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Estado de Minas setores produtivos

ESG na moda

Regras para ajustar empresas ao ambiental, social e gerencial chegam ao circuito fashion


01/05/2022 04:00

Wagner Penna
 
Rodrigo Cezário
Rodrigo Cezário, vem realizando palestras e workshops, por todo o país, sobre o assunto (foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
 

Há algum tempo, as empresas de todos os setores produtivos deixaram de priorizar, apenas, a qualidade do que fabricam ou a redução dos custos para o consumidor. O passo inicial de ajustes legais e éticos (compliance), foi seguido por normas mais abrangentes – agora conhecidas pela sigla ESG (do inglês Environmental, ambiente; Social e Governance, governança, no sentido de gerenciamento); portanto,  aprofundando nas questões ambientais, sociais e de gestão responsável.
O circuito da moda vem adotando essas regras, tanto como uma forma de minimizar a imagem de agente poluidor quanto para se inserir na dinâmica mais atualizada do fabrico e comércio fashion. Especialista no assunto, o consultor em design estratégico Rodrigo Cezário vem realizando palestras e workshops, por todo o país, sobre a matéria.
Nessa entrevista, ele fala das principais iniciativas para atender às novas exigências essenciais no conceito ESG, que, inclusive, estão inseridas na Agenda 2030 estabelecida pela ONU.

A sigla ESG tem orientado o ajuste das empresas às novas realidades do mercado.  O que querem dizer essas três letrinhas?
A governança ambiental, social e corporativa (ESG) é uma abordagem para avaliar até que ponto uma corporação trabalha em prol de objetivos sociais que vão além do papel de uma organização para maximizar os lucros em nome dos sócios da empresa. Normalmente, os objetivos sociais defendidos dentro de uma perspectiva ESG incluem trabalhar para atingir um determinado conjunto de metas ambientais e objetivos relacionados ao apoio a certos movimentos sociais, além de um terceiro conjunto de objetivos relacionados ao fato de a empresa ser administrada de forma consistente com os movimentos de diversidade, equidade e inclusão.

Poderia explicar como elas podem ser aplicadas, de forma geral, na moda?
O jeito de fazer moda ou de participar de qualquer atividade econômica, atualmente, pede responsabilidade social com o meio ambiente e com o jeito de gerir a empresa. Existem muitas ações que podem ser adotadas dentro da empresa, seja ela de pequeno, médio ou grande porte. A moda é considerada uma grande vilã quando falamos em questões ambientais, mas podemos reverter essa imagem e se transformar em protagonista da mudança. Desde a utilização de materiais mais sustentáveis, passando pela utilização de fontes de energia renovável, até a redução de emissão de carbono, podem-se aplicar várias práticas, muitas vezes simples e até lucrativas.

Vamos por partes: no quesito ambiental, o que a moda pode fazer para atender a essa exigência?
As empresas podem começar eliminando ou reduzindo o plástico. Sacolas de papel e copos de vidro no ponto de venda são bons começos. Podem também contratar serviços de entrega de bicicleta nas regiões próximas. Um dos maiores problemas da indústria de confecção, hoje, é o descarte de resíduos com o lixo normal. Precisamos cuidar dessa questão com urgência. Uma alternativa é reaproveitar sobras de tecidos já cortados, e sobras de aviamentos, construindo com eles novos produtos com valor agregado. A origem também é importante, as empresas podem planejar uma pequena linha exclusiva, feita só com tecidos reciclados, ou de fibras naturais, ou de algodão orgânico. Sugiro sempre começar a criação da coleção dando uma cara nova para o que já está no estoque antes de comprar novos materiais.

E no social? Sendo algo tão amplo, em  termos práticos, o que uma marca pode fazer nesse aspecto?
Contratar funcionários e colaboradores, respeitando a inclusão de gênero, de raça, de orientação sexual e também geracional (empregando pessoas acima de 50 anos, por exemplo), são bons exemplos. Para além disso, promover a remuneração justa e igualitária. Aqui eu ressalto a importância de se pensar nas necessidades dos colaboradores, como as mulheres mães, e oferecer condições para que elas conciliem o trabalho com a maternidade. Também é possível desenvolver trabalhos sociais com a comunidade onde está inserida. Tenho um cliente que oferece oficinas de costuras para as mulheres carentes do bairro onde está instalado o ateliê. Ali, ele ensina a utilizar os seus resíduos para fazer artesanato e, dessa forma, promove uma fonte de renda para essas pessoas, além de envolver os colaboradores na ação social.

E na governança?
Aqui falamos da excelência na gestão do negócio, da busca pela conformidade com leis e normas e da transparência. Uma boa conduta gerencial faz com que o negócio seja mais ético e responsável. Dessa forma, podemos mencionar a contratação de fornecedores e colaboradores terceirizados que tenham integridade. Internamente, a empresa deve ter uma hierarquia bem definida, com cargos e funções determinados e criar políticas claras que garantam a segurança e integridade de dados pessoais dos clientes, por exemplo.

Você tem participado de palestras e workshops sobre o assunto. Que ponto é considerado mais difícil para as empresas atenderem dentro do universo ESG?
Por mais que as questões sociais sejam urgentes, vejo que existe resistência na adoção de práticas relacionadas à sustentabilidade ambiental. Ainda existe uma crença de que os materiais sustentáveis são mais caros, apesar de eles agregarem maior valor ao negócio. O descarte também precisa ser repensado, principalmente nos pólos confeccionistas, para que se busquem soluções conjuntas para o descarte adequado.

Os ajustes sob o ponto vista ESG, às vezes, são trabalhosos e demorados. O que a marca pode conseguir como recompensa comercial  ao implantar esses ajustes?
Não considero que sejam trabalhosos, é uma questão de organização. Uma vez definidas as boas práticas, é só gerenciar e mantê-las, assim como qualquer outra prática da rotina do negócio. As pesquisas apontam que uma empresa com foco em sustentabilidade obtém até 60% a mais de lucro ao adotar práticas sustentáveis  na redução de custos, além de melhorar a reputação entre clientes e colaboradores.

A Agenda 2030 da ONU prevê o alcance de algumas metas para melhorar o meio ambiente no mundo. Como as empresas de moda  podem  colaborar nessa meta?
A agenda apresenta 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), com mais de 190 metas. O primeiro passo é se informar sobre as metas no site da ONU Brasil, pois lá está tudo detalhado de forma bem didática. A partir desse conhecimento, o empresário pode elencar as metas que consegue implantar dentro de sua empresa. Não precisam ser muitas, nem de todos os objetivos. O importante é identificar as boas práticas que já existem e as que fazem sentido ser implementadas na gestão do negócio. Mas é importante dizeer que é preciso, sempre, comunicar isso para o público da marca e mostrar que a empresa está engajada.

A pequena e a média empresa de moda (maioria em  Minas) têm dificuldades não apenas para atender a esses ajustes, mas também entender como podem colaborar nesse esforço. Poderia citar alguns exemplos didáticos?
Vamos pensar em alguns objetivos e ações práticas: se a empresa oferece um ambiente de trabalho limpo, organizado e promove ginástica laboral (durante o expediente), isso é algo importante para os colaboradores que fazem esforços repetitivos – como costureiras e cortadores. Com essa prática, a empresa já está ajudando na ODS 3,  que fala da promoção da saúde e bem-estar. Ao desenvolver oficinas de fuxico para a comunidade, por exemplo, está ajudando na geração de renda para as pessoas mais vulneráveis e assim colabora para a ODS 1 – que fala de erradicação da pobreza – e na ODS 8 – que fala de trabalho decente e crescimento econômico.

Nas suas palestras, como tem sentido a receptividade dos empresários de moda sobre a questão ESG?
Meu termômetro é a reação durante e após as apresentações, quando os empresários tiram suas dúvidas, compartilham suas boas práticas e, assim, ajudam na melhor compreensão da aplicabilidade do conceito no dia a dia das empresas. Quem vem ao encontro deste conhecimento já está consciente da necessidade de mudança e o quanto o assunto é importante para a competitividade dos negócios.

Pela movimentação atual do mercado de moda, fica clara a retomada de esforços para implementar a exportação brasileira de vestuário, calçados e confeccionados em geral. Qual a importância da certificação ESG de uma marca para conquistar o mercado internacional?
Alguns mercados, como a União Europeia, estão muito engajados com as questões relacionadas à crise climática, por exemplo, e buscarão fazer negócios com empresas que demonstram a mesma preocupação e mantêm ações sustentáveis efetivas e não somente para fomentar o marketing da empresa.

Para finalizar: onde as empresas  de moda  podem conseguir uma mentoria ou consultoria para orientá-las sobre a ESG?
Hoje, desenvolvemos processos e produtos sustentáveis nas indústrias de materiais, confecção, acessórios e calçados, aplicando os conceitos da economia circular. Identificamos e desenvolvemos projetos sociais para as empresas de moda, tanto para trabalhar com a inclusão da diversidade quanto para promover ações com a comunidade através de patrocínio e apoio a projetos culturais. Outro serviço importante é a elaboração de relatórios e preparação da empresa para as certificações.


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