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Olimpíada de Tóquio já é a mais rentável da história; entenda

Jogos Olímpicos de 2020 quebram recorde de venda de ingressos e atraem cerca de 60 patrocinadores, número jamais alcançado. Para o Banco do Japão, até 2030, o evento trará US$ 300 bilhões em retorno para o país


16/07/2019 06:00 - atualizado 16/07/2019 08:22

Tóquio se prepara para oferecer a melhor festa e arrecadar bilhões para o país. Estádio já tem 90% das obras concluídas
Tóquio se prepara para oferecer a melhor festa e arrecadar bilhões para o país. Estádio já tem 90% das obras concluídas (foto: Reprodução )
São Paulo – Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, se depararam nos últimos dias com um problema inesperado. A procura por ingressos para as competições esportivas foi 10 vezes maior do que a quantidade de bilhetes disponíveis. De acordo com o Comitê Tóquio'2020, foram vendidos 3,2 milhões de entradas para residentes no Japão, mas 30 milhões de pessoas acessaram o sistema na tentativa de garantir a presença em alguma das competições do maior evento esportivo do planeta.

A falta de ingressos é um problema inédito na história olímpica. Em Londres'2012, os organizadores distribuíram, na véspera das competições menos requisitadas, milhares de ingressos para parceiros e comitivas internacionais. Na Rio'2106, foi adotada medida parecida, mas nem isso funcionou. Algumas disputas de polo aquático, esgrima e tênis foram realizadas diante de arquibancadas praticamente vazias.

Tudo indica que em Tóquio será diferente. O Comitê Organizador afirma que serão oferecidos 7,8 milhões de ingressos para todos os eventos. O problema é que somente uma parte disso irá para os japoneses, justamente o público que está sedento pelos bilhetes.

Calcula-se que, do total de entradas disponíveis, 25% serão destinadas para patrocinadores, federações internacionais e comitês olímpicos nacionais. Outros 25% deverão ter como destino compradores estrangeiros. Sobra, portanto, apenas metade dos ingressos – o equivalente a 3,9 milhões de lugares – para os japoneses. Em entrevista recente, Masa Takaya, porta-voz do Comitê Organizador, afirmou que a Olimpíada de Tóquio será o evento mais popular de todos os tempos.

Mais popular significa também ser mais rentável. O Comitê Organizador da Olimpíada japonesa espera arrecadar US$ 800 milhões (aproximadamente R$ 3 bilhões) com a vendas de ingressos, um recorde na história olímpica. Nos Jogos do Rio, a arrecadação totalizou R$ 1,2 bilhão e, segundo os organizadores, 94,6% dos bilhetes foram comercializados.

De acordo com a Rio'2016, muitas arquibancadas ficaram vazias porque 11% dos ingressos não foram utilizados para as suas finalidades. Em geral, os bilhetes desperdiçados foram doados por patrocinadores a parceiros, que não se interessaram em ver as competições. Isso explica por que alguns eventos têm ingressos esgotados, mas enormes vazios nas arquibancadas. Foi assim também nos Jogos de Londres'2012.

TORCEDORES Os torcedores japoneses estão preocupados e não querem que isso se repita. Nos últimos dias, um movimento iniciado na internet pede que menos lugares sejam destinados aos patrocinadores ou aos comitês olímpicos nacionais, para que possam ser oferecidos ao público em geral. “É pouco provável, porém, que o Comitê Organizador ceda aos apelos dos torcedores”, diz o consultor especializado em marcas Eduardo Tancinsky. “Mais do que uma competição esportiva, a Olimpíada é um grande painel para a exibição dos patrocinadores, que se fortalecem ao associar a sua imagem à dos maiores atletas do mundo.”

O problema é de difícil solução. Os patrocinadores, afinal, pagam a conta. Até o momento, tanto a Olimpíada quanto a Paralimpíada contam com um total de 64 patrocinadores, número jamais alcançado por nenhum outro evento esportivo. Juntos, eles desembolsaram até agora US$ 3,1 bilhões. É o triplo do recorde anterior, alcançado em Londres'2012, e quase cinco vezes mais do que o valor obtido na Rio'2016. Maior evento esportivo do mundo fora do calendário olímpico, o Super Bowl, a grande final do futebol americano, movimenta meio bilhão de dólares em patrocínios.

O número de 64 apoiadores da Olimpíada chama ainda mais a atenção quando se descobre que ele não inclui os “patrocinadores top” (entre eles, empresas japonesas como Bridgestone, Panasonic e Toyota) e os “parceiros ouro” do Comitê Olímpico Internacional (como Coca-Cola e Visa).

Tóquio'2020 conseguiu seduzir até empresas pouco acostumadas a investir nesse tipo de publicidade. Há alguns dias, o Google anunciou sua entrada no time de patrocinadores dos Jogos, algo que jamais havia feito. O gigante da internet será parceiro oficial na categoria de serviços de informação e navegação baseados na internet.

RECORDE Por que o Google decidiu entrar só agora na Olimpíada? A empresa diz que tem ligações afetivas com o Japão, onde abriu seu primeiro escritório internacional, em 2011. Mas, certamente, a parceria com o evento não se deve apenas a isso. “Tudo indica que os japoneses farão uma Olimpíada espetacular, com tremenda visibilidade, e ninguém quer ficar fora”, afirma o consultor Eduardo Tancinsky.

O recorde de patrocínios vai cobrir boa parte do orçamento operacional dos Jogos, calculado em US$ 5,6 bilhões. O orçamento total, que inclui a construção das arenas esportivas e obras de infraestrutura, é de US$ 12,6 bilhões. Como sempre ocorre nesse tipo de evento, os gastos superaram, de longe, as projeções iniciais. Em 2013, o orçamento da Olimpíada era de US$ 2 bilhões, o que significa que o valor foi ampliado em mais de seis vezes.

Os japoneses esperam obter ganhos expressivos com a Olimpíada. Segundo cálculos do Banco do Japão, a expectativa é de que o retorno do evento chegue a US$ 300 bilhões até 2030. Com o impulso dado pela visibilidade dos Jogos, o país projeta quadruplicar o número de turistas recebidos por ano, dos atuais 15 milhões para 60 milhões.

Autor do livro Circus maximus, sobre os custos de grandes eventos, o economista americano Andrew Zimbalist considera os números exagerados. Segundo ele, Tóquio já é uma cidade conhecida e a exposição gerada pela Olimpíada não compensará os altos custos das obras, que depois se mostrarão inúteis. Nunca é demais lembrar: na Rio'2016, ocorreu exatamente isso.

A exemplo do Rio, Tóquio não ficou livre de acusações de corrupção. Em março, Tsunekazu Takeda, presidente do Comitê Olímpico do Japão, pediu demissão do cargo após sofrer forte pressão da imprensa local. Ele é acusado pela Justiça francesa de pagar 2 milhões de euros para garantir a escolha de Tóquio como sede da Olimpíada. São as mesmas acusações sofridas por Carlos Arthur Nuzman, que presidiu o Comitê Rio'2016.

Os Jogos da inovação


Conhecidos pela paixão pela tecnologia, os japoneses querem levar a inovação para a Olimpíada do ano que vem. Embora os organizadores sejam evasivos a respeito do que estão preparando, a ideia é surpreender os visitantes.

Uma das expectativas é que carros autônomos circulem pelas arenas olímpicas, mostrando ao mundo a revolução que está prestes a transformar a indústria automobilística. Outra novidade poderão ser pequenos equipamentos de tradução que serão usados pelos voluntários para converter idiomas e facilitar a comunicação com os turistas.

Na cerimônia de abertura, além de referências à cultura milenar japonesa, os japoneses planejam assombrar a plateia e as 3 bilhões de pessoas que, espera-se, deverão assistir à festa pela TV. Uma das ideias é fazer uma queima de fogos espacial, a partir de satélites artificiais.




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