O uso de adaptações na escola serve para aproximar o texto clássico da realidade do aluno. O risco, de acordo com professores, é subestimar a capacidade do jovem de desbravar trama ou linguagem mais complexa.
Outro argumento de Ceccantini é que a possibilidade de adaptação depende do tipo da obra. Para alguns clássicos, por exemplo, as adaptações permitem que os alunos conheçam a trama central, o que ajuda na construção do repertório. "Já no caso do Machado, as histórias são banais. A graça está em como é construída a narrativa."
O escritor de livros infantojuvenis Cláudio Fragata explica que a adaptação bem feita exige um entendimento cuidadoso da obra e do público-alvo. "Tento buscar um viés que interessa ao jovem de hoje para conduzir a narrativa", diz ele, que já adaptou obras de autores estrangeiros, como o francês Júlio Verne. "O texto original, para quem não está acostumado, é chato", diz. "A adaptação ajuda a criar a prática de leitura."
Dificuldades
Vera Bastazin, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Literatura e Crítica Literária da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), diz acreditar que o uso excessivo de versões revela a falta de intimidade dos professores com os clássicos. "A adaptação, muitas vezes, não é para o aluno, mas para quem dá aulas. A maioria dos professores não tem preparo e hábito de leitura", alerta.
Outro problema, segundo ela, é que há muitos projetos de governo que usam as adaptações com visão simplista. "Ao reduzir o tamanho e facilitar a obra, entende-se que todo mundo vai gostar de ler. Isso é uma ilusão."