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Estado de Minas Alta-costura

Prestígio vence tudo

Temporada de lançamentos desafia a situação política da França, depois do assassinato de um jovem de 17 anos


09/07/2023 04:00
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 Schiaparelli
Schiaparelli (foto: Christophe ARCHAMBAULT/AFP)



Não adianta discutir, Paris é considerada a capital da moda mundial, e motivos não faltam para isso. Da estilista Gabrielle Chanel ao criador Karl Lagerfeld, até a revista Vogue France. Dos frequentadores dos lançamentos de alta-costura, até o Paris Fashion Week, a moda lançada na capital da França influencia o mundo. Apesar da distância cronológica que separa essas pessoas, lugares e situações, eles se conectam. Todos são frequentemente utilizados para afirmar que a França, ou melhor, Paris, seria o berço da indústria da moda. Essa relação entre Paris e moda pode ser vista de diversas formas. Até mesmo na campanha a favor da utilização de máscaras nos lugares públicos que ocorreu em maio de 2020, a moda foi destaque.
 
Chanel
Chanel (foto: Christophe ARCHAMBAULT/AFP)

 
Os cartazes espalhados pela cidade diziam “À Paris, on ne sort jamais sans son accessoire tendance” (Em Paris, a gente nunca sai sem nosso acessório tendência). Isso acontece desde o final do século 18, quando aconteceu uma grande mudança na produção de roupa, colocando a cidade à frente dos concorrentes da época. Foi então que se criou a haute couture ou seja, a criação sob medida e artesanal de peças de roupa. Episódio interessante se deu durante a ocupação de Paris pela Alemanha nazista. A alta-costura parisiense já tinha um prestígio reconhecido por todo o mundo, o que fez os alemães decidirem transferir a produção da capital da moda para Berlim. Foi a atuação de Lucien Lelong, presidente da Câmara da Alta-costura, que impediu que essa ideia se concretizasse. Com o final da guerra, mais especificamente em 1945, haute couture se tornou uma nomenclatura legalmente protegida pelo Ministério da Indústria da França.
 
Roupa bege
Chanel (foto: Christophe ARCHAMBAULT/AFP)
 
 
Esta tradição de longa história de sucesso fervilha outra vez na imprensa mundial. Desde a última segunda-feira, dia 3, as principais etiquetas mostraram desfiles que, apesar de serem mais comedidos, movimentam o setor e influenciarão e serão copiados ao retor do mundo. A Semana de Alta-costura começou com o desfile Dior com influência das deusas gregas seguido pelo surrealismo de Schiaparelli.
 
Dior
Dior (foto: Christophe ARCHAMBAULT/AFP)
 
 
Com enormes volumes, vestidos brancos, pretos, dourados e prateados, Schiaparelli homenageou a reputação de vanguarda que ganhou há um século com suas colaborações históricas, com personagens como Dalí e Man Ray. Liderada por seu diretor artístico, Daniel Roseberry, a marca propôs um show espetacular diante de celebridades como a rapper Cardi B e as atrizes Gwendoline Christie e Philippine Leroy-Beaulieu, no Petit Palais de Paris. O objetivo era uma “interpretação surrealista do vestuário feminino cotidiano”, com blusas brancas, golas altas pretas e casacos de tamanhos exagerados.
 
Já a Dior invocou deusas gregas para apresentar uma coleção de alta-costura particularmente simples, sem saltos, forros ou babados.A extrema pureza foi inspirada em antigas estátuas para trazer mais conforto.Um vestido longo de lã branca abriu o desfile no Museu Rodin, em um cenário desenhado pela artista italiana Marta Roberti. A silhueta é vertical, as linhas são retas e as cores elegantes: branco, preto, bege, dourado e prateado. “Estas linhas retas escondem, na verdade, uma notável complexidade. Foi um trabalho de subtração. Quis tirar a capa, os forros, esses elementos que caracterizam os conjuntos de alta-costura”, afirmou Maria Grazia Chiuri, diretora-artística da coleção feminina da Dior.
 
Chanel mostrou seu desfile na terça-feira, repleto de leveza, assinado por sua a diretora-criativa Virginie Viarad. Foi a única coleção de alta-costura outono/inverno do dia, realizado às margens do rio Sena. Como um retrato sensível da mulher parisiense idealizado pela marca, a diretora-criativa personificou a atriz e cantora Vanessa Paradis na coleção sensível e ousada. As modelos desfilaram pelas calçadas do rio, apresentando ternos de tweed forrados com tufos de tule ou enfeitados com motivos florais em tons outonais enquanto os turistas passavam nos famosos bateaux mouches da cidade, trocando acenos com o público. A modelo francesa Caroline de Maigret abriu o desfile, com os cabelos castanhos soltos sobre os ombros, um longo sobretudo de tweed preso na cintura e saltos dourados. Seguiram-se looks mais elegantes, incluindo um vestido preto brilhante revestido de lantejoulas e um conjunto de saia e jaqueta todo dourado, enquanto silhuetas mais boêmias incluíam uma blusa solta rosa e laranja combinada com uma saia rodada em ouro e tweed preto.
Somando-se ao espírito indiferente, uma modelo estava acompanhada por um labrador preto elegante, enquanto outras modelos carregavam cestas de flores.

Clima quente Mas a situação da cidade criou algum desconforto sobre as exibições de materialismo para os ultra-ricos após graves distúrbios civis. Alguns disseram que desfiles e coquetéis deveriam ser cancelados, e outros, que os fashionistas eram “surdos para tons”.
 
A chefe de moda do The Telegraph, Lisa Armstrong, registrou em seu jornal: “Esses clientes fortemente perfumados, incrustados de diamantes e removidos de toda realidade podem parecer estranhos mesmo em tempos normais, mas esta semana, eles parecem quase surrealmente surdos.”
Ela acrescentou que um participante observou como era “bastante estranho ver como as grandes marcas francesas não reconhecem o que está acontecendo em seu próprio país”. Motins diminuíram na semana de lançamentos, quando prefeitos realizaram comícios antiviolência. O prefeito de Paris foi positivo: “Em poucos dias estávamos no inferno”
 
A violência em Paris e outras cidades francesas foi desencadeada pelo tiroteio fatal do adolescente Nahel M durante uma abordagem policial, mas o problema parece ter sido controlado durante a semana dos desfiles.
 
Evidentemente eventos especiais foram registrados: algumas marcas, como Chloe, cancelaram festas no fim de semana, e uma grande gravadora, Celine, cancelou um show inteiramente por causa dos tumultos. O designer Hedi Slimane escreveu no Instagram que “um desfile de moda em Paris, enquanto a França e sua capital estão enlutadas e machucadas, parece imprudente e totalmente deslocado”.
 
Jess Cartner-Morley, do The Guardian, registrou em seu jornal que: “O fato de eles estarem agindo sem problemas com a turbulência em áreas menos ricas da cidade talvez seja um reflexo da polarização que sustenta a situação na França.” Já EJ Dickson, da revista Rolling Stone, acrescentou que alguns influenciadores estavam agindo como se tivessem sido “levemente incomodados” pelos protestos.


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