Desde quando Levi Strauss confeccionou a primeira calça de denin dirigida aos mineradores norte-americanos, o jeans, como é popularmente conhecido, atravessou diversos ciclos acompanhando os movimentos da história. Foi a roupa ideal para os vaqueiros e cowboys, a preferida da geração rebelde dos anos 1950, em relações amplamente exploradas pelo cinema. Adotado por roqueiros e hippies, revoluções e rebeliões, chegou ao século 21 com o mesmo estigma de liberdade e juventude.
Se, no início, as peças eram tão grossas que ficavam em pé sozinhas, a evolução do tecido e a tecnologia o tornaram maleável e susceptível aos caprichos da moda. Quem trabalha com jeans é movido pela paixão. Que o diga Cláudia Rabelo, uma das proprietárias da marca homônima, que está no mercado fashion há 30 anos, 22 dos quais dedicados a esse universo.
A indústria foi fundada pelo pai, Alexandre Rabelo, que, ao aposentar-se, deixou-a na mão dos quatro filhos. Além da área comercial, ela coordena a equipe de estilo, que é formada por duas profissionais tarimbadas: Bárbara Oliveira e Andrea Aquino têm “sangue azul”, passaram pelas principais empresas especializadas deBelo Horizonte.
O setor do jeanswear, que já contou com nomes significativos na cidade, encolheu nas últimas décadas, mas a Claudia Rabelo continua firme, com fábrica moderna no bairro João Pinheiro, quatro lojas no Barro Preto e dois showrooms – um deles dedicado à Civil, outra marca do grupo, menor e voltada para o segmento premium.
Todos os pontos comerciais dedicam-se às vendas por atacado, que, por sua vez, ganham o reforço de um time de 10 representantes atuando em todos os estados brasileiros. São 120 funcionários envolvidos diretamente com a empresa, que abarca também a mão de obra de facções em outras regiões de Minas Gerais.
“Cresci nesse ambiente de tecidos e confecção, meu pai teve um atacado de tecidos – a Cotton Jeans – em sociedade com o Armando Gaudêncio, da Divina Decadência. A Cláudia Rabelo começou com produção de malhas, moda em geral, mas eu tinha muita vontade de trabalhar com jeans e convidei o estilista Carlos Carvalho para fazer a primeira coleção. Não paramos mais”, explica a empresária.
Graduada em comércio exterior, ela nem teve tempo de exercer a profissão diante das responsabilidades que foi adquirindo ao longo do caminho. Para se ter ideia, as coleções da marca exibem cerca de 350 itens. “Nosso carro-chefe é sempre o jeans, ele é nossa referência. Os outros itens de moda, compostos por tecidos planos, como malhas e fibras naturais, e tricôs são pensados em torno dele”, pontua.
A novidade do outono-inverno 21 foi que, depois de pular uma estação, a marca resolveu investir novamente no bom e velho catálogo dedicado exclusivamente ao produto, para reforçar o posicionamento do mercado. As fotos conceituais clicadas por Weber Pádua exaltam a beleza e a criatividade dos looks Romantic Western propostos pelas estilistas.
Em uma época em que peças impressas como essa minguaram em detrimento das imagens virtuais, o trabalho ganha mais valor porque, além de funcionar como um cartão de visitas, coloca em voga o melhor da criação no jeans. Ela pode ser observada nas formas e hits da temporada, nas lavagens, nas texturas escolhidas especialmente para a estação.
Não falta, no catálogo, o lookbook bem-editado. Ele conta ainda com parte dedicada a um fit guide evidenciando as variadas modelagens das calças jeans, que têm sempre forte apelo de vendas. Dos modelos skinny às flares, das wide legs às clochard light, das slouchy às joggers... e assim por diante, porque todo esse universo com nomenclatura em inglês é feito de muitos detalhes preciosos criados especialmente para os entendidos do assunto. Oferecer diversas opções para as consumidoras, que prezam as tendências, também faz parte do pacote.
“Achamos que, na primeira hora da pandemia, as pessoas ficariam resistentes ao toque; agora que já conhecemos melhor sobre o assunto, retomamos o catálogo destacando o jeans, porque ele é importante para os representantes trabalharem e para posicionar o DNA da nossa marca”, diz Cláudia.
Equipe afiada Ciente da importância de se ter um time afiado, ela ressalta a importância da equipe de estilo para o sucesso das coleções. “As duas estilistas são comprometidas, sérias e têm experiência”, enfatiza, lembrando que se trata de uma área muito especifica, que requer conhecimentos apurados.
Andrea Aquino é da geração dos anos 1990, fez o curso de modelagem e estilismo da UFMG, e começou sua carreira bem-sucedida na Fruto da Fruta, um marco na moda infantojuvenil da época; depois, direcionou-se para o jeanswear com passagens por labels importantes, como a Fourteen e Disritmia/DTA, entre outras.
Sabe tudo sobre o mercado e costuma afirmar que a magia do jeans, sua diferença entre outros tecidos, é que ele é sempre o mesmo. “A gente tem que inventar uma receita a cada coleção, descobrir seus segredos”, pontifica. O resultado, segundo ela, quando se tem a expertise, é fazê-lo surgir como novo.
Essa coleção outono-inverno da Cláudia Rabelo, por exemplo, diz, chega com um tempero boho, com muitos detalhes, enfeites, franjas, bordados hand made em pedrarias e tassel . “Tudo tem um perfume doce, bem feminino e jovem, traduzindo bem a essência do momento da marca.”
Com um curso de figurinista no Senac-MG e uma licenciatura em desenho e artes plásticas pela UEMG no currículo, o primeiro emprego de Bárbara Oliveira como estilista foi na Disritmia/DTA, uma verdadeira escola para quem escolheu a moda por opção. Lá ficou muitos anos. Entre os gaps, trabalhou em outras empresas do segmento e trouxe uma ampla bagagem para a Cláudia Rabelo. “O denin não é um tecido de resposta rápida na parte da elaboração dos shapes. O seu aspecto rígido, engomado, requer experiência para saber como lidar com ele e extrair o melhor e o diferente”, garante.
A partir da ideia do Natural Denim, que nomeia a coleção da marca, ela ressalta que houve uma preocupação de trazer esse conceito para perto da natureza. “O mood é romântico, os bordados são coloridos, exploramos os babados, as mangas bufantes, misturamos couro e suede com jeanswear. Os looks para as fotos do catálogo, por exemplo, foram montados com botas country, justamente para criar o clima boho, tudo gira nessa atmosfera.”
Lá, maxivestidos, jaquetas, macacões, camisas, saias, shorts e blazers são exibidos pela modelo Regina Krilow, que imprime uma sintonia perfeita entre a feminilidade e a força do jeans.
No mix de produtos, a grande aposta está nos acabamentos e detalhes diferenciados: calças versáteis com lavagens modernas para a mulher aproveitar ao máximo a liberdade dos movimentos. As jaquetas – curingas e atemporais – muito além dos looks de inverno –, passeiam por várias ocasiões em propostas mais minimalistas ou ricas em bordados e aplicações.