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Estado de Minas RETORNO

Novo começo

Estilista Marcos Ferreira está de volta ao mercado da moda. Em vez de roupas, ele agora usa tecidos para desenvolver manualmente acessórios, que se tornam únicos e exclusivos


postado em 02/02/2020 04:00 / atualizado em 03/02/2020 14:50

Broche água-viva em organza de seda pura(foto: Beth Barone/Divulgação)
Broche água-viva em organza de seda pura (foto: Beth Barone/Divulgação)


Depois de um tempo sumido, Marcos Ferreira está de volta com a sua marca, mas agora com uma nova proposta. O estilista mineiro, agora formado em letras, extravasa toda a sua criatividade em acessórios de tecidos incomuns e exuberantes. Morando em São Paulo, ele acredita no poder transformador de suas peças, entre elas broches e bolsas. “Os meus acessórios são feitos para arrematar o espírito da roupa. É o que traz um diferencial”, defende.
 
Broche flor em organza de seda pura, juta e papel(foto: Beth Barone/Divulgação)
Broche flor em organza de seda pura, juta e papel (foto: Beth Barone/Divulgação)
Marcos fechou sua fábrica de roupas quando começou a ficar espremido entre produtos chineses e marcas internacionais, que chegavam com mais facilidade ao Brasil. Trabalhar com acessórios o afastaria desta concorrência. “É muito comum encontrar mulheres vestidas de preto, mas, quando uma está usando broche, colar ou bolsa, revela que é diferente da outra. Vi que o chinês não fazia isso, nem o americano, então também seria uma oportunidade de falar sobre o que é nosso.”
 
Broche em viés de algodão(foto: Beth Barone/Divulgação)
Broche em viés de algodão (foto: Beth Barone/Divulgação)
A criatividade continua a ser expressada através dos tecidos. “Além da empatia que tenho pela seda pura, esta escolha é um modo de me diferenciar no mercado. Que eu saiba, são pouquíssimas as marcas que trabalham com fibras”, justifica Marcos, que, lá no início da sua marca, ficou conhecido pelos vestidos de seda pura, muitos de alcinha. Eram peças simples (“Não sou de complicar demais”), atemporais, com movimento e intuitivamente femininas.
 
Gola de origami(foto: Beth Barone/Divulgação)
Gola de origami (foto: Beth Barone/Divulgação)
Todo o processo envolve as mãos de Marcos. É ele quem molda e arremata todos os acessórios. Faz, inclusive, os alfinetes de aço do fechamento, já que os comuns não conseguem sustentar as peças, que são bem volumosas, feitas para aparecer de verdade.
 
O estilista não coloca nada no papel, pensa numa forma e vai testando volumes e cores com os materiais disponíveis. No caso do broche da linha algas, em forma de água-viva, a busca era por algum tecido com transparência. Resultado: a peça é feita em organza de seda pura na cor preta com cordão de poliéster e detalhes em couro natural. Pode ser usada na gola e no bolso de camisa ou casaco.
 
Obi com arremate de gravataria(foto: Beth Barone/Divulgação)
Obi com arremate de gravataria (foto: Beth Barone/Divulgação)
Outros dois modelos de broches complementam esta primeira coleção, lançada em outubro. Entre eles está uma das paixões de Marcos, que conseguiu fugir do preto, sua cor preferida, para usar laranja. A peça é composta por pelo menos 30 metros de viés de algodão, que são enrolados até virar um canudinho. Depois eles formam um trançado, totalmente sem regras. O estilista ainda criou uma flor Chanel desalinhada. Em vez de moldar uma camélia, ele mistura pétalas em tafetá de seda pura com um emaranhado de juta e papel.
 
Fugindo do óbvio, Marcos sugere para as mulheres uma gola avulsa que tem o poder de transformar qualquer look. Neste acessório, uma mistura de fita de veludo com um origami de tricoline (feito por um amigo baiano) em forma de flor, que cria um volume incomum. Combina com vestidos ou camisetas, das mais básicas às mais sofisticadas.
 
A faixa, ou obi, está entre as peças mais vendidas da coleção. O estilista, que fez curso de alfaiataria em Firenze, na Itália, antes de montar sua fábrica de roupas em BH, construiu a peça como se fosse uma gravata. “Criei a faixa toda em tafetá cinza e na ponta tem uma arremate de gravataria. Ela tem pontos feitos a mão e o avesso não é menos que o direito, foi pensado para aparecer”, descreve. No total, são três metros de tecido.
 
Além de ineditismo, a versatilidade garante o sucesso da obi. A peça pode ser usada com camisa ou vestido, amarrada na cintura, mas também serve como faixa para o cabelo e ainda é indicada para dar um charme às bolsas. “A amarração pode ser como você quiser, um laço mais clássico ou mais desalinhado. Pode ficar na frente, ir para as costas ou para a lateral”, pontua.
 
Marcos fala com carinho da única bolsa da coleção, que também faz parte da linha algas. Ela é toda estruturada em organza de seda pura e ganha cores através de uma técnica tingimento japonês chamada shibori. “Sempre gostei deste lado japonês. Os meus vestidos eram simples, mas sempre propunha colocar um casaquinho por cima, mais soltinho, de manga três-quartos”, conta. O estilista garimpou ferragens antigas para fazer a alça metálica.

AGULHA O reaproveitamento de materiais é uma característica importante da marca. Marcos gosta de buscar materiais que seriam descartados. Uma vez ele fez para a Sonia Pinto, com quem trabalhou por quatro anos, desenvolvendo coleções de acessórios, peças com agulhas de fiação árabe de madeira, encontradas nas sobras de uma fábrica em São Paulo que faliu. Nelas, aplicou folha de ouro.

As camisas parecem intrusas na coleção, mas surgiram exatamente pela necessidade de criar uma base própria para os acessórios. Todas são feitas em algodão japonês, escolhido pela qualidade.
“Quem foi criado de forma detalhista por uma mãe costureira e trabalhou com Graça Ottoni não pode colocar lixa no corpo da mulher. Tem que ser algo preciso, que abraça, que deixa confortável.”
 
Marcos cresceu no ateliê de costura da mãe e começou sua carreira de estilista como assistente de Graça Ottoni. Com ela, Marcos apurou técnicas que aprendeu ainda na infância e descobriu como montar uma coleção. “Percebi, num primeiro momento, que existia um fio que ligava as duas, da costura, do benfeito, era o que a minha mãe sussurrava no meu ouvido. Mas existe uma diferença gigantesca entre ser costureira de ateliê e montar uma coleção para atender ao mercado”, analisa.
Por enquanto, a marca só tem dois modelos de camisas, ambas pretas. Uma tem detalhe no colarinho de tafetá de seda pura e abertura no punho com zíper. A outra é mais acinturada na frente e toda esvoaçante na parte de trás, como se fosse um quimono. Além disso, as mangas são amplas, mas podem ser ajustadas com um simples laço do próprio tecido. “Se você colocar a camisa com uma saia evasê, está muito bem arrumada para um casamento”, pontua.
Na próxima coleção, o estilista vai lançar cinco modelos de camisas e expandir a cartela de cores, incluindo branco e areia.


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