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Estado de Minas JURADOS DECIDEM

Bruno pega 22 anos e 3 meses de prisão pela morte de Eliza Samudio; Dayanne é absolvida

Após quatro dias de julgamento em Contagem, ex-atleta conheceu sua sentença


postado em 08/03/2013 02:06 / atualizado em 24/02/2017 10:10

Preso há três anos, Bruno interrompeu uma trajetória de sucesso no futebol(foto: Arte sobre foto de Euler Junior/EM/D.A Press)
Preso há três anos, Bruno interrompeu uma trajetória de sucesso no futebol (foto: Arte sobre foto de Euler Junior/EM/D.A Press)

Sexta-feira, 8 de março de 2013, Dia Internacional da Mulher. Exatamente 969 dias depois da primeira notícia sobre o desaparecimento de Eliza Silva Samudio, o goleiro Bruno é condenado. Com base na decisão de sete jurados, a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues determinou, no início desta madrugada, em Contagem, na Grande BH, que Bruno Fernandes das Dores de Souza fique preso por 22 anos e três meses, 17 anos e seis meses deste tempo em regime fechado. Ele foi considerado culpado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, além de sequestro e cárcere privado. Já Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, sua ex-mulher, foi absolvida por 4 votos a 3 pelo cárcere e sequestro do bebê.

Foi num sábado, 26 de junho de 2010. Estourou como uma bomba no Flamengo e em todo o País a notícia de que o capitão da equipe, ídolo da maior torcida do Brasil e pretendido por clubes internacionais, como o Milan, da Itália, estava sendo investigado pelo sumiço e suposta morte da ex-amante, a modelo Eliza Samudio, de 25 anos, com quem teve um filho, Bruninho, também desaparecido. No mesmo dia a criança foi localizada no Bairro Liberdade, em Belo Horizonte, depois de a polícia descobrir que ela estava sob os cuidados da ex-mulher do atleta. Dayanne passou mais de 12 horas presa, até que um alvará de soltura a tirou da Delegacia de Contagem.

Dosimetria da pena.
A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues determinou 17 anos e seis meses de prisão em regime fechado para Bruno pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio. Neste crime, o goleiro foi beneficiado com redução de três anos na pena pela confissão parcial. Marixa fez questão de ressaltar que o benefício foi inferior ao condedido à Luiz Henrique Romão, o Macarrão, que revelou detalhes de sua participação em julgamento no último novembro. Pelo sequestro da modelo e de Bruninho, o goleiro pegou mais 3 anos e outros três meses pelo agravante de ser pai da criança. Ele também foi condenado a um ano e seis meses pela ocultação de cadáver. Estas últimas duas penas serão cumpridas em regime aberto.

Ouça a dosimetria da pena feita durante a leitura da sentença de Bruno pela juíza Marixa Rodrigues:



Leia também: blog acompanhou toda a movimentação durante o julgamento em Contagem

O JULGAMENTO...

SEGUNDA-FEIRA e o suposto acordo para confissão

Após mais de 5 horas de interrogatório da delegada Ana Maria Santos, primeira e única testemunha a ser ouvida no primeiro dia de julgamento do goleiro Bruno, a juíza Marixa Fabiane Rodrigues encerrou os trabalhos para retomá-los, com o depoimento de outras três testemunhas, na manhã da terça-feira. Depois do término da sessão, em conversa com a imprensa, promotoria e defesa negaram a existência de um possível acordo para que o atleta confessasse o crime e revelasse detalhes sobre a morte da modelo Eliza Samudio. No entanto, o assunto centralizou os debates nos bastidores.

Na ocasião, o promotor Henry Vasconcelos Castro reforçou a inexistência de um combinado e minimizou o impacto que uma confissão do acusado teria na sentença desta sexta-feira. "Eu estou trabalhando com a expectativa de que não haja confissão, assim como trabalhei com a expectativa de que não houvesse confissão por parte do Macarrão. E assim como a confissão do Macarrão não era importante, a do Bruno Fernandes não é importante para que a acusação prove ao júri a participação e a responsabilidade de todos os réus no cometimento dos crimes que os são atribuídos. Todas as provas são robustas, são densas e são respaldadas", disse.

VEJA IMAGENS DO JULGAMENTO NESTA QUARTA-FEIRA

Ainda na segunda-feira, os advogados de Bruno dispensaram todas as testemunhas de defesa. Segundo o promotor, a decisão foi uma estratégia dos defensores para encurtar o julgamento. A ideia, de acordo com Castro, era que menos pessoas falassem e menos detalhes fossem apresentados aos jurados, assim, eles teriam que basear a decisão basicamente nas 9 horas de debate entre defesa e acusação.

Também foi assunto no primeiro dia de trabalhos uma suposta encenação do goleiro, que teria esperado os fotógrafos entrarem para, então, abrir a Bíblia e começar a ler. Para Vasconcelos, Bruno foi completamente teatral. "O apelo religioso em nada vai interferir, assim como não interferiu no caso da Fernanda que fez a mesma coisa", apostou o promotor.

Interrogatório extenso Com mais de 14 anos de carreira na Polícia Civil e tendo chefiado uma delegacia de homicídios, a delegada Ana Maria Santos afirmou em plenário, também na segunda-feira, ter ficado abalada com o relato de Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno, sobre o momento em que Eliza Samudio foi morta. Ela afirmou que a escrivã chegou a pedir para interromper momentaneamente a digitação, se dizendo assustada com a narração.

"Ao narrar detalhadamente a morte, ele (Jorge) se mostrava bastante emocionado. Transpareceu que guardou o choro. Foi inclusive um dos momentos em que ele segurou no meu braço com intensidade. Eu percebi que ele estava sendo bastante sincero e que estava muito emocionado", reiterou a delegada.

Interrogada pelo defensor do goleiro Bruno, Lúcio Adolfo, a delegada demonstrou, em muitos momentos, impaciência com as perguntas feitas pelo advogado e chegou a ser irônica em algumas respostas. A investigadora foi ouvida na condição de testemunha por mais de quatro horas, tendo sido inquirida, também, pela juíza e pelo promotor.

Promotor chegou a sugerir absolvição de Dayanne Rodrigues nessa quinta-feira(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Promotor chegou a sugerir absolvição de Dayanne Rodrigues nessa quinta-feira (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
TERÇA-FEIRA e o depoimento de Dayanne

O segundo dia do julgamento do goleiro Bruno Fernandes e de sua ex-mulher Dayanne Rodrigues terminou sem grandes novidades. Durante aproximadamente quatro horas a ré respondeu às perguntas feitas pela juíza, promotoria e defesa. O jogador foi retirado do plenário durante o depoimento da ex e logo deixou o fórum, retornando para a Penitenciária Nelson Hungria.

Dayanne não apresentou nada de muito revelador em seu depoimento. Porém, falou claramente do envolvimento do policial civil aposentado José Lauriano de Assis Filho (o Zezé). Segundo ela, no dia em que a polícia prendeu os envolvidos no cárcere de Bruninho, Macarrão telefonou dizendo que Zezé ligaria para ela contando para qual delegacia Elenilson e o casal de caseiros do sítio haviam sido levados.

O promotor Henry Vasconcelos quis saber de Dayanne qual foi o teor dessa conversa, mas ela não esclareceu. Apenas reafirmou que Bruno e Macarrão mandaram ela negar a qualquer policial saber do paradeiro de Bruninho. Foi então que Vasconcelos questionou o por quê de Macarrão ter colocado justamente um policial civil em contato direto com ela. Dayanne ficou nervosa porque não compreendeu a pergunta, mas depois afirmou não saber qual era a intenção do amigo do goleiro.

Zezé é alvo de uma investigação que corre em segredo para apurar o envolvimento dele e de outro policial civil, Gilson Costa, no sequestro e morte de Eliza. Segundo o Ministério Público, há vários registros de ligações telefônicas entre os dois policiais, Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e Macarrão. O promotor Henry afirmou que eles serão indiciados oportunamente.

Depois de concluído o interrogatório do promotor, a juíza permitiu aos advogados que fizessem perguntas. Tiago Lenoir, que defende Bruno, quis saber sobre os cuidados que Dayanne teve com Bruninho. Já Lúcio Adolfo, que também representa o goleiro, a questionou sobre uma carta enviada à Ordem dos Advogados do Brasil sobre supostas torturas cometidas durante a fase de inquérito policial. Dayanne disse que agiu sob orientação do advogado Ércio Quaresma, que à época a representava. Quem também fez perguntas foi a advogada que representa a mãe de Eliza. Ela quis saber se Dayanne sabia qual seria o destino de Bruninho. A ré disse desconhecer. Nenhum jurado quis fazer perguntas e a juíza Marixa Fabiane Rodrigues deu o interrogatório por encerrado.

Advogado de Bola reclamou de acordo para que seu cliente fosse citado por Bruno(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Advogado de Bola reclamou de acordo para que seu cliente fosse citado por Bruno (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
QUARTA-FEIRA e a fala de Bruno: Bola é citado

Na quarta-feira, a grande expectativa por uma confissão do goleiro Bruno Fernandes foi frustrada. Em pouco mais de três horas, o atleta praticamente repetiu os relatos feitos por Luiz Henrique Romão, o Macarrão, no primeiro julgamento do caso, realizado em novembro do ano passado. Ele apenas inverteu os papéis com o amigo e o acusou de ter articulado e até ajudado na morte de Eliza Samudio. O que se pode considerar novidade nas falas de Bruno é o fato de, pela primeira vez, um dos acusados citar abertamente o nome de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, como executor do crime.

A impressão é de que o nome de Bola saiu por um descuido de Bruno. Os dois defensores do réu estavam posicionados em frente a ele, mas recuaram no momento em que o nome foi pronunciado na resposta do goleiro a uma pergunta da juíza relacionada à execução de Eliza. "Depois dos fatos, ele me contou que havia contratado o Marcos Aparecido, o Neném". A magistrada perguntou, então, se Marcos Aparecido era o Bola. Depois de um curto silêncio, Bruno respondeu que soube pela imprensa que o ex-policial civil tinha vários codinomes.

Em perguntas feitas pelo advogado Lúcio Adolfo, que defende o atleta, Bruno contou que tem medo de Bola e que a sua ex-mulher, Dayanne Rodrigues, foi pressionada pelo ex-policial civil.

Versões semelhantes Ao relatar como ficou sabendo da morte de Eliza Samúdio, Bruno chorou muito. A versão contada pelo atleta se assemelha ao depoimento do primo, Jorge Rosa Sales, prestado à polícia no início das investigações sobre o sumiço e morte da modelo. Ele contou que sua ex-amante foi esquartejada, teve as mãos retiradas e os ossos jogados para cachorros comerem.

Segundo Bruno, Eliza deixou o sítio na noite do dia 10 de junho com Macarrão, Jorge e o filho dela. Ao atleta, a mulher teria dito que iria a um ponto de táxi e depois seguiria para São Paulo, onde resolveria alguns problemas. Após algumas horas, Luiz Henrique e o primo do goleiro voltaram somente com o bebê e as bagagens de Eliza.

Bruno disse que questionou os dois sobre o que havia acontecido e que Jorge acabou revelando. “Eles teriam ido para uma casa na Região de Vespasiano e entregado a Eliza para um rapaz chamado Neném. Lá, o rapaz perguntou para ela se era usuária de drogas e cheirou a mão dela. O rapaz pediu para o Macarrão amarrar a mão dela para frente e deu uma gravata nela”, disse Bruno, que ainda completou: "O Jorge disse que Macarrão ainda pegou e chutou as pernas de Eliza. Em seguida tinham esquartejado o corpo dela e jogado os ossos dela para os cachorros comerem".

QUINTA-FEIRA
e novo depoimento de Bruno


Antes dos debates entre acusação e defesa, o goleiro Bruno pediu para depor novamente, mas o "reinterrogatório" não durou nem 5 minutos. O advogado dele, Lúcio Adolfo, fez apenas uma pergunta, a qual o acusado respondeu cabisbaixo afirmando que "sabia e imaginava" que Eliza seria morta por Macarrão.

Promotoria Depois de um longo cumprimento aos jurados, citando nomes de um por um e dizendo a eles o privilégio que é estarem no conselho de sentença, Henry Vasconcelos, iniciou os argumentos voltado aos sete escolhidos. Muito firme, o promotor contou desde o início as ameaças de Bruno Fernandes a Eliza Samudio. Ele fez questão de citar as contradições do goleiro no que diz respeito à relação dele com a vítima.

O promotor, focado na ação de Bruno, afirmou que o goleiro cuidou para que suas mulheres, empregados, primos e amigos, seu imóveis no Rio de Janeiro e Minas Gerais, seus veículos e seus recursos pudessem protagonizar a trama para atrair Eliza Samudio. Para Henry, o goleiro teria levado sua "canalha quadrilha" a trazer Eliza para Minas Gerais. Atraiu a mulher ao Rio, providenciou o sequestro e de lá a trouxe a Minas Gerais para providenciar seu assassinato. O promotor ainda chamou os envolvidos no crime de "calhordas e covardes".


Vasconcelos traçou o perfil do goleiro Bruno como um homem perigoso, que seria articulador de um esquema forte de tráfico de drogas entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Mostrou em plenário que Bruno tinha contato direto com o criminoso Nem da Rocinha. E provocou: "O futebol perdeu um goleiro razoável, mas um grande ator entrou para dramaturgia".

"Vocês podem até culpar o Bruno, mas não por provas", argumentou Lúcio Adolfo (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Defesa O advogado do goleiro Bruno, Lúcio Adolfo, começou sua argumentação buscando desqualificar o trabalho do promotor Henry Vasconcelos. Disse aos jurados que reparou como os 67 volumes do processo foram dispostos na mesa em que está sentado o representante do Ministério Público, que possuem "papeizinhos" marcando páginas. "Mas só nos primeiros oito. Depois os papeizinhos vão raleando", disse. Com isso o defensor buscou destacar que a promotoria se atém somente às primeiras provas produzidas contra os réus.

A condenação de Macarrão também foi usada como argumenta para criticar o trabalho feito pela acusação. Lembrou Lúcio Adolfo que Macarrão, acusado de crime hediondo, recebeu a pena base. "E a promotoria não recorreu", lembrou, questionando qual profissional faria isso.

Ao longo de sua argumentação, o advogado Lúcio Adolfo também tentou explicar, mesmo que de forma sucinta, especificações jurídicas aos sete jurados. Teoricamente, o Conselho de Sentença é formado por pessoas leigas. Assim, o defensor de Bruno tomou o cuidado de explicar termos técnicos e trâmites legais da magistratura.

Caso Bruno terá novos julgamentos nos próximos meses


Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, apontado como executor de Eliza Samudio, está preso desde 2010 em São Joaquim de Bicas, na Grande BH. Ele aguarda o julgamento que acontecerá no dia 22 de abril. Durante o julgamento desta semana, Bruno citou o ex-policial civil como assassino da modelo.

Ex-funcionários do goleiro, Elenilson da Silva e Wemerson Marques, o Coxinha, também serão julgados, mas estão em liberdade. Eles irão a júri popular em 15 de maio, pelo sequestro e cárcere privado de Bruninho. Moradores de Ribeirão das Neves, os dois trabalham na região.

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