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Estado de Minas

Ginecologista obstetra está em extinção


08/05/2011 07:23 - atualizado 08/05/2011 09:44

Enfermeira obstetra especializada, Kelly Cristina Almeida (E) acompanhou o parto de Renata Mendonça (C), que agradeceu a dedicação e o carinho
Enfermeira obstetra especializada, Kelly Cristina Almeida (E) acompanhou o parto de Renata Mendonça (C), que agradeceu a dedicação e o carinho (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Para agravar o colapso enfrentado pelas maternidades particulares, Belo Horizonte pode dar adeus ao profissional responsável pelo parto: o ginecologista obstetra. Assim como na pediatra, a obstetrícia já dá sinais de estar no mesmo caminho, segundo alertam especialistas. A falta do médico, que antigamente acompanhava a vida de uma família inteira, não é sentida somente na rede privada. Na rede pública do estado, que também perdeu algumas maternidades, há unidades que apostam cada vez mais na presença do enfermeiro obstetra, já que a busca pelo médico tem sido em vão. Além da falta de um especialista, o Sistema Único de Saúde (SUS) da capital sofre com a sobrecarga da região metropolitana.

De acordo com Antônio Fernandes Lages, coordenador do Programa de Residência Médica da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) e membro da Comissão Estadual de Residência Médica, a situação é prevista desde 1995. “Naquela época, tínhamos dado o alerta de que isso iria ocorrer. Tudo estava caminhando para a extinção do ginecologista obstetra. O grande motivo é a remuneração baixa, tanto no SUS quanto no setor privado”, explica.

Ele esclarece que o número de inscritos na residência em obstetrícia diminuiu cerca de 50% em 16 anos. “Para uma única vaga na dermatologia há 32 candidatos para oftamologista são 23. Em ginecologia obstetra são apenas quatro candidatos, mas já houve época em que eram 56”, diz. Segundo ele, na última seleção, a Fhemig chamou 70 residentes para preencher 10 vagas. Em todo o estado, são 5 mil médicos obstetras: “Não sabemos quantos destes buscaram outros caminhos”.

CRISE GERAL
A crise da profissão abala o interior de Minas. Somente em 2008, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), 290,9 mil bebês nasceram no estado, sendo 75% pelo SUS. “Muitas maternidades públicas fecharam as portas. Em muitas cidades, há falta de recursos humanos. As mães têm sido atendidas por clínico cirurgião. Outro fator que estrangula a rede é leitos para o UTI neonatal, o que ocorre também no setor privado. Pelo SUS, temos 31 unidades para gestantes em alto risco, mas deveriam ser 75, uma para cada microrregião. Em Diamantina, no Alto Jequitinhonha, não temos uma UTI neonatal, porque não há profissional”, conta Márcia Rovena, técnica em saúde da mulher da SES.

No setor privado, o especialista recebe por procedimento. “Os planos pagam cerca de R$ 200 por parto, incluindo os medicamentos. Por nisso, ninguém quer trabalhar com isso mais”, diz o diretor de Defesa Profissional da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Carlos Henrique Mascarenhas. No SUS de BH, por exemplo, o profissional recebe um salário mensal de R$ 3 mil por 24 horas semanais em plantões de 12 horas. “A ginecologia tem muitas subespecialidades e os recém-formados estão preferindo se especializar naquelas que envolvem aparelhos, como a ultrassonografia. Dá mais dinheiro”, afirma Antônio Fernandes Lages.

A diretora-adjunta de Defesa do Exercício Profissional da Associação Médica de Minas Gerais, Cristiana Fonseca Beaumord, lembra que a profissão exige sacrifícios, como estar à disposição da paciente 24 horas por dia, assim como os pediatras. “A obstetria é sacrificada. O parto não tem previsão de data ou horário. Além disso, é uma das áreas mais questionadas no Conselho de Medicina, com número alto de denúncias.”

De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em Belo Horizonte o número de reclamações contra esses médicos tem aumentado na rede privada. “A acusação é de que eles têm pedido um valor a mais para partos. Isso é ilegal”, afirma a gerente do núcleo de fiscalização da ANS de BH, Eunice Valle.

Estrutura

Segundo conta Virgílio Queiroz, coordenador da Atenção à Mulher da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), a sobrecarga do setor já bate à porta do SUS da capital. “Estamos bem estruturados. No entanto, muitas maternidades fecharam as portas na região metropolitana e as pacientes têm vindo para cá. Há unidades da Grande BH que nem plantonista têm, então o serviço acaba sobrecarregado. Dos 45 mil partos em BH no ano passado, 20 mil foram de mães de outras cidades. Na Maternidade Sofia Feldman, referência no setor, foram 8,9 mil partos, sendo 4,7 mil de mulheres não residentes em Belo Horizonte.”

 


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