Fernando Haddad, ministro da Fazenda

''Muito tempo de juro real muito elevado. Nós estamos preocupados, estamos recebendo muito retorno de prefeitos, de governadores sobre arrecadação, a nossa mesma aqui'' - Fernando Haddad, ministro da Fazenda

SERGIO LIMA/AFP

Brasília - A desaceleração da economia obtida pelo Banco Central (BC) por meio dos juros altos está dentro do esperado, mas veio forte e afeta a economia, disse ontem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
 
Ele comentou o recuo de 2% do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) em maio em relação a abril, divulgado na manhã de ontem pelo (BC). “[Está] como esperado [o IBC-Br]. Muito tempo de juro real muito elevado. Nós estamos preocupados, estamos recebendo muito retorno de prefeitos, de governadores sobre arrecadação, a nossa mesma aqui”, afirmou Haddad no início da tarde.
 
Divulgado todos os meses pelo BC, o IBC-Br funciona como um tipo de prévia do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país).

O ministro voltou a criticar a política de juros altos e disse que taxas reais (juros menos inflação) em torno de 10% ao ano prejudicam a economia. “A pretendida desaceleração da economia pelo Banco Central chegou forte. A gente precisa ter muita cautela com o que pode acontecer se as taxas forem mantidas na casa de 10% o juro real ao ano. Está muito pesado para a economia”, acrescentou.

Em 1º e 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reúne-se para decidir se mantém a Taxa Selic (juros básicos da economia) em 13,75% ao ano ou se começa um ciclo de cortes. Esse será o primeiro encontro após a posse dos novos diretores do BC, Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização).

Haddad deu a declaração ao voltar de reunião no Palácio do Planalto incluída de última hora na agenda. Segundo o ministro, o encontro tratou sobre eventuais ajudas a cooperativas de catadores de lixo, cuja população pode estar subestimada. “O Cadastro Único [do governo federal] aponta 300 mil pessoas como catadores de materiais recicláveis, mas o número real pode chegar a 1 milhão. A Fazenda foi demandada a traçar cenários para ajudar essa população”, informou o ministro. 
 
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), indicador considerado uma prévia de desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, caiu 2% em maio na comparação com abril, segundo o Banco Central do Brasil. Em abril, o indicador tinha mostrado alta de 0,56%. Em relação a abril de 2022, o IBC-Br teve crescimento de 2,15%. No trimestre encerrado em maio, o indicador avançou 1,63% ante o trimestre anterior. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, ocorreu alta de 3,83%.

Com os dados divulgados ontem, o IBC-Br acumula alta de 3,61% no ano e de 3,43% em 12 meses. O resultado foi o pior já registrado para o mês em 5 anos, atrás somente de 2018, quando caiu 3,08%. Também foi o pior desempenho mensal desde março de 2021, quando a prévia do PIB tombou 3,5%.

DESENROLA


Haddad falou também sobre o programa Desenrola Brasil. O número de brasileiros com dívidas de até R$ 100 que pode ficar com o nome limpo pode chegar a 2,5 milhões se todos os bancos aderirem ao programa, estimou o ministro. “Tem um banco só que estava em dúvida se aderia ou não, porque viu pouca vantagem no crédito presumido, e tem 1 milhão de CPFs negativados", disse o ministro em referência ao Nubank. "Se aderirem todos os grandes bancos, são 2,5 milhões de CPFs."

O programa, que foi promessa de campanha do governo Lula (PT) para diminuir o número de endividados no país, entrou em operação ontem com a adesão dos cinco maiores bancos – Bradesco, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Caixa Econômica e Santander. Inicialmente, a Fazenda projetava que 1,5 milhão de pessoas tivessem o "nome limpo" a partir desta segunda para que pudessem, por exemplo, negociar outros empréstimos e assinar contratos de aluguel.
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Na prática, os bancos terão até 28 de julho para retirar o débito da lista de inadimplentes. Continuará com o nome sujo quem tiver dívidas de outras origens que não seja bancária, como débitos de água e luz, por exemplo. Apesar de não contar com a garantia do FGO (Fundo Garantidor de Operações) nesta fase do Desenrola, os bancos tiveram um incentivo regulatório já usado em outras ocasiões, como na pandemia de COVID-19.

As instituições financeiras que negociarem dívidas bancárias no Desenrola têm direito a um crédito presumido que, na prática, melhora a posição de capital do banco e abre espaço para impulsionar novos financiamentos. O governo estima que cerca de R$ 50 bilhões poderão ser negociados nesse contexto, beneficiando em torno de 30 milhões de pessoas. Remover a negativação desses devedores é uma contrapartida exigida pelo governo para as instituições financeiras participarem da próxima fase do programa, que será aberta ao público em setembro.

Ela é voltada para quem recebe até R$ 2.640 por mês ou esteja inscrito no Cadastro Único de programas sociais e entrou na lista de negativados a partir de 1º de janeiro de 2019, permanecendo com dívida ativa até 31 de dezembro de 2022. O valor a ser negociado terá limite de R$ 5.000. Na etapa seguinte, o FGO terá R$ 7,5 bilhões para avalizar financiamentos contratados pelas pessoas da chamada faixa 1. O montante pode ser complementado, segundo o titular da Fazenda, "se o sucesso do programa for superior" ao imaginado pelo governo. Com isso, a equipe econômica prevê negociar R$ 30 bilhões em dívidas com garantia do governo no Desenrola.