Eliza Samudio foi levada para a morte. A afirmativa que responde à pergunta que há mais de dois anos desafia policiais, advogados e a opinião pública é de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, braço direito do goleiro Bruno. Após se ver isolado no julgamento sobre o sequestro e morte da ex-amante do atleta, ele declarou que ela realmente foi assassinada. E foi além: pela primeira vez um dos envolvidos no caso, que se transformou no de maior repercussão da Justiça mineira, envolveu o jogador diretamente na trama do homicídio. Em suas declarações, Macarrão – que sustentava a versão de que Eliza de Bruno foi deixada em um ponto de táxi antes de sumir – se esforçou para demonstrar que teve participação mínima no episódio.
Era madrugada quando Macarrão, depois de quase três horas do depoimento mais aguardado do dia, se perdeu em sua fala e mudou o tom de voz ao responder a uma pergunta da juíza Marixa Fabiane. “Aquele dia havia muita coisa estranha.” Com voz embargada, ele contou que, no dia apontado como o do assassinato, pediu a Bruno para deixar Eliza em paz, depois que o patrão pediu que ele levasse a jovem até a Pampulha. “Eu falei para o Bruno que pensasse bem o que ia fazer, pois a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco e tudo que acontecesse iria cair em minhas costas. ‘Sua família vai me culpar de estragar sua carreira e vida.’ Ele falou: ‘Deixa comigo!’, e bateu no peito. ‘Cara, me conta o que você está fazendo’, e ele disse: 'Larga de ser bundão'. Eu estava pressentindo que estava levando a senhorita Eliza para morrer”, afirmou Luiz Henrique, admitindo que houve o crime.
Segundo Macarrão, Bruno tinha dito a Eliza que ela seria levada ao apartamento que ganharia. Ao chegar ao destino com a mulher e o primo de Bruno, que na época do crime era menor, Macarrão disse que tudo ocorreu de forma muito rápida. “Fui eu e o adolescente J. no EcoSport levar Eliza em frente à Toca da Raposa e deixá-la lá, que alguém iria pegá-la. Uma pessoa desceu de um Palio preto, pegou Eliza de dentro do Eco Sport e deixou a criança”, relatou Macarrão. “Ela desceu voluntariamente (do carro). Eu não via a pessoa (que pegou a jovem) e arranquei o carro rápido. Saí do local e quase bati no poste.”
Dizendo ter guardado as declarações por mais de dois anos, Macarrão afirmou ter ficado abalado com o que ocorreu. “Voltei para o sítio chorando muito, preocupado. O J. (o menor primo de Bruno) estava tranquilo e dizia que eu era bundão. Chegamos no sítio por volta das 22h. Eu estava apavorado e nunca tinha lidado antes com essa situação”.
CERCO
A pressão para a confissão de Macarrão começou a ser articulada cedo. Em nova reviravolta no julgamento, o goleiro Bruno, que na véspera havia destituído seu defensor Rui Pimenta e nomeado o advogado Tiago Lenoir, anunciou que o jurista Lúcio Adolfo da Silva assumiria sua defesa. Com a iniciativa, o atleta teve seu julgamento desmembrado, já que o novo advogado pediu vista do processo, por não conhecer o caso. Ao ver Bruno deixando o tribunal, Macarrão chorou, segurou a cabeça com as mãos e a pôs entre as pernas, aparentando abandono e desespero.
Após conversar com o réu – agora respondendo isoladamente por homicídio, já que Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também teve seu julgamento adiado – o assistente da acusação, José Arteiro, anunciava ter fechado um acordo para a confissão. Para aumentar a pressão, o promotor Henry Wagner apresentou vídeos, ontem à noite, com reportagens sobre o caso. No banco dos réus, a estratégia pareceu dar certo. Luiz Henrique, que nos dias anteriores se mantinha impassível, dava sinais de inquietação e nervosismo antes do depoimento em que revelou sua versão para a trama. (Colaboraram Pedro Ferreira, Daniel Camargos e Carolina Lenoir)