Uma volta pela cidade e a certeza de que outros bairros enfrentam o mesmo problema de falta de vagas que o São Bento, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Quem circula de carro e não tem onde pará-lo aproveita as esquinas, vagas para carga e descarga, qualquer cantinho, mesmo que atrapalhe a entrada da garagem de alguém. Nem mesmo os espaços debaixo das placas de “proibido estacionar” escapam. Como o Estado de Minas mostrou no domingo, o bairro residencial considerado tranquilo até há pouco tempo recebe o grande fluxo de veículos de quem trabalha na região. Nada muito diferente do que enfrentam os moradores do Sagrada Família, Floresta e Santa Tereza, na Região Leste. Segundo a BHTrans, no primeiro semestre, 53.155 multas foram aplicadas por estacionamento irregular.
A moradora de Santa Tereza Eliana Duarte Figueiredo adotou uma tática educada e até agora infalível para espantar o mau motorista. Moradora da Rua Bueno Brandão, ela diz que a via ganhou movimento intenso depois da instalação de uma faculdade. Na porta de casa, já perdeu a conta de quantas vezes tentou entrar, mas havia um carro parado.
“Sempre param carros aqui, ainda que seja com gente ao volante. À noite, devido ao movimento da faculdade, fica ainda pior. Quando estacionam perto da minha garagem, ainda costumam deixar a beiradinha para fora, o que atrapalha a entrada. Aí, deixo um recado no para-brisa, pedindo que tomem mais cuidado da próxima vez. Costuma funcionar”, diz ela.
O total de multas aplicadas no primeiro semestre deste ano é menor em comparação ao mesmo período do ano passado. Entre janeiro e junho de 2010, foram 66.150 infrações, queda de 24,4%. Pela legislação, agentes da BHTrans não aplicam multas desde dezembro de 2009, mas qualquer policial militar fardado pode tirar a caneta do bolso e anotar a placa do infrator.
Calçada
A Guarda Municipal foi responsável por aplicar 43. 426 infrações deste tipo no primeiro semestre. A principal delas é o estacionamento em desacordo com a regulamentação das vagas rotativas, com mais de 20.300 multas. Há, por exemplo, autuações por estacionamento em vagas reservadas para deficientes físicos, sobre a calçada, na faixa de pedestres e também nos pontos de ônibus. Motoristas que usam vagas de carga e descarga ou que descumprem o horário permitido na sinalização são responsáveis por quase 12 mil infrações aplicadas pela Guarda Municipal.
Na Rua Córrego da Mata, onde mora a funcionária pública aposentada Heloísa Varela, de 62 anos, é difícil encontrar uma vaga. Com dificuldades para manobrar em função daqueles que ocupam a pontinha de sua entrada, Heloísa prefere “estacionar irregularmente” na porta de sua própria casa. Ela diz que a rua perdeu a tranquilidade há cerca de um ano, quando três agências bancárias foram inauguradas na Avenida Silviano Brandão, no Bairro Sagrada Família.
“Para completar, as ruas são estreitas, de mão dupla, e carros parados nos dois lados. Todo mundo quer ter carro hoje, mas não tem onde parar”, conta ela. “A quantidade de veículos chega a causar um pequeno congestionamento, quando dois querem passar ao mesmo tempo e ainda tem gente estacionando.” “Não tem mais lugar para estacionar em bairro nenhum”, gritou da janela do carro uma motorista que passava pela rua, em busca de vaga. Perto dali, uma picape preta importada ocupava um espaço na contramão.