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Estado de Minas ENTREVISTA/LUIZ VERZEGNASSI

"Se a tecnologia é a vilã, qual seria a alternativa?", indaga CEO da GE Healthcare

Otimista, empresa da área de saúde espera crescer a uma taxa de dois dígitos este ano


postado em 02/09/2019 06:00 / atualizado em 02/09/2019 16:13

(foto: GE Healthcare/Divulgação)
(foto: GE Healthcare/Divulgação)

São Paulo – Os investimentos em inovação têm sido importantes na área da saúde. Como resultado, há um ganho para hospitais, com melhorias na sua eficiência, e para os pacientes, que contam com diagnósticos mais precisos. A GE Healthcare tem conseguido avançar no Brasil, principalmente por meio de parcerias. Foi assim, por exemplo, que conseguiu reduzir de 60% para 5% o número de erros de imagem de mamografias feitas na unidade móvel do Hospital de Amor, de Barretos (SP).
 
Cientistas brasileiros conseguiram também desenvolver um aplicativo que, utilizado nos equipamentos de ressonância magnética, reduzem os pequenos movimentos dos pacientes nos exames feitos no cérebro. Iniciativas como essa já renderam à subsidiária brasileira três registros de patentes, conta Luiz Verzegnassi, presidente e CEO da GE Healthcare para a América Latina.
 
Apesar da carência de investimentos no mercado brasileiro, graças principalmente à escassez de recursos no setor público, Verzegnassi conta que a empresa teve bons resultados no primeiro semestre. No entanto, no segundo semestre, o ritmo de crescimento caiu. Apesar disso, a expectativa é crescer a uma taxa de dois dígitos em 2019 e chegar ao melhor resultado 
da companhia.


O que foi feito até agora em relação às reformas, como a da Previdência e a tributária, teve algum impacto no ambiente de negócios?
Vejo com excelentes olhos esse movimento para encarar alguns problemas estruturais do país. Até agora, essas ações têm sido bem-sucedidas, mas é cedo para dizer que vejo frutos ou impactos positivos nos negócios. Diria que está sendo criado um movimento e veremos a economia entrando em um ciclo positivo. Os efeitos do que foi feito até agora aparecerão mais pra frente. Vai ser algo crescente ao longo do tempo.

O que é preciso fazer para o país melhorar?
Essa agenda foi muito bem pensada. Eu não mudaria o atual curso e continuaria a executar as prioridades. Claro que há oportunidades, coisas específicas, que poderiam ajudar no crescimento. Mas é preciso priorizar e executar o que o governo se propôs a fazer.

O mundo está sob ameaça de desaceleração. Isso tem influenciado a performance da GE no Brasil e no mundo?
Não. Há variáveis importantes no mundo, com as duas maiores economias, Estados Unidos e China, em meio a uma disputa comercial. Claro que há impacto em todas as outras economias. A GE tem, no mundo, 60 fábricas para a área de healthcare. Nossa configuração geográfica é muito bem distribuída, o que faz com que haja certo equilíbrio. No caso do Brasil, precisamos ficar atentos a esses movimentos, porque qualquer mudança de tarifa pode refletir aqui, já que impacta nos preços. Além disso, somos afetados pela flutuação do dólar. Um grande volume do que oferecemos no país vem de fora. Hoje, são duas grandes vertentes de negócios, a de hardware e a de serviços. A de serviços tem custo local, mas a de hardware é praticamente toda impactada. Para se ter uma ideia, 75% da receita gerada por healthcare é afetada pelo dólar.

E como conviver com esse problema do câmbio?
Sabemos trabalhar com esse tipo de ambiente junto aos clientes para entender o momento deles. Levamos em consideração, além da adoção de tecnologias, a oferta de soluções financeiras melhores, mostrando que podem ter uma grande vantagem competitiva. Nosso posicionamento é muito claro no mercado, como uma empresa inovadora e com soluções de saúde para melhorar a produtividade do cliente. No dia a dia, auxiliamos os clientes em operações que não necessariamente têm a ver com equipamentos, como a parte de consultoria e de programas digitais.

Qual é a perspectiva para 2019 e 2020?
No segundo semestre do ano passado, vimos um comportamento indefinido por conta da eleição. Já no primeiro semestre deste ano, o reflexo foi inverso. O que estava represado voltou, com clientes retomando os negócios. Mas a partir da segunda metade do ano, estamos vendo um ambiente parecido com o que vimos no fim do ano passado, não só pelo aspecto macro, mas também pelo externo. Agora, estamos em um patamar com viés de queda. O ano ainda vai ser positivo, vamos conseguir crescer. Saúde é o assunto número 1 para qualquer pessoa no país. Além disso, sabemos que há muito espaço para melhorar, principalmente em atenção básica, tanto no setor público quanto no privado.

E em relação a 2020?
Estamos mais conservadores em relação a 2020. Também teremos um crescimento, mas será uma taxa menor do que tínhamos planejado. Estamos vendo todos os movimentos, inclusive global. Para este ano, trabalhamos com um crescimento de dois dígitos, e para 2020 devemos ficar num digito só, em torno de 8%, apesar de a expectativa que tínhamos antes ser de dois dígitos. Em 2019, se os números se confirmarem, vamos conseguir atingir o melhor resultado na história em valores nominais, graças ao comportamento cambial, mas também ao efeito da moeda local.

Qual tem sido o impacto da inovação nos negócios da GE Healthcare? Quais investimentos têm sido feitos nessa área no Brasil?
Somos uma empresa de tecnologia e inovação, investimos mais de US$ 1 bilhão por ano em P&D (pesquisas e desenvolvimento) no mundo. Esses investimentos em massa trazem benefícios ao oferecer tecnologias para melhoria de produtividade. Mas não ficamos parados. No Brasil, há PhDs brasileiros que atuam no desenvolvimento de inovação digital. Um dos exemplos da inovação desenvolvida no Brasil, onde já temos três patentes, é o aplicativo usado na ressonância magnética do cérebro, que corrige qualquer movimento do paciente. Para nós, isso foi um marco, porque foi algo que saiu do Brasil para o mundo.

A GE Healthcare tem desenvolvimento de parcerias locais?
Esse é o principal motor para geração de demanda em inovação, fazer o desenvolvimento com base na cocriação. Por exemplo, como fizemos no Hospital de Amor de Barretos, um centro de referência de tratamento do câncer. Depois de uma reunião, descobrimos que as mamografias feitas na carreta móvel do hospital apresentavam problemas de imagem em 60% dos casos, o que dificultava o diagnóstico e levava à necessidade de repetir o exame. Desenvolvemos um aplicativo no Brasil que, a partir da imagem colocada em nuvem, analisa 14 pontos críticos em um curto espaço de tempo. Se for necessário, o exame é repetido rapidamente. Com o app instalado no aparelho de mamografia, os problemas caíram para 5% do total de exames. Isso significa um diagnóstico mais preciso e mais conforto para a paciente. Atuamos também em um hospital de São Paulo com softwares que ajudam a remodelar o processo de utilização dos centros cirúrgicos para melhorar a eficiência, aumentando o aproveitamento do espaço.

A inteligência artificial (AI, na sigla em inglês) é uma realidade em diferentes setores, por exemplo, no bancário. E na área de saúde, como ela tem sido empregada?
Os dois casos que citei, do Hospital de Amor e do hospital de São Paulo, usam a inteligência artificial para entender o passado e dar diagnósticos sobre o futuro. Mas há muito espaço para avançar. Nos Estados Unidos, temos alguns hospitais que estão adotando centros de comando para administrar pontos críticos em tempo real e, a partir da análise de dados, ajudar na tomada de decisão. O primeiro a adotar nossa tecnologia foi o Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland. Mais recentemente, um hospital na Flórida montou um centro desses que ocupa 1.200 metros quadrados. Esses são alguns exemplos de como nosso software preditivo pode ser usado, com projetos 100% customizáveis.

Em meio a tanta tecnologia, existe o risco de a medicina ser cada vez menos humanizada?
Não podemos fechar os olhos para o fato de os pacientes terem acesso cada vez mais a informações que são levadas para os médicos. Por isso, não acredito em falta de humanização. A medicina vai evoluir, mas sempre terá em mente o bem-estar do paciente e a prevenção. As máquinas têm o papel de ajudar na tomada de decisão, mas sempre haverá a necessidade de ter um médico ao lado da tecnologia para interpretar os dados.

Os planos de saúde costumam alegar, nos pedidos de reajuste à ANS, que a inflação médica é mais alta por conta dos investimentos em tecnologia. Sempre haverá essa pressão da inovação nos custos?
Se a tecnologia é a vilã, qual seria a alternativa? As empresas deveriam desacelerar os investimentos em inovação? A tecnologia ajuda a aumentar a produtividade e a sustentabilidade do sistema. Cada vez mais a indústria vai trazer inovação para um tratamento customizado, com a cara do paciente.

Recentemente, o governo anunciou a redução do imposto de importação para o setor de games. O que o setor de equipamentos hospitalares espera?
Já temos algumas reduções de impostos, principalmente de importação, o que estimula trazer tecnologia mais moderna. No entanto, não temos estímulo para a parte de reposição de peças, por exemplo, que se desgastam com o tempo. Por isso, vejo positivamente iniciativas que possam equilibrar melhor essa balança.



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