Bernardo Maciel, sócio da Orgânico do Chico: entregas mais que dobraram durante a pandemia

Bernardo Maciel, sócio da Orgânico do Chico: entregas mais que dobraram durante a pandemia

Edésio Ferreira/EM/D.A Press
Desde o início da pandemia, muitos setores de negócios foram prejudicados de alguma forma. Alguns,porém, experimentam fluxo contrário. É o caso dos produtores e vendedores de produtos orgânicos, que viram crescimento tão grande na demanda que mudaram ou ampliaram suas sedes, contrataram mais funcionários e, consequentemente, tiveram mais lucros. 
 
Dados da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) revelam que houve caso de produtores que chegaram a triplicar sua produção em 2020, especialmente para atender os canais de venda on-line. Segundo a entidade, o setor fechou o ano com aumento de 30%, movimentando cerca de R$ 5,8 bilhões.

Em Belo Horizonte, o consumo de orgânicos cresceu desde ano passado, e Bernardo Maciel, um dos sócios da Orgânicos do Chico, percebeu no faturamento a mudança do comportamento do consumidor. “No dia das primeiras restrições, em março de 2020, entregamos cerca de 60 cestas. No mês seguinte, pulou para 130 entregas”.
 
A logística da empresa precisou ser remodelada, como conta Pedro Jaques, que cuida do setor na Orgânico do Chico. “Começamos em um espaço bem pequeno, num modelo caseiro. Fomos nos adaptando e agora temos uma gama de produtos bem maior que um ano atrás. Foi muito por conta da pandemia. Mudamos de espaço duas vezes nesse período.”
 
A sede da empresa precisou ser trocada logo no início da primeira onda em BH. Da Região Centro-Sul, a loja foi para o lado Oeste da cidade. “Estávamos num espaço bem pequeno no Bairro Luxemburgo e fomos para um maior no (bairro) Prado. Mas as vendas aumentaram ainda mais, aí precisamos mudar de novo. Agora, temos um galpão no Bairro Salgado Filho, com câmara fria e linha de montagem bem mais organizada. Tudo fruto de crescimento absurdo em um ano”, detalha Pedro.
 
Bernardo completa que, entre cada mudança, não se passaram mais de 15 dias: “A primeira foi logo no início, já não dava mais para colocar as cestas na loja, lá era bem pequeno. Aí, tivemos que mudar com urgência, com uma ou duas semanas. E um ano depois mudamos novamente, em questão de seis dias fizemos tudo de novo”.
 
Antes da pandemia, a Orgânico do Chico fazia entregas duas vezes na semana, com uma média de 200 pedidos. Agora, em maio de 2021, é mais que o dobro, com cerca de 500 entregas, de segunda a sábado. 
 
O site da loja facilitou o registro de novos produtos, que já passam de 1.000 cadastrados, de hortifrútis a mel, queijos e carnes em geral. Além disso, Pedro acredita que aceitar cartões de vale-refeição contribuiu para expandir o negócio, já que diversos clientes estão trabalhando de casa e não estavam gastando os créditos com almoços e lanches na rua.

“Aceitamos todos os cartões, inclusive de alimentação. Muitos clientes estavam em home office e usaram os créditos que eles não estavam gastando na rua, para comprar os orgânicos.”
 
Os produtos não apareceram no site da loja sem razão, todos foram adicionados à medida que os clientes apresentavam outras necessidades e a equipe encontrava uma solução orgânica.

“Começamos vendendo mais hortifrútis, mas a gama de produtos orgânicos está crescendo muito. Fomos observando a demanda dos nossos clientes e optamos por expandir para vender todos os produtos que uma pessoa tem necessidade em casa”, conta o responsável pela logística. 
 
No caminho contrário de outros ramos, vender produtos orgânicos resultou em um faturamento bem maior que antes da pandemia, segundo o sócio Bernardo. “Aqui foi o contrário, a pandemia fez a gente crescer. Agora estamos faturando cinco vezes mais do que antes. Era um crescimento natural que ia acontecer, porque a empresa estava muito no início, mas a pandemia foi um catalizador”, afirma.
 

Feira on-line se adaptou ao rápido aumento da demanda 

 
Outro estabelecimento que observou o sucesso das vendas foi a Fazendinha em Casa, uma feira on-line que conecta os pequenos produtores rurais do interior de Minas aos consumidores finais, sem precisar de uma loja física para revenda de mercadorias orgânicas e frescas. A plataforma digital tinha apenas três anos de existência, quando começou a pandemia. 
 
Cláudia Ligório, cofundadora da Fazendinha em Casa, diz que a pandemia acelerou o processo das vendas on-line

Cláudia Ligório, cofundadora da Fazendinha em Casa, diz que a pandemia acelerou o processo das vendas on-line

Edésio Ferreira/EM/D.A Press
De acordo com a cofundadora da empresa, Cláudia Ligório, como o intuito da Fazendinha é comercializar produtos naturais pela internet, a equipe já sabia que em alguns anos iria crescer e captar mais clientes, por isso a estrutura da startup conseguiu se adaptar rapidamente ao aumento repentino na demanda de compras on-line. 
 
“Foi um crescimento extremamente expressivo. Por sermos uma startup já tínhamos em mente que isso iria acontecer on-line, mas não como foi. O que a pandemia fez foi acelerar esse processo. De uma semana para outra, todos passaram a precisar comprar on-line. Tínhamos uma estrutura de vendas que facilmente se adequou ao crescimento”, disse Cláudia.
 
Apesar dessa facilidade, a empresa precisou adaptar o espaço de funcionamento para atender o fluxo do site, que aumentou em torno de 1.000% na pandemia. A sede, que fica na região Noroeste de Belo Horizonte, expandiu para outras áreas do prédio e um ano depois, ela está cerca de 10 vezes maior. 
 
Além disso, um sistema de entrega das mercadorias sem contato entre produtores e colaboradores da Fazendinha também foi desenvolvido. No início foi mais complicado, porém agora todos os envolvidos já se acostumaram.

“O grande desafio foi receber as mercadorias, organizar a forma que elas entram e saem e, sem ter muito contato. Os produtores deixam as mercadorias e nós monitoramos a distância. Antes, o processo era manual, agora já estamos acostumados”, diz a cofundadora. 
 
Os produtos são colhidos um dia antes de serem entregues, de acordo com os pedidos. Depois, ficam com a Fazendinha cerca de duas horas e vão para os destinos finais, com motoristas cadastrados pela empresa.
 
Mas Cláudia lembra que a Fazendinha não faz revenda, já que a plataforma apenas facilita o acesso direto dos compradores na cidade, às mercadorias do campo. Sendo essa, uma das principais dificuldades dos pequenos produtores rurais, que por diversas vezes têm problemas logísticos para entregas e não conseguem vender poucas quantidades.
 
Com a expansão durante a pandemia, o lucro da empresa foi investido em melhorias na plataforma digital e os planos para todo o Brasil já tem data para acontecer.

“Investimos tanto que agora estamos com uma plataforma própria, para termos resultados melhores. Ela vai propiciar, inclusive, que outras cidades recebam os produtos, vamos expandir para o Brasil todo com os produtores”, diz Cláudia.

Nos próximos meses, a Fazendinha em Casa vai abrir a plataforma para produtores de todo o país poderem usá-la como intermédio de vendas, sendo um canal de comercialização. Além disso, no segundo semestre de 2021, o serviço de logística, igual acontece em BH, irá para outras capitais. 
 

Fechamento de restaurantes se refletiram nas vendas


Produtores também se beneficiam do crescimento do e-commerce de orgânicos. Um deles, Eduardo Falci, coordenador da Dei Falci Orgânicos, percebeu que a plataforma resolveu, justamente, o problema de negociar diretamente com os consumidores finais. 
 
“A plataforma ajudou bastante. Muitas vezes o cliente fazia contato com a gente e a demanda era pequena. Não conseguíamos desviar a rota de grandes entregas para atender pequenos pedidos”, conta Eduardo.
 
Apesar da ajuda, a empresa enfrenta uma queda nas vendas, porque 40% delas eram para restaurantes. Com a pandemia, a proibição de funcionamento desses estabelecimentos e a falência de alguns, também se refletiram na Dei Falci, que fornecia algumas hortaliças para o dia-a-dia. 
 
“Com a pandemia, tivemos uma queda muito grande, porque trabalhávamos com restaurantes e supermercados. Sofremos um baque por causa dos estabelecimentos fechados, e a venda para pessoas jurídicas representava cerca 40% do faturamento", diz Eduardo.

Segundo ele, a parceria com a Fazendinha ainda não supriu a falta dos restaurantes, mas têm crescido demais. "Antes da pandemia, entregávamos cerca de cinco pedidos do site, mas, na primeira onda, chegamos a 60 pedidos por dia. Um ano depois, o número se estabilizou e são, em média, 15 por dia, com entregas acontecendo duas vezes na semana”, explica. 

Mas comer orgânicos faz bem?

A resposta é sim. Como mostrado pelo Estado de Minas logo no início da pandemia, em março de 2020, a alimentação saudável se tornou uma importante aliada para manter a imunidade em bons níveis e consequentemente, ajudando no combate à infecção, não só pela COVID-19, mas de tantas outras doenças.

Alimentos orgânicos têm um valor nutricional mais alto, pois são livres de agrotóxicos e outros fertilizantes que podem fazer mal à saúde humana. Segundo a nutricionista Bárbara Carneiro, os agrotóxicos podem impedir a absorção de nutrientes e por isso, ao consumir orgânicos, o corpo aproveita muito mais as vitaminas necessárias.
  
Apesar da boa resposta aos alimentos cultivados dessa forma, a nutricionista reforça que a alimentação é essencial para um bom funcionamento do organismo e contribui para o combate a infecções como a COVID-19, mas não impede que as pessoas sejam infectadas, apenas dá um suporte ao sistema imunológico. 
 
“Uma pessoa com alimentação saudável não vai deixar de pegar o vírus, a diferença é que ela vai ter todo o aporte de nutrientes e vitaminas para ter uma resposta melhor à infecção. O corpo vai estar mais preparado para o combate, já que a alimentação garante uma defesa melhor”, finaliza Bárbara. 
 
*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz