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Estado de Minas

"O leilão do 5G deveria ser voltado à cobertura, não para arrecadar", diz Christian Gebara, presidente da Vivo

Para o principal executivo da operadora de telecom, o viés arrecadatório poderá comprometer os investimentos em infraestrutura e prejudicar a qualidade do serviço


postado em 05/08/2019 06:00 / atualizado em 05/08/2019 08:08

(foto: Divulgação/Vivo)
(foto: Divulgação/Vivo)
São Paulo – Christian Gebara assumiu o comando da Vivo em janeiro. O executivo, que já trabalhava na companhia, chegou ao novo cargo em um momento de transição, no qual a empresa está construindo um novo conceito de negócio e pretende deixar para trás a vocação exclusiva de operadora de telecom para se tornar uma companhia de tecnologia ou, como diz o executivo, um hub digital. Para isso, além de buscar impactar assinantes e potenciais clientes por meio das campanhas da TV com a cantora Ivete Sangalo, a Vivo vem buscando ampliar suas vocações com novos negócios e parcerias. Além de oferecer conexão, tanto móvel quanto fixa, a empresa investe em novos serviços à medida que cresce a digitalização, seja no caso do consumo de entretenimento, nos serviços financeiros ou de saúde. Mas a empresa tem outros desafios pela frente, como o leilão da frequência 5G, que pode acontecer em março de 2020, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel. Por enquanto, apenas a Tim e a Oi pediram autorização ao órgão regulador para fazer testes com antenas. Para Gebara, esse esforço não é necessário e a Vivo vem apostando nos ensaios em laboratórios. “Muitas vezes querem dar saltos onde não há necessidade para isso”, avalia o presidente da companhia. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

O leilão da frequência 5G está previsto para março do ano que vem. Já estamos em agosto. Essa data deverá se confirmar?
Estamos preparados para o leilão se ocorrer mesmo em março do ano que vem. O leilão que está programado inclui ainda as frequências de 3,5 GHz e sobras da faixa de 700 MHz. A consulta pública da Anatel não se iniciou. Mas existe um alinhamento de que o leilão do 5G deveria ser mais voltado à obrigação de cobertura, não com o objetivo de arrecadar. No 5G, que necessita de uma concentração maior de antenas, será preciso um investimento maior. Não deveríamos gastar todos os recursos na compra da frequência, mas garantir a cobertura de qualidade. Vamos esperar para ver o que vai ser proposto.

É fato que a pauta arrecadatória ganhou força no atual governo, principalmente por conta da situação das contas públicas. O leilão não pode ser tratado como uma oportunidade para o Ministério da Economia?
Na conversa com o Ministério da Economia, o que se escuta é que a prioridade é a digitalização do país, é fazer um governo muito mais digital. A McKinsey divulgou recentemente um estudo em que mostra como a digitalização é baixa no uso de serviços governamentais. Para ser digitalizado, o grande investimento vem das operadoras, ou seja, estamos falando de quatro grandes grupos que precisam investir. Se o leilão do 5G exigir um valor alto, o que sobrará para investimento será muito menor. Isso é um entendimento de todos, não só do setor, mas de ambos os ministérios (Economia e Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). Se o pleito será 100% aceito, não sabemos. Com exigências de cobertura e valor elevado, será difícil. Melhor trazer mais cobertura, mais serviço e, consequentemente, mais tributos arrecadados.

Duas concorrentes, TIM e Oi, já começaram a fazer seus testes com a frequência 5G. E a Vivo?
Não estamos fazendo nada que seja visível para uso comercial, só testes de laboratório, por enquanto. Acredito que não há necessidade (de testes na rua), porque somos um grupo multinacional e acreditamos que para tudo existe um timming correto. Muitas vezes querem dar saltos onde não há necessidade para isso. Nosso foco é nos consolidarmos onde existe o ecossistema. Estamos confortáveis com a nossa estratégia. Sempre fomos pioneiros.

Qual é a expectativa da companhia sobre a economia brasileira?
Sempre temos otimismo. Claro que gostaria de um desemprego menor e consumo maior, mas estamos acelerando. Chegamos com fibra a 12 novas cidades no segundo trimestre e chegaremos a um total de 30 até o fim do ano. De uma forma geral, temos uma expectativa positiva para a economia. As reformas terão um papel muito importante. Vimos um reflexo disso com a aprovação da reforma da Previdência na Câmara e que agora será encaminhada para o Senado. Essa aprovação terá um papel importante para ajudar no equilíbrio fiscal e no estímulo aos investimentos. Agora, que venham a reforma Tributária e as privatizações. Se, além disso, o câmbio ficar mais estável e as premissas se confirmarem, haverá otimismo quanto à volta do crescimento.

E a partir de agora?
O que esperamos como consequência é que as contratações sejam retomadas, que o desemprego diminua e que voltem a contratar nossos serviços. O que aconteceu na economia até agora sinaliza uma tendência positiva.

No início do ano, havia uma expectativa mais otimista em relação à economia brasileira. No entanto, os dados oficiais continuam ruins. Qual impacto isso vem tendo na companhia?
Com certeza, tivemos um impacto enorme por conta do desemprego, que por sua vez teve impacto muito grande no consumo. Mas considerando que a economia melhore, a conexão passa a ser uma das prioridades. Mesmo com a crise, houve uma evolução no número de pessoas com o 4G. Independentemente do momento atual, a conexão é fundamental para a população. Não tiramos nosso compromisso de investir. Em 2017, foram R$ 8 bilhões, no ano passado, foram R$ 8,2 bilhões, e devemos seguir nesse ritmo em 2019.
A empresa falou que seus investimentos neste ano chegariam a R$ 9 bilhões. Esse número foi revisto?
Esse valor pode ser um pouco menor de R$ 9 bilhões por causa de alguns ganhos de eficiência.

Por exemplo, com o compartilhamento de infraestrutura?
Acabamos de assinar um memorando com a TIM muito em linha com isso. Cada vez mais será necessário compartilhar. Não é só efeito de economia do país, mas tem a ver com a velocidade que desejamos para chegar a mais cidades, além do aspecto da sustentabilidade, já que evitamos que todo mundo construa antenas ao mesmo tempo. Essa é uma tendência mundial.

Por que isso não acontecia antes?
Havia uma questão de concorrência. Mas hoje sabemos que a guerra entre as operadoras não estará na cobertura, mas em poder oferecer mais serviço e um atendimento diferenciado.
As pautas negativas sobre o Brasil na imprensa internacional têm sido frequentes. Isso não deixa a matriz do grupo em estado de atenção?
A Telefônica vem investindo no Brasil desde 1998. A maior aposta do grupo é o Brasil. O país continua com um grande potencial de crescimento. Não olhamos só para 2019. O Brasil conta com certas variáveis, como tamanho, que fazem com que, a partir dos ajustes certos, tenha tudo para continuar crescer. A matriz não tem a menor dúvida quanto a essas perspectivas.

Quem é a Vivo hoje?
Oferecemos conexão, móvel e fixa, e levamos conteúdos digitais para as pessoas, como música, vídeo e educação, também por meio de parcerias. Esse papel de hub digital será cada vez mais forte, por meio da conexão e da força de venda. Somos uma empresa de tecnologia e de varejo, já que contamos com 1,6 mil lojas, entre operações próprias e parcerias exclusivas. Distribuímos desde o aparelho de smartphone ao conteúdo da Netflix e Amazon Prime. O desafio é saber como criar novas fontes de receita por meio dos nossos serviços e identificar as próximas apostas para ampliar a nossa área de atuação.

Como foi identificada essa demanda?
Em um momento de grande transformação na sociedade, a Vivo tem o propósito de expandir a digitalização em um país que ainda tem uma carência em termos de pessoas conectadas. Esse papel vai além de criar infraestrutura e de levar acesso a um maior número de pessoas. É preciso dar uma resposta à necessidade dos consumidores.

Como tem sido a construção dessa nova empresa?
Um dos conceitos é muito focado nas lojas, onde queremos que os clientes encontrem tudo ao buscarem por tecnologia. O cliente não vai na loja apenas para comprar o serviço de pré e pós-pago, mas para vender o aparelho antigo, comprar relógio inteligente e até drones, ou seja, tudo que for relacionado com tecnologia. Não temos 100% do que gostaríamos de ter, mas estamos crescendo.

Em quais áreas?
Hoje existe o relógio conectado, mas vai ter daqui a um tempo a coleira do cachorro e a geladeira conectados. Queremos ser um canal de vendas, assim como já temos feito com os apps de serviços digitais, como o da Amazon Prime. As pessoas já enxergam a Vivo como a única empresa no setor de telecom no Brasil com diferentes serviços dentro de uma mesma marca, de serviços digitais a cloud. Mas há outras coisas que ainda temos de construir. Nossas receitas crescem de forma bem acelerada, mas estamos dedicados à construção da transição de uma empresa de telecom para uma empresa de tecnologia.

Como esse novo conceito funciona internamente?
Internamente, estamos construindo esse conceito de uma maneira mais forte, com a criação da cultura de pensar fora do serviço de telecom. Podemos educar por meio da internet ou utilizar os serviços financeiros. Amanhã será a vez da saúde ter mais internet móvel. Antes, estávamos acostumados a crescer por conta própria, mas talvez esse modelo de telecom esteja chegando ao seu limite.

Como resolver?
Precisamos aumentar o volume de serviços e nos tornarmos referência quando pensarem em soluções. Quando a Amil passa a oferecer consultas virtuais, quero dar essa resposta a ela como parceiro tecnológico para fazer isso acontecer. O bem principal é ter a conexão, mas a gente quer ir além e ter força de vendas, uma marca que endosse muito desse serviço e que possa até ajudar a cobrar por meio da sua fatura, como estamos fazendo com a Netflix, que pode ser cobrada na conta da Vivo. Com isso, conseguimos ter valor.


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