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Estado de Minas

Falta no país medicamento que protege bebês de mães com sangue Rh negativo


01/04/2011 06:34 - atualizado 01/04/2011 07:00

Maternidade Octaviano Neves faz 500 partos por mês e cerca de 10% das gestantes precisam da proteção
Maternidade Octaviano Neves faz 500 partos por mês e cerca de 10% das gestantes precisam da proteção (foto: Marcelo Sant'Anna/EM/D.A Press)
Maternidades de todo o país estão com uma bomba-relógio nas salas de parto e nos consultórios. Há pelo menos dois meses, o Brasil enfrenta colapso no fornecimento de uma substância fundamental na área de obstetrícia, em um quadro que vem afetando até setores antes imunes às carências comuns ao Sistema Único de Saúde (SUS): a rede particular. Trata-se da falta do medicamento indispensável para gestante Rh negativo com filho Rh positivo: o imunoglobulina anti-Rh negativo, fabricado em laboratórios internacionais. Por falta de matéria-prima, a distribuição é insuficiente. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está à espera de retorno a consultas feitas aos produtores para conhecer a dimensão do problema.

Enquanto o perigo passa longe dos gabinetes em Brasília, nas salas de parto e nos consultórios a classe médica e pacientes estão cada vez mais certos de que o drama está longe do fim. A previsão é de que a distribuição se normalize somente em dezembro, como foi informada a Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), que procurou o Ministério Público Estadual (MPE) para entrar com uma ação contra a Anvisa. Em BH, os estoques das maternidades estão no limite e podem acabar nos próximos dias. As farmácias, onde a dosagem chega a custar até R$ 200, não escapam da crise.

Apesar de passar despercebido aos olhos das autoridades, o cenário leva a classe médica a crer que está diante de uma verdadeira bomba-relógio. Estima-se que cerca de 10% das gestantes brasileiras sejam Rh negativo e tenham um bebê Rh positivo. Se na gestação a mãe tem sangramento ou sofre aborto, a medicação é prescrita pelo médico. A situação mais comum é durante o parto, em que a gestante Rh negativo e o filho Rh positivo trocam sangue e a mulher produz anticorpos contra o Rh positivo. Sem a dosagem, o organismo cria uma “memória” contra o Rh positivo e numa futura gravidez em que o bebê seja de tipo sanguíneo positivo, os anticorpos atacam as células e podem levá-lo à morte. “A medicação tem que ser tomada em no máximo 72 horas depois do contato entre os dois tipos de sangue”, alerta o diretor-administrativo da Maternidade Octaviano Neves, José Luiz Verçoza.

Somente na Octaviano Neves, com 500 partos por mês, são necessárias 40 ampolas do medicamentos mensalmente. Segundo Verçoza, a maternidade pediu ajuda à Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), que repassou 40 doses do produto e na quinta-feira restavam apenas sete. “Se está assim no setor privado, imagine no SUS? Entramos em contato com outros setores hospitalares do país e a crise é generalizada. Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff vem a BH lançar um programa para gestantes com toda pompa”, critica.

A SMSA já repassou doses também à Maternidade Santa Fé, em Santa Tereza, na Região Leste de BH. “Foram 30 ampolas, mas só nos restam nove. É pouco. Dos 300 partos mensais na unidade, 5% precisam do medicamento”, diz o diretor-técnico da Santa Fé, Eduardo Mendes. A incerteza sobre o fim do pesadelo atormenta a Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig). Segundo o diretor de Defesa Profissional da entidade, Carlos Henrique Mascarenhas, também diretor do Departamento de Ginecologia da Associação Médica do estado, um dos laboratórios lhe informou que somente em dezembro a situação será regularizada. “É um absurdo. Já alertamos os médicos que, se o pior ocorrer, eles não serão responsabilizados. Já passou da hora de o Brasil começar a produzir o medicamento.”

Venda proibida

Em nota, a SMSA garantiu que o estoque de BH é suficiente para as sete maternidades públicas da cidade. “Temos recebido pedidos da rede privada e, na medida do possível, a atendemos.” A maior preocupação da Anvisa, que questionou os fabricantes para saber se há mesmo desabastecimento, sem obter retorno imediato, é a venda do medicamento em farmácias e drogarias, que é proibida. Para isso, a agência informou, por meio da assessoria de comunicação, que intensificará a investigação. Já a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES) esclareceu que a distribuição do medicamento não é de sua competência, mas admite problema com os fornecedores.

O que é fator Rh negativo


No pré-natal, o médico conhece o tipo sanguíneo da gestante (A, B, AB ou O). Quem é Rh positivo tem uma proteína chamada antígeno D na superfície dos glóbulos vermelhos. Quem não tem esse antígeno é Rh negativo.

Mãe Rh negativo e bebê Rh positivo

Se a mãe for Rh negativo e o filho Rh positivo, há risco de que o sangue do bebê entrar na corrente sanguínea da mulher na hora do parto, por meio da placenta. O sistema imunológico dela reage contra o antígeno D (proteína do Rh positivo) do sangue bebê, como se ele fosse um "invasor", e começa a produzir anticorpos. O fenômeno é conhecido como "sensibilização". Esse contato entre os dois tipos de sangue não oferece perigo na primeira gravidez, mas compromete uma futura gestação caso a mãe tenha um filho Rh positivo novamente.

Como age a medicação imunoglobulina anti-Rh negativo

Até 72 horas depois do nascimento da criança, os médicos aplicam a injeção de imunoglobulina anti-D ou Rh negativo. A dose é de 300 microgramas e é aplicada de forma intramuscular. Em cerca de 30 minutos, o medicamento atinge a corrente sanguínea da mãe e produz anticorpos capazes de "barrar" a produção de anticorpos da própria gestante contra o Rh positivo do bebê, uma vez que o sangue dos dois entraram em contato. Assim, o organismo perde a "memória imunológica" contra o Rh positivo e, em caso, de uma futura gestação da mulher com filho Rh positivo, o organismo não vai atacar o sangue do bebê. A aplicação deve ser feita em no máximo 72 horas depois do parto – tempo ideal para o organismo conter o ovanço dos anticorpos produzidos pela mãe.


Perigos sem a medicação

Embora não haja risco numa primeira gravidez, se a mulher engravidar novamente e o bebê também for Rh positivo os anticorpos do seu sistema imunológico, sem a imunoglobulina anti-Rh negativo, criam uma mémoria e agem contra o Rh positivo, até mesmo no começo da gestação. Os anticorpos atravessam a placenta e atacam as células do sangue do bebê, provocando anemia, icterícia ou, em casos mais graves, insuficiência cardíaca ou hepática na criança. O filho pode até morrer ou ter lesões cerebrais irreversíveis.

Em outras situações

Não é só depois do parto que o imunoglobulina Rh negativo é indicado. Ele também é usado em caso de aborto, sangramento vaginal e qualquer outra situação em que haja risco do sangue do bebê entrar em contato com o da mãe.


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