
O grande volume de tráfego pesado registrado nas pontes metálicas do Rio das Velhas, no KM 454 da BR–381, desde que as estruturas foram liberadas para carretas e caminhões de grande porte, em 30 de junho, provocou danos estruturais que exigiram a troca de parafusos e porcas. As estruturas, que tinham previsão de suportar a passagem de 15 mil veículos por dia, chegou a receber 30 mil neste período, o que levou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) a reduzir o peso máximo das carretas de 60 toneladas para 45 toneladas ou de até cinco eixos. A medida diminui o fluxo desses veículos no trecho desde ontem. Hoje, a ponte será submetida a nova checagem da equipe técnica do 4º Batalhão de Engenharia de Combate do Exército, com sede em Itajubá, no Sul de Minas, para que a periodicidade da manutenção, que é mensal, seja reavaliada.
“As pontes foram submetidas a uma carga de tráfego maior do que o estimado e foi preciso substituir parafusos e porcas já que o número de veículos que estava atravessando era o dobro do que foi previsto. Depois da manutenção, a ponte ficou com as mesmas características de quando foi instalada, mas, em função da dificuldade de controlar o peso, já que as balanças não foram instaladas, o Dnit resolveu restringir a capacidade”, informou tenente-coronel João Vicente Ferreira, chefe da comunicação social da 4ª Região Militar do Exército. Ele garantiu, no entanto, que a carga excessiva não causou danos que coloquem a passagem sobre a ponte em risco e que manutenções eventuais podem vir a ser feitas caso a estrutura apresente alguma alteração.
Ontem, no primeiro dia da nova operação de tráfego nas pontes provisória, novidade mesmo só na fiscalização por conta da Portaria 189 publicada pelo Dnit no Diário Oficial da União, no dia 3, que trata da limitação de peso. Na prática, os rostos dos motoristas de carretas barradas na chegada das pontes tinham velhas e conhecidas feições desanimadoras, insatisfestas e de nervosismo, já percebidas desde o dia em que travessia foi interditada, em 20 de abril. Na época, um dos pilares da estrutura de alvenaria cedeu, o que obrigou condutores de veículos leves a passar por desvio em Santa Luzia, enquanto caminhões pesados foram orientados a usar a BR–356, (sentido Ouro Preto) até Mariana, de onde seguiam pela via estadual até Rio Casca (BR-262) e retornavam à BR–381.
Depois que as pontes metálicas foram instaladas, em 19 de junho, carros de passeio, ônibus e caminhões de pequeno porte puderam passar, mas carretas ficaram restritas ao desvio. Onze dias depois, um protesto dos caminhoneiros, que fechou a rodovia por 15 horas, levou o Dnit a reavaliar a decisão e abrir a passagem para carretas, com exceção apenas para bitrens e rodotrens.
Reclamações
“Voltar a restringir uma coisa que estava funcionando bem só atrapalha nosso trabalho. Estou vindo de Santa Catarina com destino a Vitória. É uma viagem longa que se torna ainda mais cansativa passando por Ouro Preto. É preciso ter balança. Meu caminhão está dentro do peso, mas para evitar o desvio, tenho que desengatar o bitrem e fazer duas viagens na ponte porque não tem como pesar”, reclama o caminhoneiro Gildo Medeiros, de 40 anos, enquanto suava para fazer a manobra na carreta.
Para o condutor Célio Pereira Ribeiro, de 33 anos, que deixava a capital dirigindo carreta de seis eixos no sentido Valadares, no Vale do Rio Doce, não houve opção. Barrado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) ele foi obrigado a retornar e orientado a passar pelo desvio de Ouro Preto. “Se tivesse o equipamento para pesar, não seríamos obrigados a passar por um trecho tão longo e perigoso. O gasto com combustível e o desgaste do veículo são muito maiores”, diz.
Em Santa Luzia, a fiscalização também foi severa. Pela cidade estão proibidos de passar qualquer caminhão que seja articulado, ou seja, que tenha a carreta vinculada a um cavalinho. “Quem se arrisca a vir por aqui está sendo multado por trafegar em local proibido, leva sete pontos na carteira e paga multa de R$ 191”, explicou o cabo Alexandre Miranda, da Polícia Militar Rodoviária .
Apesar de concordar com a posição do Exército, de avaliar que houve excesso de veículos sobre a ponte, o consultor em trânsito, transportes e assuntos urbanos e presidente do Movimento SOS Rodovias Federais de Minas Gerais, José Aparecido Ribeiro, critica a restrição de peso. “A restrição é um indício de que há algo errado. Se tivesse tudo bem, não seria preciso diminuir a capacidade de peso. Mas temos que considerar o critério do Exército, que é técnico”, afirmou. Sobre os impactos provocados pela interdição da ponte, Ribeiro lamentou as perdas para a população que usa a rodovia e para o setor de transportes. “São danos incalculáveis”, disse.
No entanto, as reclamações dos motoristas e do consultor ainda não têm solução, já que o Dnit descartou a possibilidade de instalação das balanças no entorno das pontes metálicas alegando que a intervenção poderia piorar o trânsito frequentemente congestionado no local. Sobre a nova ponte que está sendo construída, o órgão alegou que as obras estão dentro do cronograma previsto e que a estrutura ficará pronta em outubro.
