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Estado de Minas

20 anos do Enem: confira a história do exame e o que mudou nesse período

Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) consagra-se como a principal porta de entrada ao ensino superior no Brasil. Em 20 anos, foram muitos avanços, mas ainda há um longo caminho pela frente


postado em 11/11/2018 06:00 / atualizado em 11/11/2018 09:02

Renato Rivail Rodrigues, de 35 anos, fez o primeiro Enem, em 1998, quando ainda cursava o terceiro ano do ensino médio(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Renato Rivail Rodrigues, de 35 anos, fez o primeiro Enem, em 1998, quando ainda cursava o terceiro ano do ensino médio (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

O ano era 1998 e uma prova surgia como uma mera avaliação individual do ensino médio. Mobilizou, em sua primeira edição, 115 mil participantes. Passados 20 anos, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) consagrou-se como o maior mecanismo de acesso ao ensino superior no país, e contabiliza nada menos que 5,5 milhões de inscritos, que hoje comparecem para a etapa final dos testes de 2018. É algo como o equivalente à população da Dinamarca respondendo a questões no mesmo dia. Ao longo dos anos, o Enem avançou em conceitos e finalidade, mas tem ainda muitos desafios pela frente. Ao longo dessas duas décadas, o teste mudou a vida de muita gente e, agora, conduz a rotina dos estudantes em todo o ensino médio.


Durante esse período, quase 100 milhões de brasileiros se inscreveram dispostos a fazer o mesmo movimento: submeter-se a uma prova com duração de 10 horas e meia, durante dois dias, em nome do sonho de uma transformação de vida permitida pela educação. Ponte entre o ensino básico e o superior, o exame mostra suas exigências: teste de conhecimentos que exige uma boa dose de resistência e disciplina nos estudos. Essas são algumas das habilidades que um batalhão de estudantes deverá mostrar hoje em matemática e ciências da natureza, no segundo e último domingo de provas.

O Enem foi concebido originalmente para ser uma avaliação individual dos alunos do ensino médio. No início dos anos 1990, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a expectativa do então ministro da Educação Paulo Renato Souza era criar um teste nacional diferenciado, conforme lembra a atual presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, idealizadora do exame. A participação inicial foi tímida, mas superá-la foi uma questão de tempo. Em 2001, o exame já batia a marca de mais de 1 milhão de inscritos e veria seu ápice em 2014, quando teve 8,7 milhões de participantes.

De um teste aplicado ao ensino médio para avaliar a última etapa da educação básica, principalmente na escola pública, fornecendo insumos para traçar políticas governamentais, o exame deu o grande salto: substituiu o vestibular e ganhou uma série de políticas sociais associadas. Assim, de participação voluntária passou a quase obrigatória, uma vez que, além de passaporte para ingresso em universidades, é acesso a programas educacionais: a nota é usada no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para ingresso nas universidades federais, no Programa Universidade para Todos (Prouni), para acesso às particulares, e até mesmo para entrada em instituições de Portugal. A pontuação obtida define também critério para o Financiamento Estudantil (Fies).

Com erros e acertos, o exame amadureceu. Um dos episódios que mais marcaram – e mancharam – a história da avaliação ocorreu em 2009, quando houve vazamento da prova. Às vésperas da aplicação, o Ministério da Educação (MEC) foi obrigado a cancelar e remarcar o exame dois meses depois, para refazê-lo totalmente. Na ocasião, parte das universidades que usariam o resultado nos processos seletivos recuou e desistiu de contar com a nota. Até hoje, o caso paira como um fantasma a cada edição, e foi responsável pelo aumento considerável dos esquemas de segurança que cercam o teste. Este ano, por exemplo, o número de detectores de ponto eletrônico foi cinco vezes superior ao quantitativo de 2017.

DIRETRIZES E é também entre erros e acertos que estão lançados desafios para avançar na educação brasileira. Os aprimoramentos passam pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio, em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE), cujas orientações devem ter reflexos diretos no Enem. A base propõe diretrizes para que todos os brasileiros tenham assegurados objetivos e direitos de aprendizagem; ou seja, qualquer estudante, em qualquer série, em qualquer escola do Brasil, deve ter um objetivo e um direito-base de aprendizagem. “Hoje, do ponto de vista metodológico, avaliamos que são necessárias menos questões para avaliar a inteligência dos alunos. A BNCC deve também dar diretrizes para diferentes avaliações”, afirmou a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas.

Com o documento, a expectativa é de um novo currículo, formação continuada de professores e enfrentamento das defasagens. “A avaliação vai ter um papel importante, vindo dessa base curricular. Do ponto de vista de metodologia e estatística, aprendemos muito nesses 20 anos. Temos que implementar mais ainda as novidades. O Enem precisa disso. Nossos jovens precisam se desenvolver na escolaridade básica. É um recorte pequeno do que se tem a fazer, com alterações mais nos processos cognitivos do que no conteúdo, na provocação da resolução do problema. Valorizamos, assim, a capacidade da juventude”, afirma Maria Inês.

 

 

De pré-calouro a professor de pós

 

Hoje professor de pós-graduação, Renato Rivail Rodrigues Braga, de 35 anos, conhece essa história desde o começo: fez o primeiro Enem em 1998, quando ainda nem estava no 3º ano do ensino médio do Colégio Nossa Senhora das Dores, em Belo Horizonte. Ele se lembra com detalhes daquele dia. “Foi uma prova que me marcou muito, porque fui para algo que eu nem sabia o que era. Lembro-me de que o governo havia lançado a proposta com a promessa de que, em algum momento, a avaliação poderia servir como ponto extra ou facilitador para entrar na faculdade. Ficou em aberto para quem quisesse fazer. Não havia o Sisu e a substituição do vestibular era muito especulativa. Fui um dos poucos alunos a fazer e fiz pensando que algum dia poderia me beneficiar”, conta. As mudanças demoraram e Renato acabou entrando no curso de odontologia da PUC Minas pelo vestibular tradicional.

O teste marcou tanto que o professor guarda ainda na memória sua nota: 83 de um total de 100 pontos. Até pouco tempo, ele ainda tinha o caderno de provas e o cartão que chegou pelos Correios, informando a nota. “Era prova muito diferente do que eu estava acostumado. A busca pela interpretação de texto era muito evidente, não só nas questões de português, mas em todas. Eram enunciados longos, que pediam essa habilidade. Se não soubesse interpretar texto, não conseguiria fazer, mesmo sendo fácil.”

Chamou a atenção também do então estudante o fato de a avaliação ser multidisciplinar e ter um caderno de provas muito grande, com interpretação de textos do início ao fim. “Foi um estilo que me agradou muito, porque nunca fui bom de decoreba. Gostava muito de interpretar, então, fui muito bem”, lembra. “Nunca mais fiz Enem, mas sei que mantém essa diretriz. Lembro-me até da sala de aula em que fiz a prova e da carteira onde me sentei. O caderno de provas tinha a bandeira do Brasil.” Passadas duas décadas, o teste continua marcando a vida de muita gente, como as de personagens desta reportagem e de milhares de outros estudantes.



(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

COMO O ENEM MUDOU A MINHA VIDA

Gabriel Costa Lovisi, de 24 anos,
8º período de ciências contábeis da Faculdade Milton Campos

“Entrei em 2015 e usei a nota do Enem para conseguir a bolsa do Prouni de 100%. Naquela época, fiz cursinho durante todo o ano e estudava em casa também. Trabalhava com meu pai e estudava à noite. Foi uma prova bem estressante, por causa do longo período de duração. A maior dificuldade foi essa. O conteúdo não achei tão complicado. Mas foi fundamental para eu poder fazer o curso que queria. Como preciso trabalhar, teria que tentar uma universidade federal no curso noturno, pois pagar faculdade seria muito difícil. Faço estágio no BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) e, quase me formando, estou à procura de emprego na área. Sem o Enem não estaria nesse estágio agora. Pode ser que, com o passar do tempo, conseguisse aprovação em uma universidade federal, mas precisaria de uma nota muito maior. E, na época, minha nota foi suficiente para passar no Prouni.”

 

LINHA DO TEMPO

1998 Enem é aplicado pela primeira vez, em 115 mil participantes

1999 Instituições de ensino superior passam a usar o Enem como critério de acesso aos cursos de graduação. A PUC-RJ e a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) foram as primeiras

2000 Exame se operacionaliza para atender pessoas com necessidades especiais, passando a oferecer prova em braile, prova ampliada, auxílio para leitura e transcrição e tradutor/intérprete em libras

2001 Começa a política de inscrição gratuita para concluintes do ensino médio no ano da edição

2004 Resultado individual do Enem passa a ser critério de participação dos inscritos a bolsas de estudo integral ou parcial em cursos de graduação de instituições privadas por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni), lançado naquele ano, por medida provisória, e transformado em lei em 2005

2009 Criação do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e adoção do novo Enem

2010 Exame começa a ser aplicado para pessoas privadas de liberdade (Enem PPL)

2013 Instituições federais de ensino superior passam a usar o Enem como critério de seleção para novos alunos. A nota também podia ser usada para concessão de bolsas de estudos do programa Ciência sem Fronteiras

2014 Assinado o primeiro acordo interinstitucional com uma instituição de educação superior portuguesa, a Universidade de Coimbra, para uso das notas do Enem no acesso a vagas

2015 Começa a política de atendimento por nome social. Já no primeiro ano, 286 travestis e transexuais usaram o benefício

2016 Estreia a coleta de dado biométrico e o uso de detectores de metal na entrada e saída dos banheiros

2017 Exame passa a ser aplicado em dois domingos consecutivos. Enem deixa de certificar o ensino médio, função que retorna ao Exame Nacional de Certificação de Jovens e Adultos (Encceja). Participantes surdos e deficientes auditivos passam a ter novo auxílio de acessibilidade, a videoprova em libras

2018 É implantada etapa de justificativa de ausência e solicitação de isenção em período anterior à inscrição para diminuir prejuízo com participantes isentos faltantes


Não perca, neste domingo gabarito extraoficial das provas do Enem 2018, parceria Chromos/Portal Uai.

 

 


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