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Estado de Minas VALE-TUDO NA LEI DAS RUAS

Pedestres imprudentes também são responsáveis pelo caos no trânsito

Especialistas apontam que caos no tráfego não pode ser atribuído apenas aos motoristas, mas também é responsabilidade de pedestres imprudentes e de uma fiscalização falha


postado em 23/10/2011 07:18 / atualizado em 06/12/2011 07:54

BEM DEBAIXO DA PLACA - Motorista ignora proibição até de parada e estacionao carro: infração grave com multa de R$ 127,69(foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
BEM DEBAIXO DA PLACA - Motorista ignora proibição até de parada e estacionao carro: infração grave com multa de R$ 127,69 (foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
O sistema de mobilidade no Brasil se assemelha ao de países como a Índia e o Paquistão, onde o ambiente urbano, em especial o trânsito, é moldado pelo caos. A avaliação é do doutor em planejamento de transportes Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral. Para ele, toda metrópole vive o problema da falta de espaço para um trânsito fluente e, diante deste cenário, o ideal seria que todos respeitassem as regras para usufruir do espaço limitado. Na opinião de especialistas, o motorista e o pedestre são responsáveis pelo trânsito desgastante e a falta de fiscalização e punição severas favorece a desobediência.

“A falta de espaço cria não só o congestionamento das vias, mas do ambiente urbano. Não há lugar para estacionar, falta área para carga e descarga e também há pouco espaço para o pedestre. Esses elementos compõem a mobilidade urbana e, quando há desprespeito, cria-se um clima de transgressão. Nós mesmos somos culpados pelo trânsito ruim”, alerta. Resende explica que o número de multas não é um indicativo de fiscalização de qualidade.

Ele lembra que, em BH, até o ano passado, a Guarda Municipal era responsável pelas notificações, mas ainda havia discussões sobre a atuação da Polícia Militar (por decisão judicial, a BHTrans foi proibida de multar desde dezembro de 2009), cujo convênio foi ampliado este ano. Diretor do Departamento de Engenharia Transportes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilson Tadeu Ramos Nunes concorda. Ele diz que o aumento das multas está relacionado ao crescimento da frota de veículos e à quantidade de motoristas inexperientes nas ruas.

“As pessoas simplesmente perderam o respeito pela legislação. Se escondem atrás de vidros escuros para falar ao celular, cruzam o sinal vermelho sem se importar se vão bater ou atropelar alguém, bebem e matam com o volante e respondem livremente”, diz Nilson. “Há falhas no sistema, porque é mais interessante multar do que reprimir. Se há um número alto de infrações, é sinal de que o sistema não funciona.”

 

 

AFRONTA NA TRAVESSIA - Atravessar a via na área de cruzamento é infração leve e o pedestre está sujeito a multa de R$ 26,60 (foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
AFRONTA NA TRAVESSIA - Atravessar a via na área de cruzamento é infração leve e o pedestre está sujeito a multa de R$ 26,60 (foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
Nilson morou na Europa e lembra que as campanhas na Inglaterra, por exemplo, são permanentes, desde a infância. “Fala-se sobre a importância de se respeitar as regras de trânsito nos programas infantis. Aqui, não vemos isso e precisamos nos espelhar nas boas iniciativas. Lá fora, se você para o carro em local proibido, a fiscalização trava a roda do veículo e aciona imediatamente o reboque.”

Diante do fato de que o maior número de notificações ocorre com veículos parados, Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, avalia que esse tipo de fiscalização é uma tendência mundial, por facilitar o trabalho. “Com isso, o agente se desloca mais rápido e multa carros num espaço maior. O problema é que deveria haver equipes de rua nas várias situações, de olho também nas infrações cometidas por motoristas que estão circulando, avançando sinal ou travando o cruzamento.”

 
NO ESPAÇO DO PEDESTRE - Motorista evita fila dupla, que pode custar R$ 127,69, e sobe no passeio, multa mais leve (R$ 53,20)(foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
NO ESPAÇO DO PEDESTRE - Motorista evita fila dupla, que pode custar R$ 127,69, e sobe no passeio, multa mais leve (R$ 53,20) (foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
O especialista considera que o efetivo dos agentes de trânsito é pequeno diante da frota, e que a tecnologia, capaz de complementar a fiscalização, também não recebe investimentos. Em Belo Horizonte, apenas 23 sinais de trânsito têm detector de avanço e eles são desligados durante a madrugada, para não expor o condutor à insegurança. “A fiscalização é precária e o uso de tecnologia é baixísimo. Essa combinação gera ineficiência e o que me assusta é que fica só na multa. A punição não assusta ninguém”, avalia ele.

 

Análise da notícia

Desvio na fiscalização


Roney Garcia

Mudaram os responsáveis pelas multas, mas manteve-se a política que há anos norteia a fiscalização em Belo Horizonte. Quem vê a lista das 10 principais infrações na capital nota claramente a predileção dos fiscais por vigiar carros parados. Tanto que das seis punições mais aplicadas por agentes, quatro referem-se a estacionamento. Diante desses dados, pode-se pensar que o motorista da capital estaciona mal, mas é um exemplo ao dirigir. Basta uma volta pela cidade para provar o contrário. Afrontas às regras de circulação são vistas com frequência inversamente proporcional à presença de guardas ou policiais orientando o tráfego ou punindo maus motoristas. Com a retirada do poder de multar das mãos da BHTrans, criou-se a expectativa de que os fiscais da empresa passassem a fazer com mais frequência o que sempre foi sua atribuição: organizar o trânsito. Pelo que se vê nas ruas, não passou de expectativa.


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