuldades de acesso a serviços públicos, como saneamento básico, energia elétrica e coleta de lixo. Em Minas, o maior problema é a ligação das favelas com a rede de esgotos: 14,5% dos domicílios desses locais não contam com o benefício. Outra questão é a falta de coleta de lixo e limpeza de ruas. A Vila Alto das Antenas, na Região do Barreiro, tem a situação mais crítica da capital, segundo o IBGE, com quase 80% dos moradores sem acesso ao recolhimento de resíduos.

O mar de barracos sem reboco e vielas apertadas também desafiam o planejamento urbano no interior do estado. Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, é a cidade mineira com o maior percentual de moradores em aglomerados. No total, 20,3% da população de 103,4 mil habitantes está em vilas e favelas. Vespasiano, na Grande BH, é a segunda colocada, com 20,2%. “A maior parte das famílias vive em áreas de risco ou terrenos irregulares. Na época das chuvas, vivemos um filme de terror, com desabamentos e desmoronamentos. Água, esgoto e energia quase todo mundo tem, mas pagar todas as tarifas não é fácil para os que enfrentam situação de pobreza”, reclama o presidente da Associação Comunitária do Bairro Morro Alto, Palmireno Santos.

No interior de Minas, Caratinga, no Vale do Rio Doce, é o terceiro município com maior população em comunidades carentes (18,6%). Os 11,6 milhões de brasileiros que vivem em vilas e favelas estão distribuídos de forma irregular pelo país. A Região Sudeste concentra quase a metade desses domicílios (49,8%), sendo que o estado de São Paulo reúne o maior número de famílias (23,2%), seguido do Rio de Janeiro (19,1%). Os cariocas têm a maior favela do Brasil, a Rocinha, com quase 70 mil habitantes. Em números absolutos, Minas é o quarto estado em aglomerados e BH é a sétima capital, atrás do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belém, Fortaleza e Recife.

Parâmetros do IBGE

O IBGE classifica como aglomerado subnormal cada conjunto de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes de serviços públicos essenciais (abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e fornecimento de energia elétrica); que ocupem, ou tenham ocupado em período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular); e que estão dispostas de forma ordenada e densa, fora dos padrões vigentes de urbanização. O IBGE ressalva que, nesta edição, foram usadas inovações metodológicas e operacionais, o que dificultaria comparações com o censo 2000.



EM NÚMEROS

População

Brasil

6% da população vive em aglomerados subnormais

11,4 milhões de pessoas estão distribuídas em 6.329 comunidades, de 323 municípios

Minas

3,1% da população vive em aglomerados subnormais

598,7 mil pessoas estão distribuídas em 372 comunidades, de 33 municípios

Belo Horizonte


13% da população vive em aglomerados subnormais

307 mil pessoas estão distribuídas em 169 comunidades. Ao todo, são
87,7 mil domicílios

Ranking



Jardim Terezópolis/ Santo Antônio, em Betim, é a maior favela de Minas

Com 23,1 mil moradores, está em 24º lugar no ranking brasileiro

Três aglomerados de Belo Horizonte estão entre os 100 maiores do Brasil:

Cabana do Pai Tomás, com 17,2 mil pessoas

Conjunto Taquaril, com 14,9 mil pessoas

Alto Vera Cruz, com 14 mil pessoas



Coronel Fabriciano é a cidade de Minas com o maior percentual de moradores em aglomerados: 20,3% da população vive em favelas. Em seguida, aparecem Vespasiano (20,2%), Caratinga (18,6%), Timóteo (15,5%) e Belo Horizonte (13,1%)

Considerada um complexo, a Serra engloba oito aglomerados e soma 38.225 moradores. Por esse conceito, a Serra seria a maior favela de Minas e de Belo Horizonte

Em Belo Horizonte, o IBGE também denomina como complexo o Morro das Pedras (com oito aglomerados e 16,6 mil moradores) e a Barragem Santa Lúcia (com três aglomerados e 15,6 mil moradores)

Montes Claros tem 14 aglomerados

O domicílio não tem rede de esgoto e a energia elétrica é “emprestada” de um vizinho, por meio de um “gato”. É nessas condições que vive Anália Souza Gonçalves (foto), de 23 anos, que mora na antiga Favela Vila Murici (atual bairro Itatiaia) em Montes Claros (Norte de Minas). Segundo o IBGE, Montes Claros tem 14 aglomerados subnormais, onde residem 15.607, o correspondente a 4,5% da população contada na cidade em 2010 (360.758). Foram registradas na cidade 4.110 moradias em áreas de favela, dentro de um total de 104.184 domicílios no município. Polo regional, Montes Claros sofreu um processo de inchaço populacional, que se intensificou nas décadas de 1970 e 1980, tendo em vista o recebimento de retirantes da seca de outros municípios do Norte de Minas. Muitos deles foram parar em terrenos invadidos, formando as favelas, como ocorreu na antiga Vila Murici. (Luiz Ribeiro)


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