Dois carnavais em uma só cidade. A decisão judicial que proibiu, na quarta-feira, abusos em área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) dividiu a festa de Momo no município da Região Central de Minas. De um lado, no Centro Histórico, apenas blocos caricatos, bailes populares e matinês animam os foliões, num clima nostálgico embalado por velhas marchinhas e sambas de raiz. Do outro, longe de igrejas e casarões centenários, grandes shows de axé, pagode e funk, além de desfiles de escolas de samba, atraem multidões.
Nas praças e ladeiras coloniais, onde prevalece a atmosfera dos carnavais de antigamente, uma das principais atrações é o desfile do bloco Zé Pereira da Chácara. Mais de 30 bonecos gigantes, conhecidos como catitões, dão vida a figuras folclóricas e a personagens típicos da cidade, remontando a uma tradição nascida nos idos de 1840 e que faz do grupo carnavalesco um dos mais antigos em atividade no Brasil. Na noite de hoje, eles fazem a última apresentação deste ano, levando às ruas homenagens a personalidades como o médium Chico Xavier, o ex-presidente Itamar Franco e antigos moradores de Mariana, a exemplo do seu Tito, Liberato e Angelino.
À frente do bloco há mais de 30 anos, o diretor Cesário de Paula, de 66, esbanja orgulho pelo sucesso do desfile, tradicional nas noites de sábado e segunda-feira. “O Zé Pereira é parte da história de Mariana e de Minas. Tenho carinho dos catitões e também pelo Zé Pereira Mirim, que tira muitos jovens da rua e mostra a eles um novo caminho”, conta. Os bonecos gigantes, produzidos de forma artesanal com bambu, fibra de sisal, jornal e grude, encantam moradores da cidade. “O desfile faz lembrar meus tempos de moça. E hoje tenho orgulho de ver dois filhos e um neto participando da festa”, diz Maria Josina Gonçalves, de 59, admirando o bloco da janela de casa, na Rua Dom Viçoso.
Além do Zé Pereira, o Centro Histórico de Mariana terá hoje desfile do Bloco dos Farrapos e do Bloconecos de Catin, um grupo de bonecos anões gigantes de quase dois metros de altura. Com enormes cabeças e corpo franzino, eles são inspirados no teatro de marionetes e, sob o comando do argentino Catim Nardi, animam os foliões com antigas marchinhas e sambas-enredo consagrados. Na Praça Minas Gerais, está marcada uma matinê com apresentação do Clube do Vinil e da Cia do Riso, a partir das 13h30. Fora do circuito histórico, as atrações são shows de samba e pagode na Praça JK, ao lado da prefeitura.
