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Estado de Minas Internacional

Os não desfiles: glamour da passarela é substituído por vídeos exibidos virtualmente

Destacamos quatro exemplos de apresentações nas semanas de moda digitais fora do Brasil que se distanciam da passarela e mudam a lógica de interação do espectador com as roupas


09/08/2020 04:00 - atualizado 09/08/2020 08:18

Viktor & Rolf(foto: Viktor & Rolf/Divulgação)
Viktor & Rolf (foto: Viktor & Rolf/Divulgação)

Desfile virtual não se resume a simplesmente transmitir o vaivém da passarela pela internet. Nomes que participaram das semanas de moda internacionais dão pistas de que os novos formatos envolvem muito mais criatividade, sair da zona de conforto, surpreender o público, gerar imagens de fato impactantes no vídeo. Os destaques que selecionamos vêm de Paris e Milão. A moda, pelo menos enquanto durar a pandemia, promete ser um laboratório de experimentações.
 
Pode-se dizer que o não desfile da Maison Margiela está mais para um filme. O vídeo de 50 minutos mostra todo o processo criativo de desenvolvimento da coleção Artesanal, sem nenhum glamour. O fotografo britanico? Nick Knight acompanhou dois meses da rotina da equipe, com reuniões por videochamada, pesquisas no Google, trocas de e-mail, prova de roupa e produção em si através de câmeras de segurança, drones, câmeras térmicas e raio-X. A sensação, para o espectador, é de espionar os bastidores e descobrir os segredos de uma maison de alta-costura.
 
No centro da narrativa, está o diretor criativo John Galliano, que detecta, em tempos de incerteza, um desejo por transparência. A vontade dele se cumpre não apenas em abrir as portas do ateliê, em se mostrar para o público, mas também nas roupas, todas reveladas por uma camada transparente. O enredo do filme se desenvolve em torno da busca do estilista por um drapeado “molhado”, leve, transparente, que se agarra ao corpo. A inspiração que ele transmite para a equipe vem de estátuas de mármore, balé, movimentos da dança apache. No fim, os modelos fazem performances diante da câmera.
 
Gucci(foto: Gucci/divulgação)
Gucci (foto: Gucci/divulgação)

Não por acaso, a coleção da italiana Gucci recebeu o nome de Epílogo. O diretor criativo Alessandro Michele explica que esta é uma palavra “apropriada para o fim de um sistema - estamos procurando maneiras diferentes de fazer as coisas”. A vontade de mudar vem de antes do coronavírus e ganhou força com a pandemia. No que chamou de experimento, exibido na semana de moda digital de Milão, a própria equipe de designers apresenta as roupas.
 
O vídeo reproduz uma tela de computador, em que as imagens dos looks aparecem em janelas diferentes. As fotos têm cara da ficha técnica que guia a equipe de um desfile ou ensaio fotográfico: mostram a produção completa e em detalhe, o nome da pessoa que vai usar aquela roupa (aqui com o acréscimo do cargo para o público saber quem é) e post-its que destacam alguma informação importante, como “sem batom”, “unhas vermelhas” e “mostrar colar”. Ao fundo, imagens do backstage e closes na beleza arquitetônica do Palazzo Sacchetti, em Roma.
 
Com 76 looks, a coleção toma forma em silhuetas inspiradas nos anos 1970, período que Alessandro considera “a verdadeira semente da mudança”. Vemos muitas cores vibrantes, o monograma da marca em várias versões e estampas botânicas do estilista norte-americano Ken Scott, que ficou conhecido como “jardineiro da moda”. Para mostrar que as roupas não devem ser datadas, o diretor criativo resgatou clássicos, entre eles blusa com laço, cardigã longo e jeans com camiseta para dentro.
 

Vídeo artístico

 
A italiana Valentino foi para um lado mais artístico. Apresentou um vídeo com uma atmosfera circense e dramática, gravado nos estúdios Cinecitta, em Roma, que se dividiu em duas partes. A primeira mostra as roupas em movimento, ganhando cores e estampas através de imagens projetadas digitalmente em parceria com Nick Knight (o mesmo do vídeo da Maison Margiela). O diretor criativo Pierpaolo Piccioli diz que usou este recurso diante da impossibilidade de criar estampas e bordados luxuosos, já que cada peça de alta-costura normalmente é trabalhada por seis profissionais.
 
Valentino(foto: Valentino/divulgação)
Valentino (foto: Valentino/divulgação)
 
No segundo momento do vídeo, mais estático, podemos ver mais de perto a coleção, formada por 15 peças, a maioria vestidos. O fundo preto contrasta com as roupas brancas (alguns detalhes são prateados). As silhuetas são alongadas ao extremo “para acentuar o artesanato em todos os pontos”. Um dos vestidos levou cerca de 2,9 mil horas para ficar pronto. As roupas beiram o surreal não só pelo tamanho, mas também pelos volumes de mangas ultrabufantes, camadas e mais camadas, babados que não têm fim, franjas, drapeados, plumas. Tudo em exagero.
 
Outra marca da Semana de Alta Costura de Paris que merece elogios é a Viktor & Rolf. A dupla holandesa apostou em um formato que relembra os desfiles do passado, em que o narrador descreve o look. Com a diferença que o ambiente escolhido dentro de um hotel de luxo em Amsterdã estava completamente vazio, sem mobiliário ou convidados. A narração pela voz do cantor Mika ajudou a direcionar o nosso olhar para detalhes que poderiam passar despercebidos na tela.
 
Maison Margiela(foto: Maison Margiela/divulgação)
Maison Margiela (foto: Maison Margiela/divulgação)
 
Não só o vídeo, mas a coleção em si, de nome Mudança, vai ficar para a história. Isso porque os estilistas holandeses de fato adaptaram as criações ao momento de pandemia. Com humor e ironia, desenvolveram três sugestões de armários, com três peças cada (camisola, roupão e casaco), dedicados à emoções que nos invadem na pandemia. Todos os tecidos usados estavam no estoque.
 
A ansiedade é representada por um clima sombrio, peças em preto e azul escuro e uma estampa com nuvens carregadas de chuva. Já a confusão se traduz, por exemplo, em uma camisola assimétrica, que mistura rosa e amarelo e tem estampa de emojis contrários. Por fim, o amor se apresenta em peças brancas com detalhes (bordados e bolsos) em cor e formato de coração. Destaque para os casacos, que reforçam a ideia de distanciamento social com volumes exagerados e elementos que impedem um contato mais próximo, como cones, tubos e corações brilhantes, dando uma sensação de segurança frente ao vírus.


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