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Estado de Minas saúde mental

Ponte fundamental


25/10/2020 04:00 - atualizado 22/10/2020 14:48


Regina Folsta, vice-diretora educacional no colégio Marista Dom Silvério, diz que alguns alunos ficaram mais fragilizados neste período de isolamento(foto: Leandro Couri/em/d.a press)
Regina Folsta, vice-diretora educacional no colégio Marista Dom Silvério, diz que alguns alunos ficaram mais fragilizados neste período de isolamento (foto: Leandro Couri/em/d.a press)


Um cenário desafiador se apresenta com a pandemia da COVID-19, quando a rotina é interrompida e a educação passa a ser mediada pela tecnologia. Mudanças bruscas, alto nível de cobrança, dificuldades técnicas inerentes ao ensino remoto têm influência no estado emocional dos docentes.

Para crianças e jovens, um aspecto em particular é compreender que a casa virou a escola, o quarto a sala de aula, e que o amigo não estará ao lado na hora do recreio.

No colégio Marista Dom Silvério, em Belo Horizonte, a vice-diretora educacional Regina Folsta explica que, com o distanciamento, alguns alunos, que já apresentam quadros de comprometimento emocional, ficaram ainda mais fragilizados.

"A equipe pedagógica passou a acompanhá-los de perto, acolhendo-os com atendimentos individuais, assim como o suporte à família", diz Regina. Para os professores, a principal dificuldade foi aprender a lidar com a tecnologia e as novas formas de ministrar as aulas, o que em certos momentos foi fonte de estres- se. "Os professores demonstraram tensão e medo diante da pandemia. A adoção de novas práticas de lecionar deixou o grupo preocupado."
 
O Marista estabeleceu estratégias para abrir um espaço de escuta aos estudantes, abrangendo a educação infantil, e os ensinos fundamental e médio.

Por plataformas digitais, são atendimentos individuais com os professores, adaptação do currículo com atividades lúdicas, rodas de conversa entre orientadores e alunos, bate-papo com psicólogos, palestras com especialistas, momentos de oração e reflexão.

Professor no Colégio Pampulha, na capital, Cláudio Madeira Nunes percebeu os alunos inseguros, mais calados e desmotivados para realizar as tarefas diárias.

"Eles próprios diziam estar preocupados por não saber como seria o futuro com a pandemia. Professores também estão receosos quanto ao aprendizado dos estudantes, como o bom andamento do conteúdo. É preciso contornar situações difíceis." Para Cláudio, a presença da escola nesse contexto é imprescindí- vel. Afinal, é a ponte que liga o aluno ao meio social. “Sem as aulas on-line, o estudante ficaria ainda mais afastado das pessoas e, com certeza, mais propenso a ter a saúde mental prejudicada.”
 
 

"Sem as aulas on-line, o estudante ficaria ainda mais afastado das pessoas e, com certeza, mais propenso a ter a saúde mental prejudicada”


Cláudio Madeira Nunes,
professor no Colégio Pampulha
 
 
Ana Clara Pires tem 22 anos e quer se graduar em medicina. Concluiu o ensino médio em 2015 e já vai para a quinta tentativa de ser aprovada no vestibular. Conta sobre a insegurança em relação ao teste, o medo e o es- tresse. Faz acompanhamento psicológico com terapia semanalmente. "Com a pandemia, esse apoio, para mim, é ainda mais necessário."




O espírito do tempo e o
acolhimento psicológico
em tempos pandêmicos


Karina Fideles
Psicóloga clínica e educacional, doutora em educação pela FaE/UFMG, 
professora da Faculdade de 
Psicologia da PUC Minas

A pandemia causada pela COVID-19 atravessou, sem medidas, o espírito do tempo presente, as relações, as interações e as emoções. O desconhecido foi instaurado, provendo materiais para um imaginário angustiante. Afinal, como seria possível lidar com o desconhecido, senão pela fantasia?

Diante do necessário isolamento social, sugerido em março, e a consequente suspensão das aulas presenciais, as instituições de ensino tiveram que reavaliar e reinventar suas práticas docentes, instituindo variações de um regime letivo remoto, de acordo com suas realidades. De um dia para o outro, alunos e professores passaram a praticar o ensino por meio das telas tecnológicas.

Nós, professores, assumimos funções que, até então, eram pouco utilizadas pelas instituições ou até mesmo que não foram aprendidas em nossas formações profissionais: nos transformamos em teachers influencers, videomakers, publicitários de nós mesmos. Abre câmera, fecha câmera. Abre microfone, fecha microfone. Escreve no chat, posta exercícios. As adaptações foram feitas – não sabemos se da melhor forma. Afinal, o mundo foi pego de surpresa – mas sempre focamos na expectativa de manter a qualidade do ensino presencial, e de prender a atenção concentrada de alunos. E isso, certamente, foi (e está sendo) desgastante.

Do outro lado da tela, o aluno enfrentou seus próprios desafios: a adaptação ao virtual, a infraestrutura (ou a falta dela) necessária para acompanhar o regime letivo remoto, e, claro, também não escaparam das incertezas angustiantes sobre o cenário atual. Com a limitação tecnológica, o ambiente doméstico (agora, sob convívio intenso), potencializaram-se as dificuldades  emocionais, os entraves cognitivos e de aprendizagem de alunos. Isso porque o isolamento social pode, por vezes, não ter criado novos sintomas emocionais, mas certamente potencializou aqueles que eram colocados debaixo do tapete, na tentativa de não lidar, momentaneamente, com os desafios internos.

Em nosso “antigo normal” como está sendo chamado por muitos, havia recursos: praticar uma atividade na academia, tomar um despretensioso sorvete na padaria, dar um mergulho na piscina do clube, ir brincar de bola com o vizinho. Agora, o tapete, que tão bem escondia aquilo que não queríamos lidar em determinado momento, está no meio das salas: destampado e fazendo a poeira subir.

As adaptações virtualizadas nos fazem falsear o distanciamento, mas, infelizmente, não conseguimos velar esta situação: estamos todos imersos nessas condições. Então, o que fazer para assegurar nossa saúde mental? Criar novos hobbies, regrar a quantidade de informações que absorvemos por meio de informativos jornalísticos e redes sociais, tentar resolver os conflitos internos – aqueles, que estavam debaixo do tapete –, mas que não precisam ser resolvidos sozinhos. É importante, neste momento, solicitar ajuda: seja de amigos, familiares ou profissionais.

Não há fórmula para superar este momento sem qualquer angústia, mas o compartilhamento de informações é essencial para aprendermos conjuntamente. Compartilho, portanto, uma atividade coordenada pelo Núcleo em Psicologia (Nupsi) da PUC Minas Betim que tem dado certo: observando as demandas emergenciais de saúde mental do câmpus, e após um período de atenção às orientações do CFP, instituímos, neste semestre, o acolhimento psicológico on-line, no qual podem ser atendidos alunos, professores e funcionários. O nosso objetivo é contribuir para este momento, para que saiamos todos mais vivos e despertos para o novo cenário que estamos construindo a partir da pandemia.


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