
“A falta de espaço cria não só o congestionamento das vias, mas do ambiente urbano. Não há lugar para estacionar, falta área para carga e descarga e também há pouco espaço para o pedestre. Esses elementos compõem a mobilidade urbana e, quando há desprespeito, cria-se um clima de transgressão. Nós mesmos somos culpados pelo trânsito ruim”, alerta. Resende explica que o número de multas não é um indicativo de fiscalização de qualidade.
Ele lembra que, em BH, até o ano passado, a Guarda Municipal era responsável pelas notificações, mas ainda havia discussões sobre a atuação da Polícia Militar (por decisão judicial, a BHTrans foi proibida de multar desde dezembro de 2009), cujo convênio foi ampliado este ano. Diretor do Departamento de Engenharia Transportes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilson Tadeu Ramos Nunes concorda. Ele diz que o aumento das multas está relacionado ao crescimento da frota de veículos e à quantidade de motoristas inexperientes nas ruas.
“As pessoas simplesmente perderam o respeito pela legislação. Se escondem atrás de vidros escuros para falar ao celular, cruzam o sinal vermelho sem se importar se vão bater ou atropelar alguém, bebem e matam com o volante e respondem livremente”, diz Nilson. “Há falhas no sistema, porque é mais interessante multar do que reprimir. Se há um número alto de infrações, é sinal de que o sistema não funciona.”

Diante do fato de que o maior número de notificações ocorre com veículos parados, Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, avalia que esse tipo de fiscalização é uma tendência mundial, por facilitar o trabalho. “Com isso, o agente se desloca mais rápido e multa carros num espaço maior. O problema é que deveria haver equipes de rua nas várias situações, de olho também nas infrações cometidas por motoristas que estão circulando, avançando sinal ou travando o cruzamento.”

Análise da notícia
Desvio na fiscalização
Roney Garcia
Mudaram os responsáveis pelas multas, mas manteve-se a política que há anos norteia a fiscalização em Belo Horizonte. Quem vê a lista das 10 principais infrações na capital nota claramente a predileção dos fiscais por vigiar carros parados. Tanto que das seis punições mais aplicadas por agentes, quatro referem-se a estacionamento. Diante desses dados, pode-se pensar que o motorista da capital estaciona mal, mas é um exemplo ao dirigir. Basta uma volta pela cidade para provar o contrário. Afrontas às regras de circulação são vistas com frequência inversamente proporcional à presença de guardas ou policiais orientando o tráfego ou punindo maus motoristas. Com a retirada do poder de multar das mãos da BHTrans, criou-se a expectativa de que os fiscais da empresa passassem a fazer com mais frequência o que sempre foi sua atribuição: organizar o trânsito. Pelo que se vê nas ruas, não passou de expectativa.
