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Estado de Minas Energia

Em plena seca, Minas mantém termelétrica desativada na Grande BH

Reativação, segundo a Cemig, colocaria em funcionamento uma usina deficitária e com tecnologia defasada. Eletricitários defendem retomada


07/07/2021 04:00 - atualizado 07/07/2021 07:37

Instalada às margens da BR-262, na Grande BH, termelétrica Igarapé tem capacidade para atender a cidade de 440 mil habitantes(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Instalada às margens da BR-262, na Grande BH, termelétrica Igarapé tem capacidade para atender a cidade de 440 mil habitantes (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


A discussão sobre a necessidade de o país adotar o racionamento de energia elétrica neste ano ganhou força diante da crise hídrica enfrentada país afora, enquanto Minas Gerais, a chamada caixa d'água nacional, mantém paralisada a usina termelétrica UTE Igarapé, instalada em Juatuba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com capacidade para gerar 131 megawatts-hora (MWh), o empreendimento está desativado desde 2019 e a megaestrutura montada às margens da BR-262 abandonada. Naquela época, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e o governo estadual argumentavam que a usina não gerava lucro. Ainda hoje, a reativação está descartada.
 
Em 17 de fevereiro último, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou a Portaria 487/2021 extinguindo a concessão da UTE Igarapé outorgada para a Cemig GT, subsidiária da Cemig na área de geração e transmissão. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) recomendou a extinção em outubro do ano passado e considerou que a usina já não era de interesse da concessionária.
 
Minas Gerais está entre os cinco estados que tiveram alerta hídrico de emergência para o período de junho a setembro próximo, emitido em 28 de maio pelo governo federal. Também estão na lista Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. O alerta reforça as preocupações com o baixo nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas do país, que, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), estava, naquela data, em 44% da média histórica. Cerca de um atrás, esse índice estava em 60% e já era considerado preocupante.
 
Ainda em Minas, na Bacia do Rio Paranaíba, o armazenamento de água está abaixo do histórico de operação, especialmente, nos reservatórios de Emborcação (abaixo dos 20%) e Nova Ponte (próximo dos 15%). Essas hidrelétricas estão localizadas na região do Triângulo.
 
A seca fez com que o governo federal acionasse as usinas termelétricas, que geram energia a um custo mais alto. Entretanto, a usina de Igarapé não aparece entre elas. Só agora, em meio ao risco de racionamento e apagão, é que o impacto da desativação poderá ser sentido. Pelo menos, é nisso que acredita o coordenador geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores da Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG), Emerson Andrada.
 
“Era óbvio para todo mundo que lida com o setor energético vez ou outra vai faltar água, e quando isso acontece as usinas térmicas são responsáveis pela geração de energia”, destacou o coordenador. Emerson Andrada classificou a suspensão da operação como “irresponsabilidade”. “Não deveria levar em consideração sua capacidade de gerar lucro, deveria ser a capacidade de gerar segurança energética”, analisou. Para ele, as termelétricas são essenciais para substituir a energia gerada pelas hidrelétricas diante da escassez de recursos hídricos.
 
“À porta de uma crise hídrica, cada empresa deveria contribuir com o seu esforço para garantir que não falte energia. A Cemig poderia contribuir de forma muito significativa, principalmente, na região em que estamos inseridos”, reforçou. A energia é gerada em um sistema interligado, ou seja, a distribuição é feita em nível nacional. “Mas quanto mais próximo você está da geração, mais você garante a qualidade da energia que é gerada para você”, explica o coordenador do Sindieletro. Por exemplo, no caso de um apagão, quem está mais próximo do local de geração tem a tendência de ter o restabelecimento adiantado em relação a quem está distante.
 
Estima-se que a UTE Igarapé é capaz de iluminar uma cidade de 440 mil habitantes, considerando-se consumo médio por família de 250Wh. “Com o pequeno parque termelétrico que temos e a ausência de outras fontes de energia dentro do estado de Minas Gerais, para este momento, o governo deixou a população mineira e brasileira, porque o sistema é interligado, descoberta desta segurança”, concluiu Andrada.

Estrutura arcaica A Cemig sustenta que a usina foi desativada devido à baixíssima demanda por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). “Tornando-se deficitária para pagamento dos custos fixos”, afirmou em nota. A UTE necessitaria operar pelo menos quatro meses por ano para ser viável, e cabe ao ONS gerenciar o despacho.
 
Do ponto de vista tecnológico, a UTE Igarapé tem os sistemas de operação obsoletos, não se encontrando peças de reposição no mercado. “A Cemig fez diversos estudos e simulações de possibilidades de operações futuras da UTE Igarapé, e o resultado foi que a operação do sistema para os próximos cinco anos, até o final da atual concessão, teria o número médio de dias de despacho anuais previstos muito baixo, inferior ao despacho mínimo necessário para que a usina equilibre seus custos”, destaca a nota.
 
A companhia informou que está focada em manter o parque gerador com produção 100% de energia limpa, de fontes renováveis. Seu parque gerador está estruturado sobre fontes renováveis, com predominância de geração hídrica. O religamento da usina de Juatuba está descartado, mesmo que seja para complementar o sistema  elétrico em meio à crise hídrica. (Amanda Quintiliano/Especial para o EM)
 
Parte dos equipamentos da usina está sendo reaproveitada pela Cemig, que informou a decisão de vender material desgastado(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Parte dos equipamentos da usina está sendo reaproveitada pela Cemig, que informou a decisão de vender material desgastado (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 
 

Equipamentos e área devem ser vendidos

 
Parte dos equipamentos da termelétrica Igarapé está sendo reaproveitada em outras instalações da Cemig, informou a companhia ao Estado de Minas. Demais equipamentos e materiais, por terem sido projetados e construídos para a UTE e já sofreram desgaste pelo tempo de operação comercial, devem ser destinados para alienação. Quanto ao terreno, haverá desmembramento do imóvel para possibilitar o aproveitamento de algumas áreas por outras gerências da empresa (algumas edificações principais).
 
Está prevista a venda de parcela das áreas consideradas sem reserventia pela concessionária. A companhia não tem avaliação recente da usina, de acordo com a Cemig. Em 2003, a UTE do Barreiro, em Belo Horizonte, foi avaliada em R$ 86 milhões, segundo o Sindiele- tro. Ela tem o dobro da capacidade da usina Igarapé. Entretanto, é mais antiga, o que impacta em seu valor de mercado.
 
Como referência, a construção da termelétrica de Onça Pintada, no Mato Grosso, em 2016, custou R$ 300 milhões para geração de 50 megawatts-hora. Significa custo de cerca de R$ 700 milhões para uma usina nova do porte da UTE Igarapé, com base em análise do Sindieletro. O sindicato  protestou contra a desativação da termelétrica de Juatuba, decisão que considerou medida de “sucateamento”do parque da Cemig.

Nova regra Em  7 de junho, diante da maior crise hídrica em 30 anos no Brasil, o Ministério de Minas e Energia publicou portaria ampliando a possibilidade de acionamento de usinas termelétricas sem contrato vigente de comercialização de energia. Pela nova regra, o governo poderá acioná-las sem contrato movidas a partir da queima de carvão, óleo diesel e biomassa.
 
Antes, só era permitido o acionamento de usinas termelétricas sem contrato movidas a gás natural. “Elas estão complementando a energia que as usinas hidrelétricas não conseguem produzir”, explica Gilberto Cervinski, especialista em energia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro do Movimento Atingidos por Barragens.
 
Para Cervinski, a questão central do problema não está na matriz energética. “O uso de todas as fontes, e dependendo das condições de cada país, é importante. Mas, elas devem ser orientadas sob uma política energética adequada, capaz de servir ao país acima de tudo, e não da especulação financeira”, afirma. (AQ) 


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