São Paulo - Depois das graves denúncias de corrupção envolvendo alguns de seus executivos, a Petrobras se aproxima cada vez mais de práticas que dão mais transparência ao negócio. O próximo movimento nessa direção deve acontecer nas próximas semanas. Durante apresentação em um evento, João Elek, diretor de governança e conformidade da companhia, informou que a adesão ao Nível 2 da B3 – antiga BM&FBovespa – deve acontecer em 15 ou 20 dias.
De acordo com o executivo, a empresa já seguiu todos os trâmites. Agora, cabe à Bolsa fazer a inclusão no Nível 2. Segundo Elek, apesar de os acionistas preferencialistas não terem, segundo a lei, poder para votar em assembleias da petrolífera, a Petrobras vai permitir que eles se manifestem sobre assuntos societários de maior complexidade e que seus comentários sejam incluídos no edital.
Ao aderir ao Nível 2 de Governança Corporativa da Bolsa paulista a Petrobras se compromete a elevar o nível de transparência e vai aumentar sua independência em relação ao governo, já que dará mais espaço aos acionistas minoritários. Esse é um patamar intermediário de governança da Bolsa paulista – o mais baixo é o Nível 1 e o mais alto é o Novo Mercado, que possibilita a emissão de ações preferenciais, que dão prioridade na distribuição de dividendos aos acionistas.
A chegada da Petrobras ao Nível 2 da B3 era um movimento já esperado, diz Evandro Pontes, professor de Direito do Insper. A decisão está alinhada com a decisão da companhia de adotar práticas mais rigorosas de governança corporativa desde que se viu no meio de graves denúncias de corrupção, apuradas durante investigações da Operação Lava-Jato.
Segundo Pontes, a Petrobras abriu mão de aderir antes ao programa de governança da Bolsa porque usufruía de uma posição confortável em relação ao mercado. “Como uma super-empresa, ela era atrativa por si só e não precisava adotar as práticas de governança para aumentar sua liquidez. Mas hoje, depois de tudo que aconteceu, é possível imaginar que se a companhia tivesse aderido aos Níveis 1 e 2 ou ao Novo Mercado muito provavelmente não estaria em uma situação tão grave como a que vimos”, avalia.
A partir da entrada no Nível 2, lembra o especialista, a empresa terá de ser muito mais transparente e aumentar sua participação aos minoritários, o que deve reduzir bastante a chance de vazamento de informações. Por outro lado, a Petrobras deverá arcar com novos custos. “Mas a máquina como um todo terá um incremento de valor, o que faz o aumento de despesas seja compensador”, diz Pontes.
A decisão da Petrobras pode levar alguns analistas a acreditar que a empresa esteja migrando para uma espécie de “privatização branca”, já que dará mais voz aos acionistas e, consequentemente, estará menos exposta aos mandos e desmandos do governo. Mas o professor do Insper discorda: “É uma diminuição da capacidade de ingerência, não é perda de controle por parte do governo.”
Para Pedro Galdi, da corretora Magliano, a decisão de aderir ao Nível 2 é positiva para a empresa e para os acionistas e faz sentido na atual gestão, conduzida por Pedro Parente, que tem feito um esforço para descolar a companhia da crise vivida nos últimos anos e aumentar rapidamente a incorporação de práticas rígidas de transparência.
Em 2017, os papéis da companhia já se valorizaram 7%, enquanto que o Ibovespa subiu 24%. A diferença é grande, mas Galdi diz que o percentual é bem adequado, ainda mais se for levado em consideração o alto nível de endividamento da Petrobras.
De volta ao jogo
Marcas que a empresa já pode comemorar
- Lucro de R$ 266 milhões no terceiro trimestre
- Expectativa de fechar 2017 com o primeiro lucro anual desde 2013, antes de ser descoberto o esquema de corrupção investigado pela Lava Jato
- O terceiro trimestre foi o quarto consecutivo com resultado positivo