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Estado de Minas

Gente de fora ou da capital exibe seu amor em fachadas de imóveis caros à trajetória de BH

Em suas histórias, uma batalha para levar adiante a simples vontade de preservar


postado em 11/12/2011 07:07

Maria Geralda hoje mora no casarão que admirava desde menina:
Maria Geralda hoje mora no casarão que admirava desde menina: "É uma honra" (foto: Jair Amaral/EM/D.A.Press)
 

Na luta pelo patrimônio, conscientização e atitude dos cidadãos se tornam fundamentais para impedir a destruição da memória. E muitas pessoas dão exemplos – e boa parcela de contribuição – contra o desmazelo e abandono, considerando uma “honra” zelar pelos imóveis de relevância cultural. É o caso da dona de antiquário Maria Geralda dos Santos, de 56 anos, proprietária do casarão de cor salmão na esquina das ruas Biotita e Itajubá, no Bairro Floresta, Região Leste. O imóvel, segundo ela, é dois anos mais velho do que BH e tem como atração as pinturas parietais (feitas diretamente sobre o reboco) na varanda. Maria Geralda está acostumada com o movimento de curiosos, estudantes, engenheiros e arquitetos, sempre interessados no resgate da memória da casa, que ela já comprou tombada pelo patrimônio, em 2000.

Desde os 7 anos, a garota que se tornaria antiquária, com negócios na Floresta, sonhava com o imóvel: “Passava na rua, menininha, e ficava encantada com a casa. Aí, na primeira oportunidade, reuni o dinheiro e fui comprá-la”, conta. Livre do IPTU devido ao tombamento, Maria Geralda revela não ser fácil conservar o local – hoje, loja de móveis antigos – em ordem. No entanto, sente-se “feliz e honrada” em ajudar a manter vivo esse pequeno pedaço do passado.

Sempre atenta, Maria Geralda acredita ter vencido os pichadores pelo cansaço. “Eles sujavam à noite, eu pintava de dia. Foi assim por anos. Há oito meses, graças a Deus, me deixaram em paz. Cheguei a colocar placa, com um apelo para que eles pensassem nas mães deles, porque eu também sou mãe”, conta. No quintal bem cuidado, entre palmeiras, pés de canela, manacá, limão, romã e mirra, a antiquária lamenta a má educação que envergonha o cidadão de bom senso. “Chega a ser um absurdo. Compram sanduíche, tomam café e jogam a embalagem e o copo descartável, pelo muro, dentro do meu quintal. Colocam os pés nas paredes e sujam tudo. Não sei como não entendem algo tão simples: que a cidade é um bem de todos”, ressalta. Maria Geralda entende que cabe ao poder público ajudar na preservação, mas acredita que esse triste quadro de pouco caso só mudará quando o belo-horizontino despertar para as suas responsabilidades para com a sociedade e o ambiente em que vive.

Na Rua Itajubá há sete imóveis tombados pelo patrimônio: dois bem cuidados; cinco de fazer dó. O número 121, recém-alugado por imobiliária, tem o azul castigado pela ação de pichadores. Marcelo Ferreira Vieira, de 46, gerente de locação, nascido e criado no Bairro Prado, reclama que o povo de BH tem uma característica: “Gosta, mas não cuida”. Para Marcelo, o poder público deveria tomar medidas mais enérgicas para coibir a ação dos pichadores, especialmente quanto aos bens protegidos. Na casa tombada em que trabalha, com revestimento de pedras do chão até a altura das janelas, a nova pintura ainda está no papel, pois precisa ser aprovada conforme a legislação do patrimônio. Do outro lado da calçada, na esquina com Rua Síria, salta aos olhos o contraste de um prédio moderno, em pastilhas, vidro e granito, estalando de novo, e ainda em acabamento, merecedor de todo o cuidado, com da feiura e desrespeito ao passado de um imóvel vizinho.

O empresário Antônio Marra, mineiro, foi apaixonado por Belo Horizonte. Tanto que fez questão de marcar o casamento para o dia do aniversário da cidade. Se vivo estivesse, hoje, completaria 41 anos de união com Carmen Lúcia Grein Marra. A viúva, de 63 anos, paranaense, construiu história de amor com a capital mineira, educou os filhos, ergueu negócios e se enraizou. “Sou mais de Minas do que do Paraná”, considera. Carmen diz amar a cidade e sua história, mas não perdoa o belo-horizontino pela falta de educação com o patrimônio. “Falo com tristeza, porque gosto muito das pessoas daqui, mas o maior problema é a falta de cultura. A maioria da população não sabe cuidar da nossa cidade, infelizmente. Isso sempre me assustou, desde que cheguei.”

Ainda na Rua Itajubá, o número 151, escrito em retângulo de louça colorido, é um detalhe da parede de uma casa em bom estado que dá para a rua. Na residência, um visitante: Aaron Kawai, fotógrafo, de 26. O amigo Antônio Esteves, de 28, responsável pela casa, não está. É o paulista de São José dos Campos (SP), pela segunda vez na cidade, quem abre as portas do sobrado. Fala com encantamento sobre BH e diz que trocaria facilmente São Paulo por Minas Gerais. Mas, assim como Carmen e Marcelo, entende que mais cuidados com a limpeza deixariam a cidade bem mais atraente. Na casa – um tipo loft, habitado por gente de arte –, num canto sobre uma banheira antiga, uma homenagem: retrato em preto e branco do arquiteto Justino Erreira de Mello, criador da casa, quando BH era garotinha, antes de os automóveis engessarem a metrópole.


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