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Estado de Minas Entrevista/Ricardo almeida

Ousadia, determinação e qualidade

Homem que inovou o estilo masculino de vestir abre uma casa conceito em BH


03/07/2022 04:00 - atualizado 04/07/2022 11:30

Ricardo almeida

"Por termos várias vertentes, com vários estilistas, com várias proporções novas, temos muitas opções. Não precisamos mais padronizar. Isso é muito bom. Podemos misturar marcas e criar um resultado com a sua cara"

Ricardo almeida,Empresário e estilista



Ricardo Almeida caiu na moda por acaso, e como ele mesmo diz, deu certo como daria certo em qualquer área, porque não abre mão de fazer tudo bem-feito, afinal é um perfeccionista. Trabalhou com seu pai na loja de enxoval de cama, mesa e banho. Foi corredor de moto velocidade e foi na busca de patrocínio que caiu no mercado da moda. Curioso, aprendeu sobre tecidos, modelagem, estilo. Hoje, é referência em moda masculina, dita moda, tem lojas em quase todos os estados brasileiros e acaba de inaugurar em Belo Horizonte a Casa Ricardo Almeida, com atendimento mediante agendamento de horário. Mais exclusivo, impossível.

Como entrou para o ramo da moda?

Dos 14 aos 18 anos trabalhei com meu pai, depois fui correr de motocicleta. Não é que eu goste de aventura, mas não gosto de ficar parado. Fui atrás de patrocinador e acabei arrumando emprego na área de moda. Como os donos não cuidavam muito do negócio, perguntei se poderia ajudar a comprar tecidos e criar modelos e eles deixaram. Aprendi a fazer molde. Queria fazer tudo porque quanto mais produzisse, mais venderia  e mais ganharia. Virei sócio

Quando tomou gosto pela moda?

Na real, tudo que eu faço, gosto de fazer direito. Onde quer que eu ficasse faria bem-feito. Sou perfeccionista.

Sempre teve o olhar para o belo e pelo bom gosto?

Não é isso, sempre soube do que gostava e nunca me apeguei ao valor em si. Se uma coisa custa R$ 1 milhão e me oferecem por R$ 100 mil mas eu não gosto, não acho bonito, não compro.  Mas se custa R$ 100 mil e eu amo, pago R$ 1 milhão. Não me importa o que as pessoas gostam, mas o que eu gosto.

Quando descobriu que sua criação havia caído no gosto das pessoas?

Acho que foi pela qualidade. Construí uma modelagem perfeita, fruto demuita pesquita erros e acertos. Eu mesmo faço os moldes. Quero sempre o melhor. Quando abriram as importações trouxe  os melhores tecidos. O mercado não acreditava em comprar um tecido dez vezes mais caro que o usual, eu acreditava. Sabia que a roupa ficaria mais bonita pelo tecido ter mais qualidade. Todo mundo foi contra, então abri a minha loja.

Você é autodidata. Como chegou a essa modelagem?

Quando viajava para comprar os tecidos, comprava livros das faculdades de moda lá de fora e eles ensinam como fazer moldes e tudo mais. Estudava, fazia teste, porque o livro te dá uma diretriz, a partir daí é o teu olhar. Eu tenho muita noção de espaço, é difícil me perder, e roupa é um espaço, casa é um espaço. Tendo esse domínio fica mais fácil. 

Quando percebeu que tinha virado referência?

Fazia roupa para várias marcas, tanto femininas quanto masculinas. Quando montei minha loja quis fazer um feminino extremamente sensual, mas não podia fazer muitas peças iguais porque chamava muita atenção, e tomava muito do meu tempo. Não achava correto vender a peça igual para muita gente então a produção era pequena. Isso me tirou a condição de continuar o feminino, então fiquei só com o masculino. Para o homem você trabalha o molde, muda a padronagem e as combinações e consegue trabalhar mais tempo com a mesma base. A mulher não, quer toda hora uma novidade. Às vezes somos obrigados a não fazer o que queremos para ter  condição financeira de poder fazer o que queremos em outras coisas. No masculino eu tinha uma condição melhor, e deu no que deu. Crescemos realmente.

Não pretende retomar o feminino?

Na pandemia eu peguei de volta o feminino e fizemos um plano de negócio pegando a alfaiataria como base, criando calças mais secas, flair e pantalonas e blasers. Será uma linha de alfaiataria pura, mas só na cidade Matarazzo, que é nosso investimento atual. Já estou fazendo na Bela Cintra.

Você sempre investiu na qualidade?

Sempre. Você faz uma blusa com um tecido barato, na terceira vez que lava ela está feia e não usa mais. E é o seu nome que está lá. Não é isso que eu quero. Quero que você compre uma camiseta minha, use dez anos e ela continuará inteira. Terno de 10 anos e está inteiro. Uso um jeans que não marca o joelho porque o elastano dele é de excelente qualidade. Custa mais caro? Custa, mas quando você faz a conta, fica mais barato que aquela peça que você usa um ano e depois não consegue usar mais porque está muito velha ou deformada. Quando montei minha marca e coloquei o meu nome – tá certo que meu nome é muito ruim, é nome português, não tem muito a ver com moda, poderia ser italiano que seria mais fácil – a qualidade passou a ser obrigação porque ninguém faz um produto ruim com o seu nome. E deu certo.

Sempre introduziu novos estilos. Como foi isso?

Quando abri minha loja não fazia muito terno para os lojistas, fazia só para a Hugo Boss, quando eram fabricados aqui no Brasil, mas em menor quantidade. O pessoal usava na época aqueles jaquetões do Sarney, pesado, duto. Já abri minha loja com os paletós de três botões que não tinha por aqui. Eu fazia muito figurinha para novela. Vesti Raul Cortez em O Sorriso do Lagarto, vestido o Alexandre Frota, e apareceu a novela Explode Coração com o Edson Celulari. Ele era um milionário e tinha que ter uma roupa top. Sugeri o de três botões e calça sem prega, a figurinista estranhou e foi muito resistente. Propus montar um look com jaquetão e calça com prega e outro com três botões e calça sem prega. Por sorte a novela começou a ser gravada no Japão. Chegaram lá todas as vitrines estavam com três botões. Ela me ligou delirando. Fez a filmagem com os dois looks, e manteve o de três botões, mas manteve a calça de prega. Quando a novela foi ao ar, todas as mulheres cobravam dos maridos usar a roupa do Edson Celulari, que era um gato, executivo milionário. E começamos forte na alfaiataria masculina.

Explodiu?

Sim, mas enfrentamos outro problema, as pessoas achavam que eu só vendia para artistas e modelo e magros. Porque realmente eles compravam conosco. O gordinho baixinho não queria entrar na loja. Aí o Duda Mendonça me contratou para mudar o visual do Lula, porque a pesquisa mostrou que as mulheres o rejeitavam por causa da aparência. E quando ele começou a usar minha roupa, os homens mais baixos e com corpo normal e mais gordinho passaram a frequentar a Ricardo almeida. Vieram muitos industriais, advogados etc. quebrou o paradigma

Segue ou dita tendência?

A moda é comportamento, se trata do que está acontecendo no mundo. 500 vezes fiz uma coisa aqui que depois começou também na Europa. Quando comecei comprei muitas peças lá de fora, estudei todas elas, desmanchei para estudar as modelagens, me inspirei e a partir de tudo o que li, estudei e pesquisei, desenvolvi a minha modelagem, porque o corpo do brasileiro é diferente do corpo do europeu. O corpo do brasileiro tem muita variação. Mas temos o nosso DNA. Por exemplo, eu particularmente insisto muito aqui com o terno marrom, que é muito forte lá fora, e aqui as pessoas não entendem muito. Sempre tive ternos nesse tom e os clientes não querem, mas não abro mão da cor em minhas coleções, porque acredito nela. Anos atrás, Nakata que é um jogador japonês, foi o Pelé da Ásia, esteve no Brasil e foi na minha loja e comprou um terno marrom, e disse que rodou a Europa inteira em busca de um e não encontrou. Eu tinha quatro tons diferentes. E ficou na dúvida entre dois. Ainda bem que encontrei alguém que sacava alguma coisa. Agora, a cor entrou na moda e as pessoas estão procurando.

E o terno azul para o noivo que você lançou e virou desejo e febre?

Terno azul e gravata branca. Antes todo mundo queria se casar de terno cinza. Eu sempre preferi o preto, acho mais elegante e clássico, e mais poderoso, por isso sempre sugeria aos noivos. Mas fazer um monte de preto e cinza também cansa aí pensei em fazer azul. Que é um tom clássico, todo mundo usa um blaser azul, fica mais leve, tira a cizudês. O pior é que não aguento mais fazer o azul, mas tenho mais de 50 tons de azul, e o cinza claro, porque tem muito casamento na praia, mas o verde turmalina clarinho fica lindo, lembrar frescor.

Criou novas linhas na pandemia?

Criei duas linhas. Como as pessoas tiveram que ficar em casa trabalhando, pensamos em uma roupa que ele pudesse estar em casa e rapidamente veste uma roupa para participar de uma reunião por video, ou mesmo sair e ir presencial. Uma linha de peças em malha e calça jeans de moleton, que chamamos de Home Meeting. E fizemos o Taylor Air que é uma linha bem leve. Não é um blaser, mas um casaco mais descontraído, mas elegante. Confortável, estiloso e diferente dos outros, foi uma quebrada na alfaiataria.

A moda está mais diversificada. Acha isso positivo?

O bom da moda hoje é que não existe uma vertente só. Antes era todo mundo de microssaia, agora todo mundo de shortinho, agora todo mundo com essa cor. Agora não. Por termos várias vertentes, com vários estilistas, com várias proporções novas, temos muitas opções. Não precisamos mais padronizar. Isso é muito bom. Podemos misturar marcas e criar um resultado com a sua cara.

Vi que você não coloca mais sua marca em evidência nas peças

É, tiramos a logomarca. Se a pessoa está todo vestido de Ricardo Almeida não precisa mostrar. Quando chega alguém em um ambiente cheia de marcas evidentes você já excluiu, é uma pessoa com falta de imaginação. Tiramos também para ficar mais exclusivo, e quem conhece, sabe. Quando passamos a vender para lojas multimarcas no país, produzimos com tecidos mais em conta, mas vimos que realmente não é o que queremos. Voltamos assim às nossas origens.

Como foi a ideia de abrir a Casa Ricardo Almeida na cidade?

Queremos dar uma experiência de atendimento e orientação mais exclusivos ao nosso cliente. Isso é impossível em loja de shopping, porque não temos espaço suficiente para isso. As marcas gringas conseguem lojas grandes porque os shoppings não cobram a área delas pelo valor que cobram para minha loja. É diferente. A Gucci é enorme, mas ela não paga o m² que eu pago e nem o condomínio que eu pago. Porque as marcas internacionais dão mais retorno, levam mais público. Como não sou internacional meu custo é muito maior, então, para eu ter uma loja grande, para prestar o atendimento como eu quero, montei casas para me dar essa condição.

O atendimento é só com hora marcada?

No primeiro momento. A Cassa é para atender os clientes mais exclusivos. Para atender um monte de gente tem a Ricardo Almeida do shopping. Mas vamos montar uma estrutura, em um segundo momento, para se chegar uma pessoa que já é cliente e não deu tempo de marcar hora, ser atendido. Se marca a hora é melhor, porque se chegar aqui e estiverem todos os atendentes ocupados, como dar atendimento àquele cliente?

Você que fez todo o projeto

Foi. Desde que fiz a minha primeira loja percebi que ficou muito mais caro e difícil passar minhas ideias e ir adequando depois. Assim, eu faço como eu quero, porque tenho tudo na cabeça. Fica certo da primeira vez, não tem que refazer nada. Além de ficar pronto mais rápido, o custo é menor. Apesar de não fazer conta quando abro uma loja ou uma casa. Isso depois se paga. Faço o que a marca pede. A mesma coisa acontece nos investimentos dos equipamentos de corte de moldes. Eu faço todos os moldes no computador e são cortados a laser pela melhor máquina que existe no mercado, para ter máxima precisão, porque 1 ou 2 milímetros fazem diferença no molde. Investimos muito em maquinário. Quem quer ser o melhor tem que investir em todas as áreas.

Os móveis foram desenhados por você e têm uma certa influência da sua época de motociclista?

Foram sim e são iguais em todas as minhas lojas. Acredito que sim, lembra um pouco aquele universo

Quanto tempo um terno sob medida leva para ficar pronto?

A loja pede 10 dias úteis. Eu, consigo fazer de um dia para o outro, mas tenho que “parar” a fábrica, mas se ficar fazendo isso, quebro a minha empresa. Consigo fazer em até 6horas e fica top, mas pouquíssimas empresas do mundo conseguem isso. Tudo isso graças a todos os investimentos que fazemos nessa área de tecnologia e maquinário. Eu atendo cliente até hoje, mas só com hora marcada. Infelizmente, quando eu mesmo faço a roupa tenho que cobrar R$ 25 mil porque eu que atendo, faço o molde, faço a prova. Porque eu faço o molde padrão da empresa, mas o de cliente eu tenho uma equipe que faz, mas quando eu atendo, eu faço o molde. Isso toma muito mais tempo meu. Mas eu continuo atendendo para cada vez eu aprender mais.

E quais as novidades?

A loja da Cidade Matarazzo, de 700 metros quadrados, com uma tecnologia absurda, sem nenhuma roupa exposta. Eu fiz o pré-projeto de todas as minhas necessidades e foi aperfeiçoado por um pessoal de arquitetura, porque lá realmente será bem diferente.


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