Bolsa de valores

Com melhora na perspectiva da economia brasileira, o índice Ibovespa chegou ao maior patamar desde 9 de agosto de 2021

Luiz Prado/Divulgação/Bovespa - 26/8/18


A agência de classificação de risco Fitch elevou a nota de crédito soberano do Brasil a BB, contra BB- antes, com perspectiva estável. Segundo a Fitch, a decisão reflete um desempenho macroeconômico e fiscal melhor que o esperado e a agenda de reformas, com o avanço da reforma tributária e do arcabouço fiscal no Congresso, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e a reforma da Previdência e a independência do Banco Central (BC), nos anos anteriores. “O Brasil alcançou progresso em importantes reformas para enfrentar os desafios econômicos e fiscais”, diz a agência, em relatório.

Ela destaca ainda que, embora o governo Lula defenda uma mudança na agenda econômica liberal de governos anteriores, existe a avaliaççao de que o presidente adotará uma abordagem pragmática em vez de intervencionista, com agenda que inclui iniciativas para impulsionar o investimento privado. A agência assinala que vê como improváveis grandes reversões de reformas dos últimos anos, como a trabalhista e a privatização da Eletrobras, até por causa dos freios impostos pelo Congresso.

A Fitch afirma que a Petrobras e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estão adotando mudanças moderadas em suas estratégias corporativas, que provavelmente não reacenderão as distorções que prejudicaram o desempenho econômico no passado. A Fitch diz também que o presidente Lula “tem conseguido garantir a governabilidade e avançar em sua agenda política”. “As tensões políticas persistem, mas não culminaram em resultados econômicos ou políticos adversos e refletem o funcionamento eficaz dos freios e contrapesos”.

Ex-presidente do Goldman Sachs no Brasil e atualmente sócio sênior da Seneca Evercore, Daniel Wainstein analisa que a mudança de nota mostra que o governo Lula está conseguindo “aproveitar a 'lua de mel' que governos possuem em início de mandato com o Congresso para conseguir aprovar medidas importantes”. A Fitch tinha rebaixado a nota de crédito do Brasil para BB- em 2018, no governo Temer, quando o país passava por déficit fiscal, crise nas contas públicas e fracasso em aprovar a reforma da Previdência.
 
 
Na decisão de ontem, a agência citou medidas como o avanço do novo arcabouço fiscal e da Reforma Tributária no Congresso como um desdobramento positivo para a nota de crédito do Brasil. A Reforma Tributária, avalia a agência, aborda um dos maiores gargalos do Brasil relativo à competitividade da economia. "(A Reforma Tributária) visa simplificar o sistema altamente complexo e eliminar as distorções que alimentam a má alocação de capital."

Repercussão 

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), fechou em alta de 0,45%, aos 122.560,38 pontos, maior patamar desde 9 de agosto de 2021, quando atingiu 123.019,38 pontos. O dólar comercial encerrou a sessão de ontem em queda de 0,459%, cotado a R$ 4,728. É o menor valor desde 20 de abril de 2022, quando a moeda foi comercializada a R$ 4,620.

O Ministério da Fazenda disse que a decisão da agência corrobora os esforços empreendidos pelo governo para fortalecer o ambiente econômico e promover a consolidação fiscal. A pasta reiterou o compromisso com a agenda de reformas em curso para levar ainda à redução das taxas de juros e à melhoria das condições de crédito e assegurar a estabilidade dos preços. A decisão da Fitch vem na esteira de um “esforço grande do governo, capitaneado pelo Ministério da Fazenda, de ampliar as receitas e reduzir o déficit fiscal”, diz Luiz Fernando Figueiredo, presidente do conselho de administração da gestora Jive Investments e ex-diretor do BC.
“É todo um ambiente que está melhorando por conta de várias coisas”, diz Figueiredo, que cita, além da Reforma Tributária e do arcabouço fiscal, as projeções mais otimistas dos investidores para o desempenho da atividade econômica e da inflação. O receio que havia entre os agentes financeiros de uma reversão da política de reformas dos governos anteriores diminuiu ao longo do primeiro semestre, acrescenta o executivo.

A elevação do rating do Brasil pela Fitch vem pouco mais de um mês depois que outra agência de classificação de risco, a S&P, mudou a perspectiva para a nota de crédito do Brasil, atualmente BB-, de estável para positiva, também citando sinais de maior certeza sobre a estabilidade da política fiscal. Já a Moody´s tem nota Ba2 com perspectiva estável para o Brasil. Todas as notas, no entanto, seguem abaixo do chamado grau de investimento, que indica baixo risco de calote.

Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, essas melhoras nas notas de crédito do Brasil já eram de certa forma esperadas. “Isso já estava no radar. Os preços de mercado já mostravam isso, com a Bolsa na máxima do ano, a 122 mil pontos, o dólar na mínima do ano, a R$ 4,74, e as taxas de juros futuros longos também na mínima", diz. Segundo Gala, as agências de classificação de risco costumam ficar "atrás da curva", apenas sancionando o que já está explícito nos preços de mercado, ou seja, a forma como os investidores estão enxergando a política econômica e a organização das contas públicas dos países.

Além do ambiente doméstico, Gala chama atenção para a influência do mercado externo no Brasil. “O cenário internacional deu uma bela aliviada, com as bolsas americanas na máxima, o dólar perdendo valor lá fora também. Então, é um contexto bem mais propício para os países emergentes” explica. Com a elevação de ontem pela Fitch, o Brasil está a dois degraus para alcançar novamente o selo de grau de investimento, que perdeu em 2015.

Crescimento 

A agência também elevou a perspectiva para o crescimento econômico do Brasil neste ano para 2,3%, forte melhora ante a expansão de 0,7% prevista antes. A avaliação é de que o consumo esfriou com a política monetária apertada, mas continua sustentado por um mercado de trabalho forte, gastos fiscais e crescimento contínuo do crédito. Para 2024, espera uma desaceleração para 1,3%, com uma normalização da produção agrícola. Segundo o economista André Perfeito, a melhora da nota pela Fitch, a desaceleração da inflação e os avanços da reforma tributária e do arcabouço fiscal abrem espaço para que o Banco Central inicie o ciclo de redução dos juros, com uma queda de 0,50 ponto percentual no próximo dia 2 de agosto. (Folhapress)

Haddad e Lira trocam afagos

Ao comentar a elevação da nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ontem que a harmonia entre os Poderes é a saída para que o Brasil volte a obter grau de investimento. “A Fitch é a primeira das grandes agências que muda a nota do Brasil. Eu sempre disse e continuo acreditando que a harmonia entre os Poderes é a saída para que nós voltemos a obter grau de investimento”, disse Haddad.

“Um país do tamanho do Brasil não tem sentido não ter grau de investimento”, disse Haddad. O titular da Fazenda afirmou que, em seis meses de trabalho, o governo do presidente Lula (PT) está conseguindo sinalizar para o mundo que o Brasil é o pais das oportunidades.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), reagiu, ontem, à elevação da nota de crédito do Brasil de BB- para BB, pela agência de classificação de risco Fitch. Para o parlamentar, esta é uma “importante conquista para a economia do país”. “A nova avaliação da agência se deve à política econômica do governo, que tem recebido todo o apoio institucional da Câmara dos Deputados”, escreveu ele no Twitter. Segundo Lira, a aprovação da reforma tributária, do arcabouço fiscal e do projeto de lei que retoma o voto de qualidade a favor do fisco em causas julgadas pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) teriam contribuído para a mudança na nota. “A Câmara não falta à sua responsabilidade com o Brasil e apoia todas as medidas do interesse do país.”