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Estado de Minas

Gestantes de BH sofrem na fila para ser mãe

BH perde, em 10 anos, 800 leitos obstétricos em hospitais Privados e hoje apenas quatro grandes maternidades atendem convênios. Sobrecarga deixa grávidas em blocos cirúrgicos à espera de quartos


08/05/2011 07:18 - atualizado 08/05/2011 07:57

Ana Cristina e Bruno Gonçalves aguardaram o parto da primeira filha no bloco obstétrico da maternidade
Ana Cristina e Bruno Gonçalves aguardaram o parto da primeira filha no bloco obstétrico da maternidade (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)

Dar à luz e ganhar o título de mãe, celebrado hoje, tem se tornado uma via-crúcis em Belo Horizonte. Além de enfrentar uma batalha para encontrar pediatras para os filhos, as mulheres agora esbarram em mais um desafio: o de se tornarem mães. Nos últimos 10 anos, a capital perdeu cerca de 800 leitos obstétricos em 10 grandes hospitais particulares. Restaram apenas quatro unidades privadas com referência para o serviço: maternidades Octaviano Neves e Santa Fé, hospitais Vila da Serra e Mater Dei.

Antes um problema só de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), a fila do parto se torna um drama de clientes particulares e de convênios de saúde. A sobrecarga de leitos em três das quatro maternidades privadas de BH deixa parturientes em longa espera em centros cirúrgicos.

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), no ano passado foram feitos 13 mil partos na rede privada e 17 mil na rede pública da capital. “Essa diferença em anos anteriores era bem maior. Mas, com a mudança do perfil social da população, hoje quase metade das mulheres de 25 a 59 anos tem cobertura suplementar”, comenta Virgílio Queiroz, coordenador da Atenção à Mulher da SMSA.

Com o número maior de parturientes migrando para a rede particular e poucos leitos para atendê-las na obstetrícia, especialistas apostam que, em pouco tempo, se não houver uma revisão dos valores pagos pelos planos de saúde, haverá um apagão das maternidades privadas. Considerada pelos profissionais da área uma crise que já ultrapassou níveis brandos de alerta e tem chegado aos parâmetros máximos de urgência na rede particular de BH, a sobrecarga já preocupa alguns dos gestores hospitalares. Com medo de que as futuras mamães possam ter complicações nos partos ou até mesmo percam bebês por falta de vaga, responsáveis pelas unidades já procuraram o Ministério Público Estadual para expor a situação, na esperança de que os hospitais não sejam responsabilizados por algum problema.

A última maternidade a entregar os pontos foi a Mater BH, em janeiro. O hospital tinha 16 leitos obstétricos e 10 vagas em UTI neonatal e fechou as portas do setor. “Manter este serviço nos custava R$ 100 mil por ano. Agora continuamos com os outros procedimentos”, conta Ely Machado, gerente de Marketing da unidade.

IMPROVISO
Pelos corredores da Maternidade Octaviano Neves, o empresário Bruno Henrique Gonçalves sentiu na pele o tom desse colapso. Na quinta-feira, ele tentou um quarto para a mulher depois do parto. “Pagamos até aquele que o nosso plano não cobre”, disse Bruno ao diretor administrativo da maternidade, Ataíde Lucindo Ribeiro Júnior. Mas não houve jeito. A psicóloga Ana Cristina de Lima, mulher de Bruno, grávida do primeiro filho, teve de esperar no bloco cirúrgico um leito, sem previsão de quando isso ocorreria “Tenho muitas amigas que já passaram por isso. Até tentamos um leito no Hospital Vila da Serra, mas não havia”, lamentou Ana. “A gente paga um plano de saúde e, no momento mais feliz da vida, passamos por isso. Minha mulher vai ficar no bloco, onde não posso entrar e ela não pode receber visitas. Poderia ser diferente”, disse Bruno.

Deixar a paciente no bloco cirúrgico à espera de vagas nos quartos foi a solução encontrada pela Octaviano Neves, onde são feitos 480 partos por mês, e também por outras unidades. “O problema é grave. Temos 100 leitos obstétricos, mas pelo menos duas vezes na semana temos de fechar as portas porque não há vagas nem nos berçários”, desabafa o diretor administrativo da unidade, Ataíde Júnior, que cobra das operadoras uma solução. “Os planos de saúde em BH pagam pouco pelo procedimento. Há operadoras que mandam pacientes da Bahia, porque compensa pagar avião e o atendimento aqui em vez de arcar com custos de lá”, conta Ataíde.

CESARIANAS
Na Maternidade Santa Fé o estrangulamento é maior às terças e quartas-feiras. “É quando há maior número de cesarianas. É um caos. Também colocamos pacientes esperando um quarto em blocos cirúrgicos”, conta o diretor-técnico da maternidade, Eduardo Mendes Duarte, acrescentando que na UTI neonatal é ainda pior. “Há dias em que temos que internar um recém-nascido, mas não há lugar.”

No Mater Dei, onde há 50 leitos obstétricos, a situação ainda não chegou ao limite. “Estamos com uma alta ocupação, mas, felizmente, não temos sobrecarga”, diz o diretor-clínico do hospital, Henrique Moraes Salvador Silva. No Vila da Serra, a falta de leitos tem sido constante. Apesar de os quatro hospitais serem referência para o serviço em BH, há maternidades específicas para clientes de determinados planos que também sofrem com o colapso. “É um absurdo. Enquanto o mundo está crescendo, a nossa saúde está encolhendo”, reclama o diretor de Defesa Profissional da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Carlos Henrique Mascarenhas. Ele culpa as operadoras de saúde. “Os valores têm que ser revistos, senão não teremos mais maternidades que darão conta.”

SOLUÇÃO
A única solução viável para o presidente da Fundação Mineira para Desenvolvimento Hospitalar, Carlos Eduardo Ferreira, é a parceria público-privada. “Os dois sistemas têm de interagir. As lideranças têm de entender que estamos assistindo à degradação da rede.” Em nota, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo informou que é livre a negociação entre as operadoras e seus prestadores de serviços. “O movimento dos médicos é aceitável, desde que não prejudique o atendimento aos beneficiários”, diz a nota.

 


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