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Um kaiser e muitas facetas

A morte de Karl Lagerfeld apaga uma das poucas fontes de energia fashion cujo núcleo irradiador é a criação. Com a Fendi, ele construiu a mais longa relação da sua carreira


postado em 24/02/2019 05:08

Karl Lagerfeld morreu aos 85 anos(foto: fendi/divulgação)
Karl Lagerfeld morreu aos 85 anos (foto: fendi/divulgação)



Em um dos vários documentários feitos sobre sua trajetória profissional, Karl Lagerfeld disse que não era apenas um, mas, sim, uma variedade de personagens que havia interpretado durante a sua vida. O último deles foi o de um superstar que elevou a moda a um patamar um pouco acima da futilidade que a maioria atribui ao setor – embora nenhum civilizado viva sem roupas.


Desde que saiu da Alemanha para estudar em Paris, o objetivo de Herr Lagerfelt (depois Lagerfeld, pois achava o “d” mais comercial) era de se transformar no kaiser da moda. Foi muito além disso. Tornou-se a figura fashion mais popular dos últimos tempos, com seu rabicó nos cabelos brancos, óculos escuros, terno preto, adereços + gravata e as infalíveis mitaines – as luvas escondendo as rugas das mãos.


A repercussão de sua morte (assunto mais acessado na web na semana e chamadas com fotos em 90% dos jornais do mundo inteiro) comprova essa sua proeza – algo que o mundo da moda só viu quando Dior morreu, prematuramente, no final dos anos 1950.


As personagens encarnadas por Lagerfeld, desde a juventude, podiam ser extravagantes, clássicas, generosas, cruéis, explosivas – jamais simplórias. Podia se desviar das celebs no backstage do desfile para ir abraçar, afetuosamente, uma senhora de roupas simples escorada em uma bengala num canto da sala – por saber que ela era a Martine, uma criadora de ovelhas que a própria Coco Chanel procurou, nos difíceis tempos pós-guerra, por ela possuir um tear na sala e que se dispôs a desfiar o tweed (tecido ícone da grife) e, com os fios, tecer a famosa passamanaria trançada que até hoje é marca registrada dos autênticos tailleurs da Chanel.


Mas podia também pulverizar o antigo amigo e, depois, eterno concorrente Yves Saint-Laurent com ironias finas, dizendo que este era ‘uma invenção de Pierre Berger (menager e companheiro de YSL)’. Os passeios, juntos, de carro pela avenida Champs Elysées e as ‘festas particulares’ com os bombeiros de Paris ficaram num passado (convenientemente) esquecido. Não o bastante para lembrar quem foi quando jovem. Foi vanguardista e adorava chocar o público em geral usando roupas espalhafatosas – chamando a atenção nas ruas e nos aeroportos por onde passava, levando dezenas de malas recheadas desses ‘trajes modernos’.


Um talento para se promover que também se revelava na criação. Não era raro mandar refazer um vestido da alta-costura (tudo feito à mão, diga-se) apenas para acrescentar ou eliminar 5 centímetros. Argumentava que ninguém pode pagar milhares de dólares por algo ruim – e essa minúscula diferença, no final, fazia grande diferença estética.
Tanto quanto a moda, gostava de fotografia e livros. Por isso, atuou como fotógrafo de várias coleções, fez filmes, montou uma livraria e foi editor. Até mesmo de jornal, pois assinou uma das edições do Metro-Paris.


Dizia-se mais ilustrador do que designer de moda e, realmente, seus desenhos explicavam nos mínimos detalhes o que deveria ser feito. Por trás disso, um profundo conhecimento têxtil que permitia saber o exato caimento ou volume de determinado detalhe da roupa. Uma dádiva para costureiras e contra-mestras dos ateliês.


OPORTUNISMO Conhecida de todos, sua acidez em dizer o que pensava e não dar bola para os modismos era o terror dos politicamente corretos. Para ele, movimentos como o Peta (contra uso de peles de animais), #me too, veganismo e outros são apenas oportunismo midiático e comercial – pois, no final, tem sempre alguém lucrando com esses assuntos.
Exigente consigo mesmo, mesmo sua vida privada seguia a rigidez alemã. Dizem que a exceção era a gata Choupette, mas, nos últimos anos, o modelo Hudson Kroenig e seu filho, Brad Kroenig (o menino que já aparaceu em vários desfiles da Chanel), também passaram a compor sua família postiça.


A observação mais importante, porém, é que a morte de Karl Lagerfeld apaga uma das poucas fontes de energia fashion cujo núcleo irradiador é a criação. A união de sua força criativa e midiática amenizou (um pouco) o peso do inexorável destino da moda em nossa era digital – onde a criação foi substituída pela gestão.

 

 

Fendi fala em “perda inimaginável”

 

A influência de Karl Lagerfeld na história da italiana Fendi é surpreendente. Foi em 1965 que Paola, Anna, Franca, Carla e Alda Fendi deram as boas-vindas ao jovem designer alemão que logo revolucionaria a marca e a conduziria por cinco décadas de inovação pura e inabalável, dando vida a criações que esticaram os limites da moda.


Desde os seus primeiros dias na Fendi, onde manteve a mais longa relação no mundo da moda entre um designer e uma casa de moda, Karl Lagerfeld foi um verdadeiro visionário em tudo o que criou, desde as campanhas publicitárias até as suas coleções ready-to-wear e couture. Ele se atreveu a empurrar limites. Um gênio moderno com um senso único de destemor estético, que influenciou toda uma geração de designers.


Graças à inigualável criatividade de Karl Lagerfeld, em colaboração com Silvia Venturini Fendi, a marca se tornou sinônimo de qualidade atemporal, forte tradição, experimentação implacável e criatividade ousada. Para a equipe, é uma perda inimaginável. “Ele nos deixa uma enorme herança, uma fonte inesgotável de inspiração para continuar”, disse o presidente da Fendi, Serge Brunschwig.

 

 


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