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Estado de Minas

Possível aprovação da Anvisa anima a indústria da maconha

Fabricantes de produtos à base da cânabis esperam que autorização do uso medicinal no Brasil abra caminho para a erva com fins recreativos, cosméticos e na alimentação


postado em 21/06/2019 06:00 / atualizado em 21/06/2019 10:05

Fabricantes de produtos à base da cannabis esperam que autorização do uso medicinal no Brasil abra caminho para a erva com fins recreativos, cosméticos e na alimentação(foto: Reprodução/Pixabay)
Fabricantes de produtos à base da cannabis esperam que autorização do uso medicinal no Brasil abra caminho para a erva com fins recreativos, cosméticos e na alimentação (foto: Reprodução/Pixabay)
São Paulo – Na tarde de terça-feira, executivos da multinacional californiana HempMeds, uma das maiores fabricantes da indústria de maconha medicinal do mundo, estiveram reunidos a portas fechadas na sede da subsidiária brasileira, na Zona Sul de São Paulo. Por determinação do CEO global, Stuart Titus, que comanda a holding dona da empresa Medical Marijuana, o objetivo do encontro foi traçar um panorama do setor no mercado brasileiro a partir do sinal verde dado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a produção, uso medicinal e científico dos princípios ativos da controversa planta Cannabis sativa, como o canabidiol (CBD).

“Estamos convictos de que a flexibilização das regras para produção, importação e estudo com a matéria-prima será um imenso progresso para a comunidade científica brasileira”, afirmou executivo da companhia, que pediu para não ser identificado até que as novas regras sobre o tema estejam bem definidas. “Ainda é cedo para determinar os reflexos dessa medida, mas é certo que haverá mais espaço para a desmistificação em torno da planta e a liberalização para outras finalidades.”

A HempMeds não é a única empresa que está empolgada com o horizonte da maconha no mercado nacional. A Kroger, uma gigante varejista de alimentos dos Estados Unidos, está olhando com atenção para o mercado nacional. Ela venderá produtos à base de canabidiol em suas 945 lojas, em 17 estados americanos, e negocia acordo com um distribuidor brasileiro caso a legislação permita também o uso cosmético, como já pleiteado, além do medicinal.

Com a expectativa de afrouxamento das regras, os mesmos produtos oferecidos lá fora poderão ser trazidos ao país, segundo uma fonte da empresa. Entre os itens à base da erva estão cremes, bálsamos e óleos. Em território americano, a Kroger é mais uma na lista de varejistas do país, incluindo Walgreens, CVS, Vitamin Shoppe e GNC, que estão se abastecendo de produtos compostos por cânabis. “Assim como muitos varejistas, estamos começando a oferecer aos nossos clientes uma seleção de produtos tópicos que são infundidos com CBD derivado de cânhamo”, disse o executivo da Kroger.

No Brasil, o potencial da cânnabis é imenso. Pelos cálculos da empresa de dados NewFrontier, em parceria com a start-up brasileira The Green Hub, o país poderia movimentar R$ 4,7 bilhões por ano com a liberação completa, inclusive para uso recreativo. Já no mundo, a indústria legal deve faturar, segundo a consultoria Brightfield Group, US$ 5,7 bilhões (R$ 20 bilhões) em 2019. Até 2022, pode chegar a US$ 22 bilhões (R$ 80 bilhões).

A diretora de pesquisa do grupo, Bethany Gomez, diz que a Web Holdings, maior acionista do setor, cresceu 172% entre 2016 e 2017, com receita estimada de US$ 89 milhões (R$ 330 milhões) no ano passado. “O interesse contínuo do Brasil pela legalização potencial da cânabis medicinal é parte de um fenômeno global, pois dezenas de países começaram a considerar a cânabis como fonte de tratamento médico viável para uma variedade de doenças e condições”, disse a fundadora e CEO da New Frontier Data, Giadha Aguirre de Carcer.

“Dada a vasta área territorial do Brasil, clima e localização geográfica estratégica, o país tem grande potencial de mercado, não só para aplicações médicas domésticas, mas também para expandir sua exportação para países incapazes de cultivar localmente, como Europa e América Latina.” Até mesmo gigantes do mercado de alimentos e bebidas, como a Coca-Cola, não escondem o interesse. A companhia, em nota divulgada nos Estados Unidos, afirmou estar “acompanhando de perto a popularização do CBD não psicoativo como ingrediente em bebidas funcionais no mundo”.

Cultivo Apesar das especulações e desejos das empresas em torno da maconha, por enquanto a planta deverá ser restrita a uso médico no país. “A decisão dessa semana é só o início do debate, mas é muito importante que o tema, sempre tratado como um tabu, seja discutido cientificamente”, afirma Patrick Ferrer, diretor jurídico da Associação Brasileira dos Usuários de Canabidiol (Abuc).
Na avaliação das associações defensoras da cannabis, a nova postura da Anvisa simboliza avanço, mas não é motivo de euforia. O principal problema identificado na medida é que a Anvisa não libera o cultivo individual ou o associativo e privilegia os interesses da indústria farmacêutica e a plantação exclusivamente em lugares fechados.

Estudo recente da consultoria Euromonitor apontou que as vendas legais de cânabis devem turbinar 1.200% nos próximos sete anos, dos atuais de US$ 12 bilhões anuais, em 2018, para US$ 166 bilhões, em 2025. Esse mesmo levantamento listou os 100 maiores mercados consumidores do mundo para identificar quais são as praças em que a maconha tem maior potencial de sucesso. O Brasil, em lista liderada pelo Canadá, ficou na 26ª posição, embora seja um dos maiores mercados consumidores do mundo.

Mais empregos e arrecadação

Para quem acredita que a flexibilização das regras sobre o cultivo, comércio e consumo da maconha provocará colapso social e da saúde pública, a cidade de Denver, capital do estado americano do Colorado, é um exemplo a ser estudado. Entre 2012 e 2018, período em que houve a liberalização total da cânabis, especialmente para fins recreativos, houve queda nos índices de criminalidade e aumento de receitas públicas com taxas e impostos.

“Tivemos o desafio de ser a primeira grande cidade nos Estados Unidos a administrar a marijuana legalizada para recreação, e estamos tendo sucesso na empreitada”, disse o prefeito Michael Hancock, em encontro com a imprensa no começo do ano, ao apresentar relatório sobre a comercialização da maconha na cidade, a primeira dos Estados Unidos a liberar o uso da erva.

Segundo ele, os crimes relacionados à indústria da maconha responderam por 0,21% de toda a atividade criminosa registrada na cidade. Já a arrecadação mais do que dobrou – passou de US$ 21,9 milhões para US$ 44,7 milhões no período. Na semana passada, o departamento de receita do estado anunciou que, desde que as vendas da erva tiveram início, em 2014, foram recolhidos impressionantes US$ 1 bilhão (aproximadamente R$ 3,9 bilhões) em taxas, licenças e outros impostos.

No mesmo período, a indústria local já embolsou US$ 6,5 bilhões em receitas. Até o momento, existem 2,9 mil empresas licenciadas e elas geram pelo menos 40 mil empregos no setor. “Os números do relatório continuam mostrando que a indústria de cânabis está prosperando, mas não podemos descansar sobre os louros”, acrescentou o governador do Colorado, Jared Polis, ao comentar os resultados. No estado, a maior parte das vendas (64%) se deve a prescrições para tratamentos médicos, e a menor (36%) para fins recreativos, com cerca de 1,1 mil estabelecimentos credenciados para vender maconha. (JM)


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